Infectologista explica as preocupações médicas sobre o H5N1, vírus que causa gripe aviária
Por Rafael Goulart
A Secretaria de Saúde do Espírito Santo tem registrado até a última sexta-feira (21), 140 notificações de suspeita de gripe aviária em humanos. Todos os casos já passaram por exames laboratoriais e deram negativo para a infecção pela influenza aviária.
Foram investigados casos de pessoas que apresentaram sintomas de influenza e tiveram contato com aves doentes ou que circularam no local de foco – onde aves infectadas foram encontradas.
“Existe a possibilidade de transmissão de aves para humanos, mas entre humanos a transmissão não é sustentada”, explicou a médica infectologista Ana Carolina D’Etorres.
Mesmo assim ainda há uma preocupação médica muito grande: “A grande preocupação médica é a capacidade que os vírus da influenza têm de sofrer mutações, podendo se adaptar para superar essa dificuldade de transmissão entre humanos, por isso o risco pandêmico”, concluiu a infectologista.
Além do risco de mutações, a médica destaca que o vírus já causa impactos socioeconômicos significativos: “A preocupação não pode se limitar só com transmissão entre humanos, temos que olhar para outros aspectos, como a perda de animais, ameaça a biodiversidade e o impacto causado na economia e no sustento de muitas famílias”, destacou D’Etorres.
Histórico em humanos
No dia 17 de março, o Espírito Santo registrou o primeiro caso suspeito de infecção por H5N1 entre humanos. O paciente era um segurança que trabalhava no refúgio da Vida Silvestre da Mata Paludosa – Vitória, local em que um trinta-réis-bando foi encontrado, e chegou a ser internado.
Mesmo circulando há décadas pelos ares – de carona em aves que fazem grandes ciclos migratórios – só há cerca de 600 registros de casos confirmados de humanos infectados pelo H5N1 em todo o mundo.
“Os casos em humanos são raros, mas podem acontecer e também podem ser fatais. Felizmente, a transmissão entre humanos, embora possa acontecer, não é sustentada (ou, não é eficiente e não espalha rápido”, explicou de forma didática a médica infectologista Luana Araújo que tem mais de 300 mil seguidores no Instagram (@drluanaaraujo).
O problema, é que mesmo com o baixo poder de contágio, o H5N1 tem alta patogenicidade, ou seja, ele é eficiente em vencer as defesas imunológicas e causar sintomas de intensidade grave. Mais da metade dos infectados não sobreviveu.
“Em humanos, a gripe aviária causa sintomas graves e é potencialmente fatal. Existe a possibilidade de se criar vacina para humanos, mas por hora não aprece necessário devido a transmissão não sustentada”, explicou D’Etorres.
Vacina
O receio das autoridades de saúde é que o H5N1 encontre uma mutação que melhore o mecanismo de contágio em humanos.
“Especialistas do instituto e de outras organizações de saúde brasileiras e mundiais já vislumbram essa possibilidade, pela recente disseminação de influenza aviária mundo afora, sobretudo o subtipo H5N1, que vem dizimando aves e tem uma taxa de letalidade de 50% em humanos”, divulgou o Instituo.
O Instituto Butantan iniciou em janeiro o processo de desenvolvimento de uma possível vacina contra a gripe aviária em humanos, e agora, em maio, já tem o primeiro lote piloto pronto para testes pré-clínicos.