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sábado, 27 abril, 2024

Governo e Mobilidade Urbana: Parceiros na Construção de Cidades Sustentáveis

Nos últimos cinco anos, diversas obras saíram do papel e outras ganharam corpo

Por Robson Maia

Nos últimos cinco anos, o Espírito Santo viveu uma verdadeira transformação quando o assunto é mobilidade urbana. Pauta de extrema importância devido às várias temáticas englobadas, como sustentabilidade, melhoria da qualidade de vida da população e ocupação de espaços, as ações realizadas pelo Governo do Espírito Santo têm definido um norte rumo ao crescimento estadual.

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O recorte recente expõe a evolução – ou revolução – pela qual a mobilidade urbana capixaba tem passado. Com a recente reativação do Aquaviário, por exemplo, o leque de modais do transporte público, um dos principais pontos do tema, se ampliou de forma a contemplar e otimizar ainda mais o deslocamento da população.

Contudo, a grande chave para o desenvolvimento equilibrado do Estado e dos municípios está nas obras estruturantes, com distribuição ao longo do território espírito-santense.

No mesmo escopo, a implementação e recuperação de rodovias ao longo dos 78 municípios são intervenções realizadas com a finalidade de estimular o desenvolvimento econômico das cidades e, consequentemente, desafogar o fluxo de veículos nesses locais.

Um exemplo dos investimentos realizados pela administração estadual foram as obras da Rodovia Muniz Freire x Castelo, na região sul do Espírito Santo, entregues em julho deste ano. No local, foram investidos aproximadamente R$ 124 milhões em serviços ao longo dos quase 33 quilômetros de extensão da rodovia ES-165.

Antiga demanda da população local, sobretudo das comunidades rurais, as intervenções tiveram início ainda em 2019, no início da gestão do governador Renato Casagrande (PSB). Durante a entrega do projeto, o gestor capixaba fez questão de relembrar a importância das ações para o crescimento econômico, social e o desenvolvimento da mobilidade regional.

“É uma felicidade imensa inaugurar uma obra tão sonhada por todos, mas sonhada por mim desde quando comecei minha trajetória política. Tem que mostrar coragem e perseverança, além de ter apoio e parcerias para entregar uma obra como essa. Foi necessário um trabalho complexo de engenharia com a remoção de pedras, mas agora está entregue, sendo mais um passo para o desenvolvimento de todo o sul capixaba”, afirmou o governador.

Grande Vitória: o verdadeiro desafio

De acordo com o último Censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, a população do Espírito Santo é de aproximadamente 3,8 milhões de habitantes. Comparado aos números divulgados em 2010, o crescimento populacional do estado capixaba foi de aproximadamente 9%, representando 318 mil pessoas a mais em relação à década anterior.

Com quase 1,9 milhão de habitantes distribuídos nos sete municípios que a constituem, a Grande Vitória é o principal desafio capixaba no que se diz respeito ao tema mobilidade urbana. Com as dinâmicas sociais cada vez mais integradas, o planejamento metropolitano e a criação de ferramentas de integração eficazes são os grandes gargalos na elaboração de políticas públicas que criem efeitos positivos sobre a vida da população.

Para o Doutor em Arquitetura e Urbanismo e professor do Mestrado em Arquitetura e Cidades da Universidade de Vila Velha (UVV), Giovanilton André Carretta Ferreira, o pensamento de planejamento e mobilidade urbana na Grande Vitória requer uma atenção aos fluxos intermunicipais.

“Quando se fala de uma metrópole, em que você trabalha em um município, mora em outro, estuda em outro, esses deslocamentos e interações são muito fortes. E, dificilmente, cada município vai resolver o seu problema de mobilidade de forma isolada. Então, é muito importante existir uma articulação do estado”, destaca Ferreira.

“As políticas concentradas na Região Metropolitana, no que temos chamado de mobilidade urbana sustentável, têm que priorizar os modos de transporte coletivo, em que a maior parte da população se desloca e que é menos impactante à questão ambiental. Existe também a necessidade de ações que contemplem o pedestre, o ciclista, de modo que permitam a integração social, que todas as pessoas tenham direito de ir e vir na mesma proporção num espaço”, completa o doutor.

Atualmente, o principal modal de transporte que integra a vida na Região Metropolitana é o terrestre, com o Sistema Transcol, operado pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES). O sistema opera como estrutura tronco-alimentadora, interligando os sete municípios da Grande Vitória. As conexões acontecem por meio de dez terminais urbanos, localizados em Cariacica, Serra e Vila Velha.

