Encurralado, senador capixaba chegou a sede da PF em Brasília para depoimento
Por Redação
O senador capixaba Marcos do Val (Podemos-ES) compareceu, por volta das 13h desta quarta-feira (19), à sede da Polícia Federal (PF) , em Brasília, para prestar depoimento sobre o suposto plano para gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
De acordo com Do Val, em dezembro de 2022, ele teria se reunido com o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada, para discutir um plano contra Alexandre de Moraes. O parlamentar afirmou que o intuito era descobrir possíveis irregularidades nas atuações de Moraes.
Desde o início de junho, a PF apura se teria sido arquitetado um plano para tentar anular a eleição presidencial de 2022 que levou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência pela 3ª vez.
Em depoimento na última semana, Bolsonaro confirmou que recebeu Silveira e Marcos do Val no Palácio da Alvorada, no período mencionado pelo senador capixaba. O ex-presidente, contudo, negou qualquer discussão com objetivo de prejudicar Alexandre de Moraes.
Entenda o caso
O senador capixaba tem sido alvo de investigação pelos órgãos de inteligência desde fevereiro, quando o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura de um inquérito para apurara afirmação de Do Val de que o ex-presidente Jair Bolsonaro arquitetou um golpe de Estado para impedir a posse do Lula. Após as acusações, Do Val recuou e chegou a afirmar que a iniciativa teria partido de Daniel Silveira.
Diante de um cenário de pressão interna e externa, Do Val sofreu uma “nova derrota” quando a Polícia Federal realizou buscas em diversos endereços relacionados ao senador capixaba Marcos do Val (Podemos-ES), incluindo o seu gabinete no Congresso Nacional, em Brasília. Os mandados foram cumpridos na capital federal e no Espírito Santo.
As redes sociais do senador Marcos do Val também foram bloqueadas por determinação de Moraes. O perfil no Twitter, por onde o senador costuma se comunicar com seus eleitores, já aparece como indisponível. No Instagram e Facebook, as páginas do senador encontram-se indisponíveis.
No início do mês, a PF apresentou um relatório com as mensagens encontradas no celular apreendido do senador. O documento constatou que o parlamentar compartilhou informações sobre a trama de golpe de Estado por meio de dois grupos de WhatsApp: o “Chefias” e o “Amigas para a eternidade”.
As conversas com o grupo “Chefias”, composto por 2 assessores de seu gabinete, foram curtas. Nos diálogos, Do Val antecipou os diálogos com Daniel Silveira e descreveu o plano como uma “missão que entrará para a história do Brasil/mundo”.
No entanto, foi no grupo “Amigas para eternidade” (nome fictício, conforme apurou a investigação) que o senador se expressou de maneira mais aberta. Em textos e áudios cheios, outros participantes chegaram a comemorar a possibilidade do golpe: “Eu tô vibrando, vibrando, mas já vou apagar a mensagem!”, disse uma das “amigas”.
Na última semana, Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre o caso. O ex-presidente demonstrou mais um distanciamento de Do Val ao exibir para a imprensa presente no local uma captura de tela em que mostra a resposta dada às proposições do senador. Após a sugestão de manobra antidemocrática, Bolsonaro respondeu a Do Val “coisa de louco”, insinuando discordância das propostas do capixaba.
Para o analista político Darlan Campos, Do Val traçou de maneira equivocada sua estratégia política em oposição ao governo Lula. Campos ainda cita os possíveis impactos para a sequência do mandato do senador.
“O senador Marcos Do Val, especialmente após a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula, impetrou com uma estratégia de mandato de construir uma imagem de enfrentamento, tanto com o Governo Federal e também com a Suprema Corte. E essa estratégia tem se mostrado politicamente onerosa para ele” apontou o analista político.
“É importante a gente avaliar que o “enfrentamento” com o poder constituído é feito por meio de denúncias, que às vezes chegam até no campo da calúnia e da difamação. Até o presente momento, (o senador) não sustentou, em grande parte, as denúncias feitas. Acho que houve um erro de cálculo político, até quando e onde ele conseguiria ir”, complementou Darlan.