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sexta-feira, 3 maio, 2024

Economia: a inflação está de volta?

Economia: a inflação está de volta?

Brasileiros já começam a sentir os efeitos do aumento da inflação, que deve fechar 2013 muito próxima ao limite da meta prevista pelo Governo Federal

*por Nadia Baptista

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Se você tem por hábito fazer compras no supermercado, por exemplo, já deve ter percebido que seu salário está valendo muito menos na hora de passar os produtos no caixa, pois eles estão cada vez mais caros. Esse aumento generalizado nos preços dos itens de consumo que fazem parte do nosso dia a dia é um dos efeitos da inflação, que está, aos poucos, retirando o poder de compra dos brasileiros. A previsão do Governo Federal para 2013 é de que a inflação feche o ano em cerca de 4,5%, com uma margem de erro de até dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Ou seja, o Governo estima que a inflação neste ano chegue a, no máximo, 6,5%. Porém, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que funciona como indicador oficial da inflação no Brasil, mostra que, somente até o mês de agosto, a inflação acumulada no país já chega a 3,43%.

Na prática, isso significa que o salário médio do trabalhador brasileiro, que é de R$ 1.792,61, em agosto de 2013 valeu apenas R$ 1731,12. E a tendência é de que a situação se complique mais ainda, pois especialistas do mercado financeiro preveem que a inflação feche o ano em cerca de 5,8%, o que retiraria aproximadamente R$ 103,97 do poder de compra dos brasileiros. Num período de apenas quatro anos, essa inflação de 6% pode diminuir o poder de compra em mais de 26%.

O IPCA acumulado dos últimos 12 meses, de acordo com o IBGE, é de 6,09%, valor muito próximo ao teto da meta estipulada pelo Governo Federal. A situação não é tão grave quanto no período em que os brasileiros mais sofreram os efeitos da inflação, nas décadas de 1980 e 1990 quando, em um de seus momentos mais críticos, como por exemplo o mês de abril de 1990, o IPCA chegou a 6821,31% (no acumulado de 12 meses). Contudo, é preciso cautela, pois a inflação vem acompanhada de outras variáveis prejudiciais à economia.

O economista e professor da Fucape Business School, Cristiano Costa, acredita que a inflação deve fechar 2013 em um patamar próximo ao registrado no ano passado. “Nos últimos meses, a queda do poder de compra foi grande, principalmente no início do ano. A inflação de 2013 deve ficar no mesmo patamar de 2012, talvez um pouco abaixo. Não diria que ela está voltando a ser um complicador como no passado, quando havia de fato uma hiperinflação. Mas, a manutenção de variações tão elevadas (acima de 5% a.a.) é preocupante. Principalmente se for acompanhada de baixo crescimento econômico”, explica.

O diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), Antonio Fernando Doria Porto, concorda que o contexto é preocupante, pelo fato de a inflação vir acompanhada de uma outra variável muito agravante: o baixo crescimento da economia brasileira. “De um lado, há um crescimento muito baixo da economia, com uma produção industrial muito baixa; de outro, a inflação aumentando; e temos ainda numa terceira via o aumento da taxa de juros, que segura a inflação, mas influencia negativamente no crescimento da economia, porque as pessoas passam a comprar menos. Não se pode analisar isoladamente a questão da inflação, é preciso pensar também tudo que está em seu entorno”, destaca.

Segundo os especialistas, a inflação nos próximos meses deve mesmo continuar elevada, em torno de 5,5% a 6%. Contrapondo-se isso a uma realidade em que o crescimento da economia brasileira deve chegar a 2%, é possível ter uma dimensão do cenário que vivenciamos, em que o peso da inflação, percentualmente falando, equivale a quase o triplo do crescimento da economia do país. “Nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo, o crescimento do produto interno bruto (PIB) também está em torno de 2,5%, mas a inflação é de cerca de 2%. O nível ideal de crescimento da inflação no Brasil seria entre 2% e 3%, acompanhando o crescimento do PIB”, reitera Doria Porto.