Segundo a Ceturb-ES, o modal opera com aproximadamente 1,5 mil ônibus nas 379 linhas em funcionamento. Visando ao fortalecimento do modal, o Governo do Espírito Santo anunciou ao longo dos últimos anos investimentos no sistema. Até o fim de 2022, o Sistema Transcol já possuía cerca de 600 veículos 0 km, sendo parte das ações de renovação da frota. Os novos ônibus são equipados com ar-condicionado, wi-fi, sistema In Bus, que permite visualizar a lotação por meio do aplicativo, além de entretenimento a bordo.

“Nos últimos anos investimos na atualização e renovação da frota, modernização do sistema de bilhetagem, ampliação da área de cobertura, integração física e temporal, renovação dos terminais e oferta de tecnologia para acompanhar em tempo real as viagens. Agora queremos dar continuidade ao projeto de priorização do transporte público, porque pode comportar um grande número de pessoas de uma só vez, reduzindo o número de veículos”, destaca o secretário de Estado de Mobilidade Urbana e Infraestrutura, Fábio Damasceno.

Outra ação do Executivo estadual para fortalecer o transporte público foi a reativação do Sistema Aquaviário. Desativado desde a década de 1990, o modal voltou a operar na Região Metropolitana em agosto, após meses de expectativa da população capixaba, com pontos interligando os municípios de Cariacica (Porto de Santana), Vila Velha (Prainha) e Vitória (Praça do Papa).

Diariamente, o Aquaviário opera com quatro embarcações, que realizam 51 viagens nos trajetos Porto de Santana/Praça do Papa e Praça do Papa/Prainha. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Mobilidade Urbana e Infraestrutura (Semobi), somente nos quatro primeiros dias, cerca de oito mil passageiros utilizaram o sistema.

Uma das apostas da pasta é a integração do Aquaviário ao Sistema Transcol. Além da utilização do mesmo modelo de pagamento, com o Cartão GV, as operações são integradas às linhas do Transcol por meio das conexões temporais. Dessa forma, quem inicia uma viagem em uma linha do Transcol e opta por concluir o trajeto com o Aquaviário (ou vice-versa), pagará a tarifa somente no primeiro embarque.

Os pontos escolhidos para o embarque e desembarque de passageiros foram pensados de modo a possibilitar a integração também com as ciclovias nos municípios. Em Vitória, por exemplo, próxima a Estação Prefeito Setembrino Pelissari (Praça do Papa), está a ciclovia da Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, que parte do Centro até o bairro Jardim Camburi, sendo uma das mais longas da capital.

A malha cicloviária da Grande Vitória possui, atualmente, cerca de 218 km, distância que supera, em linha reta, um trecho de deslocamento de Vitória a Cachoeiro de Itapemirim, na região sul do estado. Um dos mais recentes incrementos do modal foi a construção da Ciclovia da Paz Detinha Son, anexa à Ponte Deputado Darcy Castello de Mendonça (Terceira Ponte).

O investimento do Governo do Estado nessa obra foi de aproximadamente R$ 180 milhões para a construção das faixas de cerca de 3,5 km de extensão por sentido e 3 metros de largura. Cada ligação conta ainda com um mirante na altura do vão central, servindo como ponto turístico.

“A construção da Ciclovia da Vida exigiu coragem e determinação política para ser realizada. É uma obra sem igual no Brasil, tendo sido acoplada a uma estrutura viária já pronta. Representa para nós um passo adiante na construção de uma sociedade com mais qualidade de vida. Estou muito feliz por este momento histórico que vivemos no Espírito Santo”, destacou o governador Renato Casagrande (PSB).

Obras estruturantes a todo vapor

Na virada da última década, o Espírito Santo conheceu um “boom” de obras estruturantes em termos de mobilidade urbana. Obras que por anos atrasaram o desenvolvimento do Espírito Santo e representavam um problema no planejamento urbano finalmente saíram do papel e foram entregues à população.

É o caso da Avenida Leitão da Silva, na capital. Com obras de readequação iniciadas ainda em 2014, a via foi entregue após quase seis anos, em dezembro de 2019. Com três quilômetros de extensão, a avenida passou a contar com novo pavimento, três faixas de rolamento em cada sentido, ciclovia em seu eixo central – onde antes havia um canal a céu aberto –, calçada cidadã, além de nova sinalização (semafórica, horizontal e vertical) e sistema de drenagem.

Portão de entrada da capital, o Portal do Príncipe foi outro ponto que ganhou não somente uma nova roupagem, mas também um desafogo em relação ao tráfego intenso de veículos. No complexo viário, foram investidos quase R$ 42 milhões de reais.

