Estudos da Climate Central apresentam um mapa interativo que projeta as ameaças globais devido à elevação do nível do mar
Por Kebim Tamanini
Recentes estudos projetam um futuro alarmante onde diversas áreas costeiras ao redor do mundo, incluindo significativas regiões do Brasil e também do Espírito Santo, poderão estar submersas até o ano de 2050 devido ao crescente aumento do nível dos oceanos. De acordo com a pesquisa da Climate Central, 13 cidades capixabas correm risco de ter áreas afetadas.
Daqui a 25 anos, os municípios do Espírito Santo com mais riscos de serem atingidos são: Conceição da Barra, São Mateus, Linhares, Aracruz, Fundão, Serra, Vitória, Vila Velha, Cariacica, Guarapari, Anchieta, Piúma e Marataízes.
Para a oceanógrafa Tatiana Pinheiro Dadalto, especialista em Geologia e Geofísica Marinha, isso acontece porque o oceano e a atmosfera trabalham em conjunto, trocando continuamente gases e influenciando todo o sistema terrestre. “O sistema é único e interconectado, abrangendo a atmosfera, a biosfera, a hidrosfera (todas as águas, além dos oceanos), e a presença humana. Muitas vezes, o problema é que nos separamos ou não nos enxergamos como parte da natureza”, pontua.
A oceanógrafa explica que a topografia da costa, como regiões de baixa altitude ou com falésias e montanhas, influencia a forma como o efeito da elevação do nível do mar é sentido. “Em Vila Velha, por exemplo, durante ressacas e chuvas fortes, quais são os lugares que ficam inundados? Provavelmente, são regiões baixas ou áreas que sofrem erosão nas praias. Isso nos dá uma pista sobre quais áreas são mais vulneráveis”, exemplifica.
A pesquisa da Climate Central disponibiliza um mapa interativo que permite navegar por todos os países do Globo, incluindo o Espírito Santo. Com a ajuda de filtros, pode-se escolher o cenário desejado para a projeção, incluindo o ano futuro e o contexto de poluição que vive o planeta. As áreas em vermelho sinalizam os locais inundados.
Na Grande Vitória, as localidades mais afetadas – embora em menor dimensão comparadas a outros municípios do Estado – são a foz do Rio Santa Maria da Vitória e as áreas costeiras. Já na Região Norte do Estado, São Mateus (proximidades do Rio Cricaré) e Conceição da Barra (proximidades das Dunas de Itaúnas) poderão ser as áreas mais afetadas. No extremo sul capixaba, Piúma é o grande destaque negativo.
Cenário Nacional
A situação das cidades do Espírito Santo não é tão grave em comparação com municípios de outros estados brasileiros. O estudo revela situações mais alarmantes em sete cidades ameaçadas de inundação pelo aumento do nível do mar, decorrente da emergência climática: Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Recife, Porto Alegre, São Luís e Santos. As pessoas afetadas nessas localidades somam 2 milhões.
A Climate Central se baseou em informações do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), aplicadas a dados populacionais. Foi utilizado um modelo de elevação digital por inteligência artificial (IA), o Coastal IDEM, que combina dados globais sobre a altura das terras costeiras.
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apontaram que a taxa de aumento médio do nível do mar global nos últimos dez anos (2014-2023) foi mais do que o dobro da primeira registrada por satélite (1992-2002).
Possíveis Soluções para Mitigação
Especialistas alertam que, com o aumento do nível do mar, as águas doces próximas das regiões costeiras sofrerão intrusão salina, como já ocorre em épocas de pouca chuva. Em São Mateus, por exemplo, o rio fica salobro, causando problemas para a população.
“Um dos problemas sérios que precisamos considerar urgentemente é o abastecimento de água das cidades que utilizam águas dessas regiões costeiras. Parte da água que abastece Vitória é captada no Rio Jucu, bem perto do mar. Com o aumento do nível do mar, especialmente nos momentos de maré alta, haverá salinização dessas águas”, esclarece o engenheiro florestal Luiz Fernando Schettino, ex-secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (SEAMA).
Schettino enfatiza a necessidade de pensar em medidas para atenuar esses efeitos. Ele destaca que uma das ações mais importantes é um grande trabalho de restauração da vegetação costeira, como manguezais e restingas, pois, melhorando essas vegetações que ajudam a proteger a costa, se reduz alguns efeitos, mesmo que minimamente.
Além disso, a erosão costeira é outro ponto de impacto com o aumento do nível do mar. “Podemos ter certeza de que o nível de erosão aumentará, invadindo as fozes dos rios e áreas alagadas, pois haverá um movimento contínuo”, salienta o engenheiro florestal.
Há um consenso entre os especialistas de que é preciso rever os planejamentos urbanos. Será necessário remover pessoas e criar zonas de amortecimento desses impactos para comunidades vulneráveis. “Hoje, temos pessoas aterrando mangues em Vitória para construir casas. As prefeituras e o Estado precisam agir de forma enérgica, pensando no futuro e evitando essas práticas”, conclui Schettino.
A pesquisa destaca a necessidade urgente de ações concretas para mitigar os impactos do aumento do nível do mar, visando proteger tanto a população quanto a biodiversidade e a economia das regiões costeiras.