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quinta-feira, 25 abril, 2024

Guilherme Lacerda: “O ES vai se sair muito melhor do que as pessoas podem imaginar”

Guilherme Lacerda: “O ES vai se sair muito melhor do que as pessoas podem imaginar”

Nomeado diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em fevereiro de 2012, o mineiro que se tornou capixaba por opção hoje comanda a área de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e Inclusão Social do banco. Com a experiência adquirida nos oito anos em que ocupou a presidência da Funcef, Lacerda afirma estar desenvolvendo um trabalho muito gratificante na nova jornada.

* Por Vitor Taveira

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Nesta entrevista, o economista fala sobre seu trabalho, a situação econômica do Espírito Santo, novos investimentos e sua visão sobre o futuro do Estado.

– Como o senhor avalia a participação do BNDES na economia nacional?
Feliz o país como o Brasil, que tem um banco com a dinâmica, a capacidade e a história do BNDES. Hoje este banco é um exemplo para muitos países em termos de ser uma instituição de desenvolvimento, não só pelo seu tamanho, mas pela sua capacidade de pensar em inovações financeiras, e que tem um papel singular na economia nacional. Hoje mais de 40% dos financiamentos do BNDES são para micro e pequenas empresas, e nós estamos presentes nos grandes projetos estruturantes. O BNDES financia projetos de infraestrutura, inclusive no que tange a política industrial e de serviços, além de agropecuária e todos os projetos que são orientados pelo governo para financiar o setor público. O banco tem 61 anos e esteve presente em todos os ciclos da economia brasileira, desde a segunda metade do século XX.

– Antes de chegar ao BNDES, o senhor foi presidente da Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal) por oito anos. Como foi essa experiência?
Quando eu cheguei lá, este era um fundo de pensão que tinha muitos problemas, muitos desafios a serem vencidos. Na época, a fundação tinha em torno de R$ 10 bilhões, com 67 mil participantes. Na minha saída a Funcef contava com quase 115 mil associados e R$ 44 bilhões de patrimônio. Em minha presidência, nos preocupamos, principalmente, em fazer investimentos seguros que deram uma rentabilidade muito superior às necessidades atuariais, permitindo, inclusive, melhorar a aposentadoria dos participantes do fundo.

– Como tem sido sua atuação à frente do BNDES?
Para mim a experiência tem sido muito gratificante. Aqui posso trabalhar com uma equipe técnica de altíssimo nível, muito competente, e estou numa área muito forte, que lida diretamente com o governo e que trabalha com infraestrutura social. Todo investimento voltado para mobilidade urbana, saneamento, projetos vinculados à estrutura de governo e também de área social passa por mim, além de projetos de microcrédito, inclusão socio-produtiva, inclusão social e questões ligadas ao meio ambiente.

– A atuação da sua diretoria é basicamente social. Isso também é uma motivação para o seu trabalho?
O ‘S’ do BNDES é pra valer. Todo desenvolvimento econômico só faz sentido se tiver impacto na transformação social. Além disso, a ação social stricto sensu tem uma importância muito grande, porque o crescimento das empresas não é o suficiente para trazer os benefícios sociais que um país como o nosso necessita. Então, nós temos a preocupação de desenvolver uma politica econômica com um eixo social bem amarrado e integrado com o eixo econômico.

– Como é a relação do Espírito Santo com o BNDES?
A transferência de recursos para o Espírito Santo cresceu de forma espetacular. Em 2009, o repasse foi de menos de R$ 2 bilhões. Já em 2012, ultrapassamos o montante de R$ 3 bilhões. Em quatro anos, o Espírito Santo recebeu mais de R$ 10,5 bilhões de recursos por meio do BNDES. Este é o mercado mais aberto do Brasil, que sofre a maior influencia externa, o que pode trazer benefícios e impactos. Quando a conjuntura internacional vai bem, a economia do Espírito Santo cresce a frente da economia nacional, mas quando tem uma queda, a economia do Estado pode cair, às vezes mais que a economia nacional. Por isso é fundamental o governo estadual voltar-se para a integração com o restante do país. Esta é a hora de o Estado se fortalecer e valorizar um adensamento das suas cadeias produtivas, com uma geração de valor agregado em determinados segmentos, e não ficar preso a um número menor de setores.