A região, que distribui o fluxo de veículos para Cariacica, Vila Velha e Vitória, ganhou a ampliação da Avenida Alexandre Buaiz, que passou a ter seis faixas, novas pistas de concreto, com sistema de drenagem, novas calçadas e ciclovias de integração com outras regiões da capital.

Outro ponto de atenção é o trecho que liga Vitória a Serra e que envolve a distribuição do fluxo de veículos para os respectivos municípios. Somente no Complexo Viário de Carapina, foram investidos cerca de R$ 75 milhões, de acordo com a Semobi.

As intervenções no local contaram com a construção do viaduto “Professora Sandra de Assis Malani”, com duas faixas por sentido e equipado com iluminação, calçada e ciclovia; ampliação da Rodovia das Paneleiras, com três faixas por sentido, serviços de drenagem, paisagismo e iluminação; e, por fim, implementação de quatro faixas de rolamento por sentido, além de um passeio central, no trecho até o viaduto de acesso à Rodovia do Contorno.

Na ligação Vitória-Vila Velha, a Terceira Ponte recebeu ampliação no número de faixas, saltando de duas para três em cada sentido da via. A estimativa do Governo do Estado é de que as obras resultaram numa melhoria de 30% do tráfego na região, com as ações que custaram aos cofres públicos quase R$ 180 milhões.

Outro detalhe crucial na intervenção estadual é de que os corredores adicionais são de uso exclusivo do transporte público, o que para Giovanilton Ferreira é fundamental no sentido de desenvolver o transporte coletivo.

“Se analisarmos as obras na Terceira Ponte, que de fato resultaram em um fluxo melhor de veículos na região, observamos que é uma ação pensada de maneira macro, mas também cuidadosa. O corredor exclusivo para o transporte coletivo é primordial se quisermos que uma cidade diminua a frota de veículos individuais circulando diariamente, como carros e motos”, analisa o doutor.

E o futuro?

Os principais desafios para o futuro da mobilidade capixaba passam pelo desenvolvimento de projetos já em execução. Na Serra, as obras do contorno do Mestre Álvaro ganharam corpo e estão cada vez mais próximas de serem concluídas.

Elaborada em 2008, ainda no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e iniciada em 2016, a intervenção é fruto da parceria entre o Governo Federal e o Governo do Espírito Santo. Orçada em R$ 500 milhões, a obra teve o prazo de conclusão adiado por três vezes. Em 2023, a finalização do projeto foi incluída no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Espírito Santo.

No fim de março deste ano, durante uma visita ao local das obras, o ministro dos Transportes, Renan Filho, cravou: a obra será entregue até novembro de 2023. O trajeto de 19 km de extensão vai conectar os municípios de Cariacica e Serra.

Outro foco do Executivo para os próximos meses são as obras no trecho que liga os municípios de Vila Velha e Cariacica. A Avenida Carlos Lindenberg, em seus 11 km de extensão, terá ações importantes, como a implementação do Corredor Metropolitano Sul, exclusivo para ônibus, entre os terminais do Ibes, em Vila Velha, e Jardim América, em Cariacica, com instalação de estações para passageiros ao longo do trajeto, uma ciclovia e a construção de duas alças na Segunda Ponte.

Para o professor Giovanilton, as obras de grande porte são importantes para o desenvolvimento do Estado; contudo, existem urgências maiores, sobretudo na Região Metropolitana, que merecem atenção prioritária das gestões estaduais e municipais.

“É inegável que essas ações (Portal do Príncipe, Complexo Viário de Carapina, Leitão da Silva etc.) são muito importantes do ponto de vista da macromobilidade metropolitana e é inegável que o Governo do Estado vem fazendo um trabalho importante na Região Metropolitana. Mas é relevante o debate prévio nas decisões”, analisou o doutor.

Giovanilton exemplifica com uma situação relativa ao bairro onde mora, Jardim Camburi: “Está se discutindo um grande mergulhão aqui na entrada, em frente à orla de Camburi. Enquanto se fala em nova obra, não temos ainda a implantação de um corredor exclusivo do transporte coletivo em diversas vias cruciais dos municípios, inclusive na capital mesmo. Então, ficam essas indagações: o que é mais viável? Implantar um corredor de ônibus ou fazer essas obras?”, questionou Ferreira.

O Espírito Santo terá, pelos próximos anos, o desafio de interiorizar o desenvolvimento, além de redistribuir racionalmente a ocupação dos espaços físicos. Com isso, novas políticas de mobilidade urbana serão imperativas para o Executivo estadual. O trabalho conectado entre municípios e Estado permanecerá sendo um ponto fundamental para o desenvolvimento de planos de mobilidade eficazes e, principalmente, capazes de atender aos critérios da sustentabilidade.

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