Especialistas condenam o uso do aparelho em ambientes escolares e alertam para o risco de problemas como a dificuldade de aprendizado e até mesmo bullying
Por Fabio Gabriel
Um tema polêmico e atual é o uso de celulares na escola. De acordo com um levantamento recente feito pelo Instituto Locomotiva e pela QuestionPro, oito em cada dez adultos são a favor da proibição do aparelho eletrônico nas escolas. A situação, que envolve pais e mães de alunos, profissionais de instituições de ensino e especialistas pedagógicos, está em debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. O Ministério da Educação também deve enviar para a casa de leis uma proposta para o veto do uso dos smartphones nas escolas do país.
Os aparelhos multifuncionais oferecem inúmeros recursos tecnológicos. Por conta disso, eles podem tanto auxiliar como podem trazer transtornos para alunos, responsáveis e professores.
Jéssica Macedo, endossa a opinião da maioria ouvida na pesquisa. Para a mãe, o celular nas escolas deve ser proibido. “O celular, quando bem utilizado, é uma ótima ferramenta para várias situações. Mas acredito que as crianças e adolescentes não tem maturidade o suficiente para lidar com todos os estímulos ofertados pela grande rede, o que ocasiona a falta de atenção em sala de aula, gerando muitas distrações”, informou.
Para a advogada, que é mãe de uma menina de doze anos e um menino de apenas um, há um outro fator de risco: “Inclusive (os alunos) podem não entrar efetivamente na sala de aula para terem mais tempo de acessarem as redes sociais e jogos online”, alertou.
A psicóloga Edileusa Prates, afirma que o aparelho eletrônico não colabora no aprendizado das crianças e adolescentes. “O uso dos celulares nas salas de aula e escolas em nada está auxiliando nossos estudantes”, opinou.
Ao ser indagada sobre a utilização do celular para meios de comunicação ou de auxílio para uma pesquisa, a profissional, que também é mãe de uma menina de oito anos, apontou uma saída. “Penso que se a escola quer fazer uso das metodologias ativas, ela deve ter equipamentos para tal atividade. Quase todas as escolas possuem tais recursos e estão equipadas para esse tipo de aula. O celular na sala de aula virou um vilão. Só é usado para brincadeiras”, criticou.
Um estudo feito pela Neuropsicopedagoga e Psicanalista Infantil, Michele Rodrigues, alerta para o risco de uso de celulares nas escolas. Além de causar distrações e a falta de desatenção na sala de aula, o uso do aparelho eletrônico, pode causar a interferência na memória do aprendizado e também aos riscos de ciberbullying e exposição a conteúdos inadequados.
“O uso indiscriminado de celulares facilita o acesso a redes sociais e aplicativos de mensagens, que por sua vez, podem ser plataformas para o bullying. Adolescentes são particularmente vulneráveis a isso, e o ambiente escolar pode ser diretamente afetado, com impactos psicológicos significativos para as vítimas”.
A especialista ainda alertou que o uso dos smartphones no ambiente escolar aumenta ainda mais a possibilidade de acesso a conteúdos inadequados. “Além disso, o uso de celulares sem supervisão aumenta a possibilidade de exposição a conteúdos impróprios ou até mesmo perigosos, como fake news, violência e material impróprio para a idade”.
O que dizem as autoridades?
Para falar sobre o assunto, entramos em contato com o Ministério da Educação que informou estar trabalhando na elaboração do projeto de lei para proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas do Brasil, o que deve acontecer em breve. Mas não informou uma data prevista.
O assunto não é novo. O projeto de lei de Nº 2246, de 2007, que tratava sobre o assunto, foi arquivado. Entramos em contato com a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para saber mais detalhes da proposta de proibição em andamento na casa, mas até o fechamento desta publicação, não tivemos respostas. Assim que houver um retorno, a reportagem será atualizada.
O que se sabe até o momento é que a proposta aguarda a próxima reunião deliberativa do colegiado para ser votada e avançar. O projeto de lei em discussão no Congresso proíbe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais, como celulares, durante as aulas, recreios ou intervalos, em todas as etapas da educação básica, abrangendo a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.
Nas salas de aula, o uso desses aparelhos só será permitido quando for para fins pedagógicos ou didáticos, conforme orientação dos professores. Para os alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), a proibição é ainda mais rígida: o porte de aparelhos eletrônicos, incluindo celulares, é completamente proibido. Ou seja, eles não podem sequer levar esses dispositivos para a escola, mesmo que não os utilizem.
O porte e o uso de celulares nas escolas, seja dentro ou fora da sala de aula, só serão permitidos em casos específicos, como para acessibilidade, inclusão ou por questões de saúde.
Apesar de o projeto estar em discussão, nesta quarta-feira (16) o tema não foi incluído na pauta da reunião do colegiado, que votará apenas requerimentos e não projetos de lei.