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segunda-feira, 28 DE abril DE 2025

Interiorização das rotas de integração sul-americana: possíveis impactos para o ES

No contexto atual de incertezas geoeconômicas, essas rotas se tornam estratégicas para reduzir custos e tempo no escoamento da produção brasileira

Por Raphael Rodrigues

Em maio de 2023, a reunião entre os presidentes da América do Sul resultou no “Consenso de Brasília”, que destacou a importância da integração regional para enfrentar desafios comuns. Sob a liderança do Ministério do Planejamento e Orçamento, esse entendimento levou à atualização dos 10 Eixos de Integração e Desenvolvimento da IIRSA e do Cosiplan, formulados no início dos anos 2000, e à elaboração do plano intitulado “Rotas de Integração Sul-Americana”. O plano foi estruturado a partir da escuta ativa dos 11 estados fronteiriços e da apresentação de projetos voltados para a melhoria da conectividade com os países vizinhos.

Esse processo identificou diversos projetos de infraestrutura essenciais para a integração regional, resultando na inclusão de 190 projetos no Novo PAC, dentro das denominadas cinco rotas de integração do Brasil com países vizinhos, sendo quatro com acesso ao Oceano Pacífico. No contexto atual de incertezas geoeconômicas, essas rotas se tornam estratégicas para reduzir custos e tempo no escoamento da produção brasileira para o mercado asiático.

Segundo a ministra Simone Tebet, a tendência é que essas iniciativas acelerem neste ano, impulsionadas pela inauguração do Porto de Chancay, no Peru, maior empreendimento chinês fora do país. Para o Espírito Santo, mesmo sem fronteira internacional, há planejamento para a interiorização das rotas, contemplando o estado e outros 12 não fronteiriços. Esse movimento leva em conta as relações comerciais já estabelecidas e potenciais com países sul-americanos e mercados asiáticos emergentes.

Do ponto de vista da balança comercial capixaba em 2024, a América do Sul foi destino de 6,66% das exportações (US$713 milhões) e origem de 14,10% das importações (US$1,9 bilhões), representando 10,86% do fluxo comercial, enquanto a Ásia Emergente respondeu por 12,85% das exportações (US$1,37 bilhões), 39,59% das importações (US$5,49 bilhões), e 27,94% do fluxo comercial (US$6,87 bilhões).

Em ambos os casos, há uma gama de produtos com potencial de exportação para o mercado mundial ou elevada demanda de importação que ainda não possuem a mesma relevância no comércio exterior do estado especialmente com a América do Sul. Em outras palavras, além dos principais produtos já comercializados, há potencial para ampliar o comércio com os países sul-americanos, considerando a possível redução de custos de transação proporcionada pelas novas rotas de integração.

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Além disso, a interiorização das rotas pode acelerar a solução de gargalos logísticos no Espírito Santo, como a duplicação das BRs 101, 262 e 259, a modernização da Ferrovia Centro-Atlântica e da Estrada de Ferro Vitória-Rio, e a ampliação da infraestrutura portuária, promovendo integração multimodal com outros estados brasileiros.
Essas iniciativas criam um ambiente propício para atrair indústrias exportadoras e de energia limpa, além de impulsionar as exportações de produtos consolidados internamente como café, cacau, pimenta-do-reino, rochas ornamentais e derivados de petróleo e gás.

Também favorecem a importação de insumos agrícolas e industriais estratégicos, fortalecendo a cadeia produtiva estadual. A interiorização das rotas pode, ainda, estimular o turismo internacional e regional, consolidando o Espírito Santo como um eixo logístico estratégico para o escoamento de produtos brasileiros e sul-americanos, além de fomentar investimentos e reforçar a competitividade regional.

Raphael Rodrigues é conselheiro do Corecon-ES e Analista do Executivo (SEP-ES)

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