A morte do menino Henry Borel, de 4 anos, no Rio de Janeiro, ligou um alerta em relação à violência infantil, principalmente durante a pandemia, quando as famílias estão convivendo por mais tempo, em isolamento social. A mãe, Monique Medeiros, e o padrasco, o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), foram presos nessa quinta-feira (8) sob a suspeita de atrapalhar a investigação.
Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apontam que mais de 26 mil crianças e adolescentes sofreram algum tipo de violência de janeiro a setembro de 2020 no Brasil.
O advogado Alexandre Aroeira Salles destaca que “o Brasil já tem leis suficientes para proteger a criança e o adolescente, como é o caso do Estatuto da Criança e do Adolescente e da própria Constituição Federal. O que se torna urgente neste momento, além da aplicação dessas leis, é uma agilidade na aplicação de medidas mais contundentes para coibir e punir ações de violência contra a criança”, afirma.
É preciso levantar essa bandeira, não com a criação de novas leis, mas sim de uma aplicação efetiva das que já existem. O Estado deve punir os autores de tamanha barbárie. “O País é muito deficitário no cuidado à vida das pessoas. Nós temos 60 mil assassinatos ao ano, entre mulheres e crianças. O poder público não cuida das nossas crianças, isso é uma tragédia negligenciada. Precisamos que as leis sejam aplicadas com mais rigor para punir e evitar novas tragédias como a morte do menino Henry Borel, no Rio de Janeiro. Mais que um debate urgente e necessário, é uma questão de saúde pública.”, enfatizou.
Caso Henry Borel
A Polícia Civil do Rio afirmou na manhã desta quinta-feira (8) que Henry sofria agressões periódicas por parte do vereador Dr. Jairinho, preso junto com a professora Monique Medeiros, sua namorada e mãe da criança.
Segundo os investigadores, conversas registradas num aparelho telefônico mostram que a babá de Henry relatou essas agressões à patroa, que teria mentido em depoimento à polícia. Após a morte, a babá foi pressionada a também mentir.
Jairinho e Monique são suspeitos de cometer homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura e sem capacidade de defesa da vítima. A prisão temporária, válida por 30 dias, foi justificada pela tentativa de atrapalhar as investigações. Ainda não houve denúncia.
Entenda
No dia 7 de março, Henry foi deixado pelo pai por volta das 19h30 na casa de Monique e Jairinho. Estava sem nenhum tipo de lesão, de acordo com a investigação. Em poucas horas, chegou morto ao hospital. Apenas o casal esteve com o menino nesse intervalo.
Henry morreu no Hospital Barra DOr, na Barra da Tijuca. Foi levado para lá pelo casal, que alegava tê-lo encontrado desmaiado no quarto onde a criança dormia. O menino estaria com olhos revirados, pés e mãos geladas e dificuldades para respirar De acordo com os médicos, o garoto chegou ao estabelecimento em parada cardiorrespiratória. No Instituto Médico Legal (IML), a necropsia constatou múltiplos sinais de trauma, como equimoses, hemorragia interna e ferimentos no fígado, típicos de agressão.
A polícia suspeita que Henry tenha morrido depois de ser submetido por Dr. Jairinho a uma sessão de torturas, com o conhecimento de Monique. Aos investigadores, o casal afirmou suspeitar que o menino teria se ferido em uma queda. Os ferimentos, contudo, não são compatíveis com tal versão.