Além do encaminhamento da defesa de Temer à STF, o presidente reuniu ministros e base aliada, na noite deste domingo (21), e pediu que o Congresso trabalhe normalmente
A defesa de Temer enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma série de questionamentos sobre as gravações de Joesley Batista. dono da JBS. No áudio, que serviu de base para a abertura de inquérito contra o presidente Michel Temer, foram apontados 15 pontos.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também encaminhou neste domingo (21) à Polícia Federal questionamentos sobre as gravações. Mas, pediu a continuidade das investigações, garantindo que não há “mácula que comprometa a essência do diálogo”.
Desde que o conteúdo da conversa foi divulgado, Temer tem negado e desqualificado as acusações. Reiterou ser leviana a afirmação de que teria atendido a pedidos de Joesley e chamou de “fanfarronices” do empresário, acerca da tentativa de obstrução da Justiça.
Questionamentos
O ofício do Ministério Público Federal é endereçado ao delegado Josélio Azevedo de Souza, coordenador da Força Tarefa da Operação Lava Jato no STF (foto). O documento contém 16 pontos a serem analisadas pela perícia técnica da PF. Entre eles, o formato do áudio, eventuais interrupções e evidência de que alguns trechos foram editados.
O pedido foi feito após o Supremo determinar no último sábado (20) a verificação técnica do conteúdo gravado por Joesley. Solicitação feita pela defesa de Temer, o STF enviou o material para perícia da PF, mas não suspendeu as investigações, deixando a decisão para o plenário da Corte, na próxima quarta-feira (24).
As mesmas 16 perguntas do MPF foram enviadas para esclarecimentos acerca de quatro gravações feitas pelo empresário: uma com Temer, uma com Aécio e duas com Rocha Loures.
Defesa de Temer
As 15 dúvidas do presidente foram protocoladas pelos advogados Antônio Cláudio Mariz de Oliveira e Gustavo Bonini Guedes. Eles pediram detalhes sobre como identificar o modelo do gravador, o horário de registro do áudio, a razão de ruídos, a eventual “supressão de palavras” e possíveis contradições em análise de peritos, contratados por veículos da imprensa, a respeito de edições no áudio.
Em nota divulgada na tarde deste domingo, a Polícia Federal informou que recebeu os áudios da conversa e que pediu acesso ao aparelho usado por Joesley Batista para fazer a gravação. “Em análise técnica preliminar, o Instituto Nacional de Criminalística afirmou que é fundamental ter acesso ao equipamento que realizou as gravações originais. Por esse motivo, a PF oficiou à PGR, solicitando o aparelho.”
Segundo a PF, não há uma data inicial para “conclusão dos trabalhos periciais”, dada a necessidade de analisar o gravador.
Caso
Joesley Batista gravou uma conversa com o presidente, na qual ele teria sugerido que se mantivesse uma boa relação com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para solucionar um problema da JBS, a pedido de Temer, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) teria sido filmado recebendo R$ 500 mil.
Em outra gravação denunciada pelo Jornal o Globo, Batista informa que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), teria pedido R$ 2 milhões ao empresário.
Base Aliada
As cúpulas do PSDB e do DEM irão aguardar o julgamento do STF sobre o pedido de suspensão do inquérito contra o presidente. O posicionamento do Supremo, na quarta-feira, irá definir se as siglas mantém ou não o apoio ao governo.
O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), chegou a marcar reunião para domingo com dirigentes e líderes tucanos, do DEM e do PPS. Mas ministros pediram o adiamento do encontro e foram atendidos. Tasso e o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), participaram de um encontro com Temer, no Palácio da Alvorada.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para Temer no sábado (20), para prestar solidariedade e afirmar ter sido mal interpretado. FHC se referia a uma publicação que fez em suas redes sociais. “Os envolvidos na delação da JBS terão o dever moral de facilitar a solução, ainda que com gestos de renúncia, casos suas defesas não forem convincentes”, escreveu.
O PSDB e o DEM são os pilares de sustentação da base aliada. Sem o apoio dessas siglas, a gestão peemedebista não será capaz de aprovar mais nada no Congresso. E o entendimento generalizado é que, caso isso ocorra, estará decretado o fim de Temer frente ao Executivo Nacional.
Vale destacar que a direção do PSDB do Rio divulgou no domingo nota pedindo a renúncia ou o impeachment de Temer e a saída dos quatro ministros tucanos. Há somente um deputado federal da seção fluminense, Otávio Leite, presidente da legenda no Estado, e nenhum senador.
Caso Temer perca a governabilidade e renuncie, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumirá o cargo por 30 dias. E, após esse prazo, será realizada eleição indireta, com o novo presidente escolhido deputados federais e senadores. Para a realização de eleição direta seria necessário aprovar uma Emenda Constitucional no Congresso.