Aumento na oferta de voos e a internacionalização do aeroporto são necessários para inserir o estado como destino internacional
Por Kikina Sessa
Enquanto o Brasil comemora o aumento no número de turistas internacionais visitando o país, o Espírito Santo segue pelejando para conseguir atrair esse ilustre visitante, que representa um tíquete médio de R$ 6 mil durante a estadia, enquanto o do turista doméstico gira em torno de R$ 2.190. Os dados são da Embratur.
O aumento na oferta de voos é apontado como o principal fator para o crescimento do turismo internacional no país neste 2024. Setembro foi mês de recorde de turistas estrangeiros no Brasil, o maior crescimento desde 1989, quando o levantamento começou a ser feito pela Embratur. Em média, a alta foi de 26% em relação a setembro de 2023.
De janeiro a setembro de 2024, chegaram quase cinco milhões de turistas internacionais, dos quais 21.319 visitaram o Espírito Santo – apenas cerca de 0,4% do total.
A maioria proveniente dos Estados Unidos, seguido por Portugal, Reino Unido, Itália e Alemanha, destacando-se os aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte como principais portões de entrada.
Segundo a Embratur, mais de 11 mil dos viajantes internacionais visitaram o Espírito Santo motivados por lazer, aproximadamente 8 mil chegaram para visitar parentes e quase 2 mil vieram em viagens de negócios.
Há possibilidade concreta de o país alcançar um novo recorde de visitantes internacionais, com um total de pelo menos 7 milhões até o final de 2024. Esse aumento no turismo internacional tem impactos diretos na economia e, principalmente, no setor hoteleiro, já que apenas neste ano os estrangeiros deixaram no país R$ 23,7 bilhões.
De acordo com a Embratur, as campanhas de divulgação do Brasil lá fora, as iniciativas do setor privado e a ampliação da malha aérea contribuíram para esse resultado. Foram 14 novas rotas em 2023. E outras 11 neste ano. Nenhuma inclui o Espírito Santo, que ganhou apenas duas novas rotas domésticas, anunciadas recentemente. Vitória/Navegantes (SC), operando a partir de dezembro de 2024, com a Azul, e Vitória/Fortaleza, que começa a operar a partir de janeiro de 2025, com a Latam.
A Zurich Airport Brasil, concessionária do Aeroporto de Vitória, informou, por meio de nota, que a decisão por iniciar uma nova rota é da companhia aérea, que leva em conta uma série de aspectos, entre eles a demanda existente. Quanto à possibilidade de internacionalização do terminal, disse que o aeroporto possui a infraestrutura necessária e cumpre os requisitos regulatórios para uma operação internacional. “Destacamos ainda que trabalhamos para estimular o mercado doméstico, o que contribui para fomentar a demanda internacional”, diz a nota.
Turismóloga e professora do Ifes, Sara Bonin comenta que para o estado se destacar internacionalmente, inicialmente tem de haver um destaque nacional, ser reconhecido também pelo turista doméstico.
“O Espírito Santo já é organizado em regiões turísticas e tem produtos turísticos bem formatados, que valorizam a cultura local, a gastronomia e a história. Então, os atrativos eu acredito que o Estado já tenha. Talvez o que possa ser melhorado seja a divulgação, a promoção, o marketing e mais parcerias entre as regiões turísticas para serem divulgadas em conjunto. A aproximação do governo estadual com o governo federal, que tem um escritório específico para promoção internacional dos destinos turísticos, que é a Embratur, é fundamental”, disse a professora.
A falta de um aeroporto internacional causa um prejuízo indireto, destaca Sara, porque se houvesse voos internacionais diretos facilitaria a entrada desses turistas no Estado. “Não só o fato de ter voos internacionais, mas a melhora da malha aérea nacional para Vitória fortaleceria o turismo. Se houvesse mais voos diretos facilitaria a vinda de outros turistas, além dos vizinhos regionais”.
Inverno com mais turistas
O turismo capixaba esquentou no inverno. No mês de agosto foi registrado o segundo maior volume de atividades em 2024 no Espírito Santo, ficando atrás apenas de julho. Nos meses tipicamente de inverno (junho, julho e agosto), o volume de atividades turísticas no Estado foi 12,2% superior ao observado nos meses de verão (janeiro, fevereiro e março). Isso revela a importância do período para o segmento capixaba.
As análises são do Connect Fecomércio-ES (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo), com base nos dados do Índice de Atividades Turísticas (Iatur), pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para a coordenadora de pesquisa do Observatório do Comércio, o Connect Fecomércio-ES, Ana Carolina Júlio, o comportamento dos preços dos produtos turísticos contribui para a melhora no desempenho do segmento em 2024. Em agosto, com exceção dos pacotes de passeios e viagens, os custos dos principais produtos turísticos na Grande Vitória sofreram reduções ou cresceram menos que a média nacional.
“Considerando o acumulado até agosto, observou-se queda nos valores das passagens de ônibus interestaduais (-2,69%), das passagens aéreas (-45%) e dos pacotes turísticos (-13,21%). Além disso, os custos com alimentação fora do domicílio, que contempla bares e restaurantes, apresentou crescimento menor (2,72%) do que o registrado no Brasil como um todo (3,11%). Neste ano, o aumento nos níveis gerais de preços na Região Metropolitana (2,54%) é menor do que a média nacional (2,85%)”, pontou Ana Carolina Júlio.
Ela destacou ainda que, durante o período de inverno, o foco dos visitantes passa a ser turismo de aventura, montanha e passeios ecológicos, além de atividades que buscam maior contato com a gastronomia e a cultura do estado, principalmente por meio de eventos e festivais, como a Festa do Imigrante Italiano, que ocorreu em Santa Teresa no mês de junho.
“O turismo de inverno pode ser tratado como um diferencial do Espírito Santo. Historicamente, o volume de atividades turísticas no estado é maior no segundo semestre em comparação com o primeiro. Esse comportamento e a melhora do desempenho do setor ao longo do ano, juntamente com a queda nos níveis de preços das passagens aéreas e de ônibus interestaduais geram boas expectativas para o segmento nos próximos meses”, declarou a coordenadora.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 224, de novembro de 2024. Leia a edição completa de Turismo aqui.