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sábado, 20 abril, 2024

Distantes, mas não separados

Distantes, mas não separados

A solidão é causada pela ausência de comunicação e não apenas por ter que ficar em casa

Por Gustavo Genelhu

Na linha de frente do grupo de risco para o novo coronavírus, os idosos se depararam, de um momento para outro, com a urgente necessidade de se isolarem a todo custo para evitar a infecção pela Covid-19, doença que pode ser fatal, principalmente na terceira idade.

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O alto risco deu lugar a muitas preocupações e o isolamento tão necessário acabou gerando realidades que, até bem pouco tempo atrás, a maioria nem sequer imaginava viver. O distanciamento social acabou indo na contramão da inclusão dos idosos, já que a geriatria, principalmente nas últimas décadas, incentiva a participação dos idosos no ambiente coletivo, defende os ambientes adaptados e a prática de atividades que estimulam a qualidade de vida e principalmente a felicidade desse grupo tão especial.

As recentes medidas de proteção que, repito, são fundamentais nesse momento, acabaram impactando numa mudança de rotina que se tornou um desafio para todos.

Uma pesquisa realizada por quatro centros de geriatria das instituições USP, InCor, HCor e ICESP mostrou que 95,2% dos idosos reduziram as saídas de casa na pandemia. O estudo aponta um dado curioso: apenas 5,3% disseram sentir solidão.

Em meio aos baixos níveis de solidão entre os idosos pesquisados, o fator que mais justifica essa realidade é o acolhimento das famílias. Alguns relatam que recebem ligações todos os dias e se sentem mais acolhidos do que antes da pandemia.

Isso mostra que houve uma relevante conscientização das famílias em relação aos seus entes da terceira idade.

Esse é um ponto que merece destaque e precisa servir de inspiração. Depois de quase seis meses de uma pandemia letal e devastadora, não há mais dúvidas e nem argumentos que questionem a eficácia do isolamento social. A nova situação nos remete, contudo, a uma velha e recorrente necessidade: a importância da atenção e da responsabilidade com os idosos.

Infelizmente, os dados da pesquisa não podem ser comparados à realidade da maioria. Muitos idosos ainda sofrem de solidão e padecem do sentimento de inutilidade, trazida pelo passar dos anos, mas também pela indiferença que tantas vezes passa despercebida.

Descobrir novas formas de acolher nossos idosos é sem dúvidas um dos pontos positivos que podemos extrair desse cenário pandêmico. Melhor ainda é descobrir que aquilo que não custa quase nada pode fazer toda a diferença na vida do outro: uma ligação diária, uma videochamada ou algum outro contato que não permita contágio (mas contagia a existência de sentido).

Muitos filhos ou familiares costumavam acompanhar os idosos à igreja, por exemplo. Se ainda não é possível, que tal ver pela televisão ou internet e depois comentar o que foi dito? Ou até mesmo ligar para comentar sobre aquela novela ou programa de televisão que o idoso gosta?

Não se sabe exatamente como será esse “novo normal”, mas é importante que agora criemos novas formas de relacionamento. A solidão é causada pela ausência de comunicação e não apenas por ter que ficar em casa.

Gustavo Genelhu é graduado em Medicina pela Universidade Gama Filho – RJ (1998). Tem duas especializações: Terapia Intensiva, pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (2006), e Geriatria, pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2003). Atualmente, é presidente da Cooperativa dos Médicos Intensivistas do Espírito Santo (Cooperati-ES).

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