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sexta-feira, 26 abril, 2024

Especial: como se dividem as classes sociais no Espírito Santo

Especial: como se dividem as classes sociais no Espírito Santo

Conheça as principais metodologias utilizadas para dividir a população brasileira em classes sociais

 

* por Nadia Baptista

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Esse agrupamento é utilizado por estudiosos, que analisam a dinâmica econômica e social de um país, percebendo as mudanças por que a população passa e como elas influenciam no seu comportamento. Ao mesmo tempo, separar a população em classes ou estratos é fundamental para o direcionamento de ações de marketing e também para a realização de pesquisas de opinião, principalmente quando se trata de hábitos de consumo.

Os critérios para definir-se um grupo social como classe até hoje são motivos de divergência entre os diversos estudiosos do assunto. De modo geral, nessa caracterização privilegiam-se fatores socioeconômicos tais como riqueza, apropriação dos meios de produção, posição diante do sistema de produção, profissão, nível de consumo e origem dos rendimentos. Considera-se, ainda, que os membros de uma classe social, além de terem no conjunto os mesmos interesses, tendem a compartilhar valores semelhantes.

Um dos pioneiros na utilização do conceito de classe social foi Karl Marx. Para ele, o que caracteriza uma classe social é sua posição na produção e em relação à propriedade. No capitalismo, ele identificou duas classes sociais principais: burguesia – classe formada pelos donos dos meios de produção (fábricas, fazenda etc.) – e proletariado, grupo constituído pelos trabalhadores assalariados, sobretudo da indústria e do setor de transporte.

Entretanto, historicamente, existiram diferentes conceituações de classe e estrato social, que trazem à luz uma série de significados que muitas vezes não são contemplados na operacionalização da classe social. Na prática, esse conceito acaba sendo reduzido à ideia de “classe econômica”, que significa, em larga medida, poder aquisitivo ou poder de consumo.

Atualmente, nas pesquisas de mercado, as classes são identificadas por fazerem parte de certas faixas construídas a partir dos níveis de renda e de consumo dos indivíduos (temos, assim, as classes A, B, C, D, etc).

O professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), André Michelato, explica como funcionam os diferentes tipos de estratificação utilizados no Brasil. “No Brasil não há um consenso sobre a estratificação social. Temos diferentes formatos que são bastante utilizados. O que se assemelha entre eles é o fato de considerarem o que se recebe em renda. Esse poderia ser o critério principal. No entanto, os valores de renda por classe variam de acordo com o critério adotado”, afirma. Além disso, como lembra André, mudou também o perfil do consumidor, que não está mais somente associado à renda. “A renda não é uniforme. Antes tínhamos somente o perfil de renda, que representa a capacidade de ganhar dinheiro. Hoje, porém, temos também o perfil de consumidor, que é variável. Posso consumir mais que ganho, porque eu acesso o crédito. Ou posso consumir menos, porque faço uma poupança. As estratificações também levam em conta esses fatores”, esclarece.

Segundo o professor, considerar o perfil de consumo ajuda a pensar políticas públicas. “Levar em conta que além do perfil de renda existe também um de consumo faz uma diferença bastante significativa para pensar políticas públicas e o tipo de sociedade que estamos formando”, destaca.

“Se uma pessoa tem um alto nível de renda não significa que tenha de consumo. Além disso, é preciso observar-se o tipo do que se consome. Itens como plano de saúde, educação, saneamento e bens de consumo se tornaram essenciais para a qualidade de vida moderna. Por isso, também devem ser considerados quando compomos a ideia de classe social”, complementa Michelato.

Critério Brasil
O doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Eduardo de Rezende Francisco, explica em sua tese de doutorado que, até 1970, não havia no Brasil um critério único, objetivo e geral de classificação socioeconômica de consumidores. “À medida que algumas empresas passaram a adotar práticas de marketing, principalmente a segmentação de mercado, surgiu a necessidade de um critério que facilitasse esse processo e que permitisse a realização de pesquisas e programação de mídia visando, especificamente, a determinados estratos do mercado. Isso atendia de imediato suas necessidades, mas impedia o intercâmbio e a comunicação de seus achados”, esclarece.

Ainda de acordo com Francisco, em 1970 a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) estabeleceu o primeiro critério padronizado de classificação socioeconômica no Brasil, que foi denominado de Critério ABA, baseado no cômputo de pontos calculados a partir da posse de itens, e com base na premissa da existência de quatro classes socioeconômicas, rotuladas de A a D.

De 1974 a 1976, o critério passou por adaptações, em que cada classe original foi subdividida em duas. Em 1982, a ABA e a Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado (Abipeme) elaboraram e aprovaram um novo modelo, que passou a ser conhecido como Critério ABA-ABIPEME, composto de cinco classes: A, B, C, D e E, respectivamente descritas como classe alta, classe média, classe média baixa, classe pobre e classe muito pobre.