– O Espírito Santo tem uma localização estratégica, inserido no Sudeste, um mercado forte e tradicional, e perto do Nordeste, um mercado emergente. O senhor vê isso com uma vantagem?
O Espírito Santo está próximo, mas não tão próximo, porque não está dentro do Nordeste. Já no Sudeste, o estado não está inserido nos principais eixos, que são Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Então é importante enxergar essa localização com certa relatividade. Por isso, é fundamental a duplicação da BR 101 e a modernização da ferrovia que vai ligar o Estado ao Rio, porque a dimensão espacial muda de patamar quando você tem uma boa integração. Além do mais, a nova Lei dos Portos vai ser muito importante para o estado. Hoje o Espírito Santo tem a maior movimentação de cargas, mas o estado precisa fortalecer a participação em cargas gerais, com a colocação de linhas para os navios e a integração com os outros portos nacionais. Nós temos hoje o segundo maior polo de óleo e gás no Brasil. Isso, unido à implantação de uma indústria naval, que tem uma capacidade de encadeamento muito grande, com uma série de insumos que poderão ser produzidos no Espírito Santo. Então acho que o governo agora, junto com os seus braços executivos e empresas estatais, precisa chamar os empresários e mostrar melhor o Espírito Santo para alguns projetos que estão sendo estudados no Brasil.

– Mas o senhor acha que faltam projetos para aplicar os recursos no Estado?
O que faz melhorar o desenvolvimento de uma região é uma ambiência favorável, o que se faz com qualidade de mão de obra, e é preciso que o Espírito Santo encare isso com seriedade. É preciso ter boas universidades que façam pesquisas, e uma aproximação maior desses centros universitários com as empresas. É preciso ter treinamento, capacidade profissional, e ir além dos discursos. Tem que ter investimento em mão de obra do setor de serviço, que ainda tem um nível muito deficiente, ter a preocupação de melhorar o conteúdo tecnológico, pensa numa economia inclusive no âmbito da cultura, do lazer, do turismo. Esses setores que têm maior valor adicionado precisam ter mais vez no Espírito Santo, a exemplo do que acontece em outros lugares.

– Será que não falta um pouco de auto valorização, do próprio capixaba?
O Espírito Santo tem problemas, não é um paraíso. Mas este é um pedaço do Brasil que tem muitos fatores favoráveis para fazer com que os 3,5 milhões de brasileiros que aí existem vivam em melhores condições. Há um desenvolvimento econômico favorável, por exemplo empresas que estão indo para o norte do estado, beneficiando-se dessa inserção da parte norte do Rio Doce na Sudene. O que falta é o governo do estado estimular mais o crescimento das regiões deprimidas do extremo sul e sudoeste, que são as mais pobres do Estado.

– Qual a importância do crédito para o desenvolvimento do agronegócio?
Não só para o agronegócio, mas para todas as atividades econômicas, o crédito tem um papel central, evidentemente estando dentro de condições compatíveis com a capacidade de retorno de cada negocio. Para o desenvolvimento do agronegócio você precisa realmente ter crédito, porque isso organiza a produção em uma dimensão que permita alavancar os negócios, senão esta produção acaba ficando dependente apenas da sua geração de caixa. Crédito é confiança, e ter um banco público que, só no ano passado, teve R$ 156 bilhões em liberação de recursos, e que este ano deve chegar a R$ 170 bilhões, faz a diferença. Esses recursos são fundamentais para permitir que a economia realmente avance e possibilite o crescimento do PIB, necessário para atender às expectativas e à necessidade da sociedade brasileira.

