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domingo, 9 DE fevereiro DE 2025

Ameaça nutella

O que me preocupa no efeito Nutella não é só a desinformação. É a falta de noção. Jovens bilionários acham que podem resolver tudo com algoritmos

Por André Gomyde

É curioso pensar que o futuro da humanidade, com todos os seus problemas, agora repousa nas mãos de jovens bilionários que cresceram comendo Nutella no café da manhã. Abandonaram a faculdade porque, aparentemente, fazer manipulação com algoritmos e vender chinelos com LEDs pelo Instagram foi mais lucrativo do que qualquer aula de cálculo. E aí está o mundo: com o clima em colapso, a inteligência artificial criando dilemas éticos e, como se não bastasse, um tal de Mark Zuckerberg, versão humana do efeito Nutella, querendo dar aula de moral para nações inteiras.

Zuckerberg, esse oráculo da pseudo liberdade de expressão, resolveu que todo mundo deveria poder dizer tudo sobre qualquer coisa. Na prática, isso significa que, enquanto você posta a foto do bolo de fubá da sua avó, um gerador de mentiras do outro lado do mundo está ocupadíssimo espalhando idiotices e canalhices. É quase poético: na mesma rede que conecta primos distantes, também somos bombardeados por teorias conspiratórias sobre alienígenas que controlam o preço do tomate.

Mas calma, isso não é um ataque pessoal ao Zuckerberg (ok, talvez um pouco). Ele não está sozinho. O efeito Nutella é uma epidemia global. Gente que acredita que basta ter milhões na conta e uma ideia mirabolante para revolucionar a humanidade. É o caso do Elon Musk, que decidiu brincar de jogo da velha com satélites e agora está tentando colocar chips em cérebros. Um pouco mais e o homem transforma o planeta numa partida de “SimCity” versão apocalíptica.

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Enquanto isso, meu amigo Sangália, liderança de Regência, uma praia do Espírito Santo onde a internet ainda é um conceito frágil, disse algo que deveria estar gravado em mármore: “A inteligência artificial precisa criar vínculos afetivos entre as pessoas, precisa aproximar famílias.”

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E ele está certo! Não adianta uma tecnologia que promete mundos e fundos, mas no fim das contas só faz o tio Jorge brigar com a tia Cleide nos grupos de WhatsApp porque um deles compartilhou uma notícia falsa. A humanidade não precisa de mais plataformas para debates sem sentido. Precisamos de ferramentas que nos façam lembrar que, antes de sermos usuários de qualquer rede social, somos gente.

O que me preocupa no efeito Nutella não é só a desinformação. É a falta de noção. Jovens bilionários acham que podem resolver tudo com algoritmos. Clima? Plantamos árvores digitais no metaverso. Educação? Substituímos professores por avatares. Relações humanas? Ah, isso é detalhe.

O que falta ao efeito Nutella é uma dose de Sangália. De vez em quando, ao invés de planejar a próxima revolução tecnológica, esses gênios do Wi-Fi deveriam ir a Regência e ouvir histórias de como uma conversa embaixo de uma amendoeira pode ser mais eficaz do que qualquer post no Threads. Afinal, como ele mesmo diz: “Tecnologia que não aproxima não serve para nada.”

Enquanto isso, seguimos aqui, tentando sobreviver aos Nutellas, às fake news e aos satélites desgovernados, na esperança de que, um dia, o bom senso seja o próximo grande invento da humanidade.

André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde

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