Segundo o professor Cristiano Costa, em 2012 a renda per capita no Brasil ficou praticamente estagnada, pois o crescimento da economia brasileira foi de menos de 1%, enquanto a população brasileira cresce a uma taxa de aproximadamente 0,9% ao ano. “Em 2013, além de crescermos pouco em termos de renda per capita, teremos provavelmente uma queda da renda per capita em dólares. Ou seja, em termos de poder de compra, o Brasil perderá ainda mais em termos internacionais”, elucida o economista Cristiano Costa.

A valorização do dólar, outra variável que influencia no atual contexto econômico brasileiro, também está afetando os níveis de inflação. O resultado do IPCA relativo a agosto registrou alta de 0,24%, o que, segundo o economista Clóvis Vieira, revela sinais mais claros dos efeitos do câmbio contaminado os preços.

Na medida em que a moeda norte-americana se valoriza, os produtos importados ficam mais caros, diminuindo a concorrência com os nacionais. Por outro lado, a valorização da moeda norte-americana tem também outro efeito direto: há crescimentos nos preços de produtos dos componentes importados em produtos fabricados no Brasil, o que eleva custos das empresas e diminui a concorrência, levando ao aumento de preço dos produtos finais. “Quando você valoriza o dólar, é bom para quem exporta, mas gera uma tendência de aumentar a inflação no país, porque os produtos que dependem de matéria prima importada, como é o caso do trigo, utilizado para fabricar pães e massas que fazem parte da mesa dos brasileiros, aumentam”, explica Doria Porto.

Com o intuito de tentar conter o avanço da inflação, o Governo Federal vem implementando algumas medidas como o congelamento do preço dos combustíveis, a desoneração de impostos e a redução da tarifa de energia elétrica. Embora pareçam eficazes a curto prazo, essas medidas possuem resultados passageiros, e seus efetivos impactos poderão ser sentidos pelo Brasil muito em breve. “Essas medidas apenas postergam a elevação de preços. Isso é claro no caso dos combustíveis, por exemplo. A política de congelamento dos preços tem levado a Petrobras a reduzir suas receitas, diminuindo investimentos que poderiam ser importantíssimos para o futuro do país. No caso da energia elétrica, criou-se, sobretudo, um ambiente de incerteza sobre as regras do setor, o que pode trazer grandes prejuízos neste setor num futuro próximo”, declara Cristiano Costa.

O aumento dos preços da gasolina pode influenciar rapidamente no crescimento da inflação, como explica Clóvis Vieira. “Por ora, não há motivos para alterar a projeção de inflação de 5,8% para este ano, mas alertamos que há um viés para cima pelo provável anúncio de um reajuste da gasolina. Embora não confirmado pelo governo, com sinalização de que será menor que um dígito, isso poderia somar até 0,3% ao IPCA em 2013, indicando que a tentativa de segurar os preços administrados pode ser perigosa”, destaca o economista.

Vilões da inflação
É nos alimentos que os brasileiros mais sentem o peso da inflação em seu dia a dia. “O item Alimentos saiu de uma queda de 0,33% em julho para uma estabilidade em 0,01% em agosto, sendo um dos que já sentem a alta do dólar, por causa da importação da ração animal, assim como o trigo e seus derivados, como o pão francês (1,56%), farinha (2,68%) e cerveja (2,63%)”, explica Clóvis Vieira.

Entretanto, como assegura Cristiano Costa, a inflação vivenciada no país hoje se expande a diversos outros produtos. “O problema da inflação recente é que ela é muito difusa. Ou seja, muitos produtos estão subindo de preço, não é só a batata ou o tomate. Apesar de os alimentos serem responsáveis por grande parte da inflação atual, não são só eles que influenciam na conta da inflação. Cerca de 75% do IPCA é proveniente dos preços livres, já os outros 25% vêm de preços administrados. A inflação só está na casa dos 6% porque o governo segurou os administrados (como combustíveis, energia, tarifas de ônibus, etc.). Mas os preços livres estão subindo mais de 7% ao ano”, alerta.

