O movimento cresceu tanto que chamou a atenção da CBF, que convidou membros para romper o silêncio da Granja Comary em um treino da seleção
O administrador público Saulo Mendonça, 30 anos, se transforma – literalmente – quando a seleção brasileira joga. Ele veste uma capa amarela e uma fantasia verde com a bandeira do Brasil estampada em seu peito e vira o “Supermano Verde Amarelo”. O super-herói patriótico puxa os cantos na arquibancada e comanda uma torcida ruidosa e numerosa em diferentes estádios do País e do mundo.
“Criei esse personagem para unir todos os brasileiros”, explica ele, que não liga para as piadas em relação à fantasia e já deu até autógrafo quando chega nos estádios. “Virei meio que uma referência para a molecada que torce”.
- ‘Queen Celebration In Concert’ chega a Vitória no sábado, 19 de março
- Acesse nossas redes sociais: Instagram e Twitter
Incomodado com o distanciamento da seleção dos torcedores e, sobretudo, com um vácuo nas arquibancadas, Saulo se uniu a Luiz Carvalho, 41 anos, e a outros amigos para criar o Movimento Verde Amarelo, dispostos a revolucionar a forma como o brasileiro torce e apoia as seleções e seus atletas.
O movimento teve origem a partir de torcidas universitárias. Nasceu em 2008, quando Luiz, cujo apelido é Vasco, por torcer para o time carioca, Saulo e outros amigos perceberam a necessidade de haver uma torcida mais vibrante, algo similar ao que se vê nas arquibancadas dos estádios argentinos, por exemplo
Eles notaram que o torcedor brasileiro não fazia barulho nos estádios. Viam, no geral, uma torcida insossa, quieta e elitizada. E creem que estão mudando essa realidade. “Somos o país do carnaval, do futebol, com gente animada, mas você chegava no jogo do Brasil e via todo mundo quieto. Não fazia nenhum sentido”, comenta Saulo. O objetivo, ele diz, é quase megalomaníaco. “A gente quer mudar a história de torcer e ser a maior torcida do mundo”.
O grupo já esteve em três edições de Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações, uma vez que o foco são o futebol e a seleção brasileira. Mas também já fizeram barulho nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e em uma infinidade de partidas de mais de 30 modalidades. Onde tem algum atleta com a camisa do Brasil ao redor do mundo existe um torcedor do Movimento Verde Amarelo. “A gente quer ser a torcida do esporte nacional”, define Saulo.
Ele e os outros membros do grupo eram chamados de loucos no começo. “E a gente era meio louco mesmo. O Luiz chegou até a largar o emprego pra ir para a Copa da África do Sul”, relembra o Supermano.
Parceria com a CBF
Em 14 anos, o Movimento Verde Amarelo se estruturou. Hoje conta com mais de 3 mil torcedores, 200 em cargos de lideranças, e sete diretores, além de 170 embaixadas espalhadas pelo País. O movimento cresceu tanto que chamou a atenção da CBF, que convidou membros para romper o silêncio da Granja Comary em um treino da seleção em março deste ano. Aquela atividade foi a última aberta do time treinado por Tite antes da Copa do Catar.
A CBF não mantém uma parceria formal com o grupo, mas existe um contato entre o departamento de marketing da entidade e a torcida para articular ações antes e durante a Copa do Catar. “Tem uma abertura, acesso a treinos em Teresópolis e facilidade para comprar ingressos”, conta Luiz, o Vasco.
Há acesso dentro da Fifa também. Membros do MVA fazem parte do Fifa Fan Leader, um programa da entidade que comanda o futebol mundial com torcedores que levou Luiz para acompanhar in loco o sorteio dos grupos do Mundial do Catar, em abril. No Brasil, são 27 líderes de torcida, sendo 24 do movimento.
Estruturação
Os recursos do movimento, que se organizou como empresa, vêm dos bolsos dos fundadores, venda de camisas e outros itens, doações de apoiadores e patrocínios pontuais. A Brahma, por exemplo, fechou uma parceria em março deste ano, no jogo da seleção brasileira contra o Chile. Existe, também, um programa próprio de sócio-torcedor. “Essa brincadeira ficou muito grande. Hoje o negócio está muito organizado”, ressalta Saulo, o Supermano.
Mas os resultados demoraram para aparecer. Foram seis anos se empenhando até que o ponto de inflexão surgiu na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Naquele ano, o MVA criou “Mil Gols”, primeira música que emplacou. Mas foi o hit “Único penta é o Brasilzão”, lançado no Mundial da Rússia, em 2018, que se tornou viral a ponto de mudar a história do grupo.
“A gente foi para outro patamar”, opina Luiz, lembrando da invasão de milhares de torcedores brasileiros em uma estação do metrô de Moscou para comemorar a classificação da seleção às oitavas de final do Mundial da Rússia. Luiz é o compositor das duas músicas.
Além das músicas e da atuação nas arquibancadas, o grupo se destaca pela organização de mobilizações pré-jogo, oficinas de bateria, projetos sociais, recepções de seleções em hotéis, coleta de lixo nas arenas e caminhadas até os estádios. O MVA atualmente é um dos padrinhos do Time Olímpico do Brasil, nomeado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Com informações Agência Estado