A metodologia, no geral, tem como princípio básico descobrir itens de conforto que tenham uma forte correlação com a renda familiar. Uma vez descobertos quais são esses itens discriminadores da renda, procura-se estabelecer um sistema de pontuação (ou pesos) que, atribuídos à posse desses itens (e, às vezes, ao número de itens possuídos), vão permitir saber qual é a pontuação total desse indivíduo ou família. Um sistema de cortes na escala de pontuação passa a permitir que se classifique cada indivíduo ou família pesquisada em um estrato social.

Após várias tentativas, com diferentes metodologias, foi criado em 1996 o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), ou simplesmente Critério Brasil, que é utilizado até os dias atuais. Em 2004, foi fundada a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), que mantém e torna públicas as regras de operacionalização do Critério Brasil desde então, com pequenas atualizações de itens domésticos de acordo com a evolução da tecnologia e sua incorporação na vida cotidiana.

Ao invés de pretender classificar a população em termos de classes sociais, o Critério Brasil divide o mercado em classes econômicas. As classes definidas pelo CCEB são A1, A2, B1, B2, C, D e E. Esse critério foi construído para definir grandes classes que atendam às necessidades de segmentação (por poder aquisitivo) da grande maioria das empresas. Contudo, assim como qualquer outro critério, não é abrangente a todas as circunstâncias.

Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza uma outra metodologia para estratificar a população brasileira, trabalhando apenas com a classificação por faixa de rendimento e seu equivalente em salário mínimos. Assim, pertencem à classe E os brasileiros que ganham até dois salários mínimos. Já a classe D é composta por aqueles com renda familiar entre dois e quatro salários mínimos. A classe C é representada pelos brasileiros com renda entre quatro e dez salários mínimos, e a B, entre dez e 20 salários mínimos. Quem possui renda acima de 20 salários mínimos, para o instituto, pertence à classe A.

Nova classe média
Conhecer melhor a divisão das classes sociais permite, também, entender a dinâmica da sociedade brasileira, principalmente o fenômeno do aumento de renda registrado na última década.

Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da FGV, a partir de microdados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que entre 2003 e 2009 cerca de 29 milhões de brasileiros passaram a fazer parte da chamada “Classe Média” (também conhecida como classe C).

Para definir quem faz parte da Classe Média, os pesquisadores do CPS consideraram como classe C a “classe central, abaixo da A e B e acima da D e E”. Em suas definições a fim de quantificar as faixas econômicas, foi calculada a renda domiciliar per capita do trabalho, posteriormente expressada em termos equivalentes de renda domiciliar total de todas as fontes. Desse modo, o estudo, realizado em 2010, considera que a faixa C central está compreendida entre a renda familiar de R$ 1064 e R$ 4561.

A análise mostra que, na época de crise, a classe C cresceu mais em termos proporcionais do que as demais classes, chegando em 2009 a 94,9 milhões de brasileiros — o correspondente a mais da metade da população do Brasil à época da pesquisa.

Outro dado importante é revelado pelo estudo: a classe C é, também, a classe
dominante do ponto de vista econômico, concentrando 46,24% do poder de
compra dos brasileiros em 2009, enquanto as classes AB possuem 44,12% do total de poder de compra.

Pesquisas de opinião
O diretor da Merccato Inteligência Competitiva, Eurípedes Pedrinha, explica como a divisão das classes sociais é utilizada nas pesquisas de opinião. “A divisão em classes sociais é uma variável explicativa, que ajuda a entender quem é o respondente da pesquisa”, afirma.

Entender quem são e o que consomem as classes A e B do Espírito Santo é o objetivo da pesquisa Top Marcas. Publicada pela revista ES Brasil há quatro anos consecutivos, trata-se de um bom exemplo de pesquisa que leva em conta a renda para determinar a amostra. A metodologia consiste em ouvir as classes A e B do Espírito Santo para saber quais são as marcas mais lembradas pelos capixabas com maior poder de compra. “A pesquisa Top Marcas ouve moradores da Grande Vitória com renda superior a dez salários mínimos. Falamos com os 30% superiores da pirâmide de renda capixaba”, destaca Pedrinha. A quinta edição da Top Marcas será publicada na edição de maio de ES Brasil, com resultados inéditos que mostram as marcas mais lembradas no Espírito Santo.

Na Top Marcas, assim como em qualquer pesquisa de opinião, é necessário conhecer a divisão de classes sociais antes de interpretar os resultados. O diretor da Merccato destaca a importância de entender como as classes sociais foram estratificadas, estar ciente da metodologia utilizada. “Só entendendo corretamente a divisão poderemos fazer julgamentos verdadeiros sobre os resultados. Antes de avaliar os resultados, é imprescindível conhecer o critério utilizado para determinar as faixas de classes sociais”, conclui Eurípedes Pedrinha.

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