Com o aumentos dos preços livres, a saída para muitas famílias já passa por retirar da lista de compras itens que não pertencem ao grupo de primeira necessidade. “Sem dúvida os mais afetados pelo aumento da inflação são os setores ligados ao consumo de bens de segunda necessidade, e muitos serviços também. Um exemplo são os produtos de higiene pessoal ou viagens. Quando os preços sobem, as famílias acabam postergando a compra de produtos que não são extremamente fundamentais”, destaca Cristiano Costa.

Para os capixabas, a inflação tem significado diminuição do poder de compra, mas não é possível determinar se seu impacto no Espírito Santo é diferente de outros estados brasileiros, como acredita o professor. “Os capixabas não são diferentes do resto da população brasileira. Todos perdem poder de compra da mesma forma. O que pode variar bastante é o impacto da inflação sobre um ou outro grupo de produto. Por exemplo, o capixaba come mais peixe que o gaúcho, que come mais carnes. Isso pode fazer diferença em uma família específica”, afirma Costa.

Indústria e desenvolvimento
Se por um lado os capixabas são influenciados pela inflação de maneira semelhante ao restante do país, por outro possuem uma vantagem: em 2012, o salário médio no Estado cresceu bastante, o que ameniza uma parte dos impactos da inflação, na comparação com os outros estados. Porém, essa vantagem se converte em uma complicação para o crescimento industrial no Espírito Santo. “Os capixabas estão sendo, de certa forma, menos afetados pela inflação, pois o aumento real médio do salario médio no Espírito Santo no ano passado foi muito acima da inflação. Isso é um dos pontos que está inibindo a produtividade da indústria capixaba, porque o custo do trabalho está muito alto. A indústria é o setor da economia mais afetado pela inflação. O aumento salarial real foi muito grande, o custo de trabalho na indústria capixaba cresceu cerca de 9,3% até julho de 2013 em relação ao mesmo período de 2012”, comenta Doria Porto.

Por esse motivo, o diretor-executivo do Ideies aponta o aumento da produtividade e da competitividade da indústria como uma saída para conter o avanço da inflação. “Um dos caminhos para diminuir a inflação no Brasil seria, primeiramente, ter produtos mais baratos no mercado, o que só pode acontecer se aumentarmos a produtividade e a competitividade da indústria brasileira. Para isso, entretanto, é preciso resolver a questão cambial, acabando com a volatilidade do dólar, que está influenciando no preço das matérias primas e, consequentemente, nos custos das indústrias. Ao mesmo tempo, a indecisão em relação também à taxa de juros inibe a indústria de fazer investimentos. A indústria está investindo pouco, porque está sem um norte muito claro. Não investindo, o empresário não melhora a produtividade de sua indústria, e não melhorando a produtividade, não consegue colocar produtos mais baratos no mercado e diminuir a inflação”, sugere Doria.

Para Clóvis Vieira, o foco, neste momento, deve estar no resgate da confiança dos agentes no regime de metas de inflação. “Isso significa que a trégua da inflação é passageira e o Banco Central continuará implementando sua política monetária mais restritiva, elevando a Selic a 9,75% ao final do ano, mesmo com a fragilidade da recuperação econômica”, explica.

 


Entenda a inflação

 

Em economia, inflação é a queda do valor de mercado ou poder de compra do dinheiro. Porém, é popularmente usada para se referir ao aumento geral dos preços.

Embora muitas pessoas acreditem que a inflação “zero” trata-se de algo positivo, não é aconselhável que ela aconteça, pois pode significar a ocorrência de uma estagnação da economia, momento em que a renda e, consequentemente, a demanda, estão muito baixas, gerando alto desemprego e crise.

A inflação é medida através de uma cesta de consumo média da população. Os índices de preços ao consumidor calculam a variação dos preços de bens e serviços entre dois períodos, ponderados pela participação dos gastos com cada bem no consumo total.

O mais importante índice no Brasil é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, que apura a variação de preços nos bens consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos, em nove regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), no Distrito Federal e no município de Goiânia.


 

IPCA em 2013

Período

Taxa

Agosto de 2013

0,24%

Julho de 2013

0,03%

Junho de 2013

0,41%

No ano 2013

3,43%

Acumulado nos 12 meses

6,09%

Fonte: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

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