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quinta-feira, 25 abril, 2024

Ainda colocando os pingos nos is

O Brasil tem um sistema de saúde pública universal, que está cerceado pela má gestão, prevaricação e impunidade

Estamos diante um novo contexto. E se mudou o contexto, é preciso mudar os parâmetros. Mas não é o que se vê nas falas e atitudes dos tomadores de decisão no Brasil. O que explica a hesitação quanto ao que fazer?

Primeiro, porque ainda se está raciocinando com parâmetros da conjuntura pre-COVID-19. Segundo, porque os tomadores de decisão não estão usando o bom sendo, nem pensando no âmbito coletivo. Se o fizessem, já teriam assumido que os efeitos negativos da epidemia da COVID sobre a economia são muito mais explicados pela ineficiência e improbidade dos gestores do SUS do que pela queda de demanda devido ao isolamento. E na sequência, agiriam para corrigir o erro.

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O Brasil tem um sistema de saúde pública universal, que está cerceado pela má gestão, prevaricação e impunidade. Um tripé que fez do SUS em um gigante com pés de barro. Lamentável, haja vista a importância de tal sistema, e a grandeza da iniciativa por instituí-lo.

Se os entes públicos gerissem esse sistema segundo os parâmetros do bom senso, da probidade administrativa, e da mentalidade coletiva – que é o comportamento que lhes cabe – o Brasil teria um sistema de saúde pública sanitária eficiente e com escala para enfrentar epidemias virais como a COVID-19; que o permitiria adotar um padrão de isolamento que não inviabilizasse o processo produtivo.

Ainda colocando os pingos nos is
Fotografia – Agência Brasil

Como não é essa a realidade, foi necessária uma dimensão de isolamento maior, que levou à paralisação da economia. Ou seja, a recessão é mais subproduto das insuficiências do sistema sanitário para atender os infectados do que das respostas do mercado à epidemia.

Os erros da gestão do SUS comprometeram a integralidade da prestação do serviço. Esse comprometimento limitou sua capacidade de atender os infectados pelo vírus; que tornou o isolamento vertical e horizontal o único meio capaz de evitar o contágio.

Como um erro não conserta outro, a solução para controlar o contágio paralisou a economia. Resumindo, os atuais problemas econômicos e sanitários brasileiros são consequências dos erros das escolhas públicas do País.

O atenuante é que essa realidade se mostrou presente na maioria dos países – negligência com política sanitária não é exclusividade de Brasil. É sistêmica. O que não precisa ser sistêmica são as escolhas públicas erradas – como as da gestão do SUS.

Precisa melhorar a alocação de recursos, e recorrer aos mecanismos de controle e punição previstos por lei, para expurgar a ineficiência e a improbidade e dar espaço para a eficiência e a probidade que o funcionamento adequado de um sistema de saúde universal requer.

Na sequência o aumento da demanda por bens e serviços médicos/hospitalares, e o investimento em saneamento básico desencadearão demandas por insumos para produzi-los; que gerarão oportunidades de empregos; que gerarão renda; que gerará demanda por bens de consumo; que gerará produção de bens de consumo; que gerará demanda por investimentos; que ampliará a capacidade para produzir e restituirá o crescimento econômico. O efeito multiplicador dos gastos públicos impulsionará a economia.

A gestão da saúde pública fazendo o dever de casa – bom senso, probidade administrativa e pensar no coletivo – deixará de ser entrave e passará a ser solução para o crescimento. Os cidadãos-contribuintes brasileiros agradecemos.

Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape Business School

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