– Então a agricultura familiar também tem uma busca por melhorar essa produtividade?
A agricultura familiar tem uma importância enorme para o Brasil. A atividade hoje está em outro patamar, ela é responsável pela grande maioria da geração de alimentos, e nós temos feito alguns programas em parceria com outras entidades do governo federal, como o Conape (Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca), o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O BNDES hoje responde por cerca de 18% do Pronaf na agricultura familiar, em parceria com essas entidades, inclusive articulado com o PAA, o programa de aquisição de alimentos para a merenda escolar e para atender às necessidades de cada município. Esses financiamentos, assim como os oferecidos ao agronegócio, trabalham exatamente na perspectiva de dar o combustível para que o carro funcione.

– É possível comparar os investimentos feitos na agricultura familiar com aqueles direcionados para o agronegócio?
São duas dimensões distintas, com características diferentes. Para ser ter uma ideia, para financiar a agricultura familiar, são destinados R$ 39 bilhões. Já para o plano agrícola, um programa lançado recentemente propõe R$ 136 bilhões de financiamento. Então não existe falta de crédito, pelo contrário, no Brasil nunca teve tanto crédito disponível. Agora, a presidente Dilma lançou a Agencia Nacional de Extensão Rural (Anater), além de outros programas. Tudo isso para atender ao aumento da demanda por alimentos no Brasil. Pense que nós tivemos 36 milhões de pessoas que passaram para a classe média no Brasil. Isso impõe a necessidade de ter uma produção muito grande.

– O Governador Renato Casagrande afirmou, em entrevista recente para a ES Brasil, que o Espírito Santo será, em pouco tempo, o estado mais eficiente e competitivo do Brasil. O Senhor acha que isso é possível? Em quanto tempo?
Eu não sei em quanto tempo, mas acho que o Espírito Santo tem tudo para ser, se não o maior, um dos mais. Ele já e um estado atraente hoje, e acho que tem uma série de fatores que mostram isso. Agora temos que fazer nosso dever de casa. A economia brasileira tem que continuar crescendo, com qualidade e criando uma ambiência favorável. Não é atraindo qualquer empresa, e nem a qualquer custo. É importante abrir alguns debates sobre as alternativas, como os novos projetos que estão para vir para o Estado. Mas não basta também ter grandes empresas se você não pensar na questão urbano-social em sentido mais amplo. Não basta só trazer investimento, tem que pensar em qualidade de vida.

– Hoje o estado sofre uma queda na arrecadação. Qual impacto o senhor vê na economia capixaba e, principalmente, nos investimentos públicos?
O governo federal destinou uma parcela muito grande de financiamento para o Espírito santo exatamente para ele organizar essa transição para um novo modelo. O governo estadual tem ciência disso e está aplicando, com maestria, os recursos. O impacto do Fundap é muito grande para os municípios, especialmente aqueles que dependiam das transferências, mas aquele modelo, que foi muito importante ao longo de vários anos, não tinha mais condições de se sustentar. O mundo é outro, o contexto não permitia que fosse dada essa condição de incentivo fiscal para importações no Brasil. Eu acho que o Espírito Santo está se adaptando, ou vai se adaptar, a essa nova realidade pós Fundap, não vai ser o fim do mundo. Existe vida além do Fundap. Eu tenho certeza que o Espírito santo já esta fazendo uma limonada desse limão, inclusive valorizando toda a competência do empresariado do estado.

– Mas por que não houve uma transição prévia?
Essa é uma questão que foi negociada no Senado, e a situação da economia brasileira impunha a necessidade de rever isso. Mas o governo federal se preocupou em apoiar e dar condições ao Estado, oferecendo financiamentos de longo prazo, de forma que não estrangulasse o Estado. Acredito que com esses recursos e com sua própria capacidade, o Espírito Santo vai se sair muito melhor do que as pessoas podem imaginar.

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