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terça-feira, 23 abril, 2024

“Carnevale”, e como!

Que a pandemia de covid mexeu com todos os mercados e todas as commodities não temos dúvidas. E mexeu de uma forma imprevisível

Por Joe Conti 

Qualquer prognóstico de qual será a direção que caminha será mera opinião, podendo condecorar ou derrubar qualquer especialista, por mais tempo de análise que ele tenha. Vamos para o risco.

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Quando falamos de consumo de proteínas, seja na China ou em qualquer mercado, algumas variáveis fundamentais precisam ser observadas. Por exemplo: enquanto na Europa/EUA o aumento ou redução do consumo de carne de boi assusta o mercado, na China é o consumo de carne de porco (que é mais de 100 vezes superior a todos os outros tipos de carne) é que assusta o mercado. Nesse ponto, parece que o mercado de proteínas tem um certo equilíbrio entre os diferentes tipos de carne consumida nos diferentes mercados mundiais. O problema é que os chineses estão ficando mais “ricos” (para os padrões da China) e isso está desequilibrando o mercado de proteínas.

Desequilibra, pois se 5% da população resolve aumentar o consumo de carne de boi de 10kg/ano para 25 kg/ano, significa um aumento de 1,2 milhão de toneladas de carne a mais por ano. Para um mercado equilibrado, não mexe só com os preços. Mexe com a quantidade de contêineres refrigerados, navios, portos, caminhões … ou seja, com toda uma cadeia totalmente despreparada e sucateada para essa demanda.

Para desequilibrar ainda mais qualquer análise, a Argentina, que produz (ou produzia?) 30% do que o Brasil produz em carne de boi, proibiu sua exportação até equilibrar os preços e o consumo interno. O mercado americano, saindo do inverno e ainda desorganizado pela covid, agora está retornando sua produção e tendo que resolver em nível de governo os problemas da JBS nos EUA.

O desequilíbrio (semelhante a outras commodities, como minério de ferro, carvão, grãos, etc) deve perdurar por algum tempo. Só para assustar mais e deixar instável toda e qualquer análise, os fretes marítimos, nesses últimos 30 anos, nunca estiveram tão absurdamente altos. Os armadores não querem nem negociar. As tarifas mais que dobraram em menos de 1 ano, em dólar. O que está salvando um pouco é o dólar ainda acima de R$ 5 para os exportadores.

Se falar mal dos outros trouxer um alívio, esse quadro não é só para as proteínas. Pela primeira vez na história, o governo chinês resolveu derrubar o preço do minério de ferro quando este bateu na casa dos US$ 230/ton. É uma briga de gigantes e para se ver de longe. O desejo do governo chinês era trazer o preço do minério para a casa dos US$ 130-140/ton. O máximo que conseguiu foi cair para US$ 202/ton, mas com todas as chances de retornar para o nível de US$ 210. Achei que morreria sem ver os chineses perderem uma batalha dessa.

Se por um lado, isso só confirma o quão confuso está este mercado, por outro, acredito verdadeiramente que uma janela, semelhante (talvez nem tanto) a de 2008 pode estar se abrindo para o Brasil, onde nossas principais commodities se valorizam no mercado, permitindo bons superávits na balança comercial, aliviando as contas públicas em um momento em que o governo foi forçado a gastar muito para controlar a pandemia. Aliado ao regime de austeridade monetária, baixo nível de corrupção, lucros significativos das estatais, investimentos maciços na infraestrutura e um mercado interno significativamente consumidor, dentro do possível e se mantivermos o rumo, entraremos em 2022 em uma situação privilegiada em relação a qualquer outro país. Se eu fosse o técnico desse time, não trocaria nem os gandulas!

Joe Conti ([email protected]) é engenheiro, consultor, empresário e escritor.

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