Município da região das Montanhas Capixabas detém o título de Capital Nacional do Agroturismo
Por Ludmila Azevedo
Muitos capixabas não fazem ideia, mas as tradicionais propriedades rurais do estado, onde a agricultura familiar se transformou em atração turística, são reconhecidas em nível nacional. A Capital Nacional do Agroturismo fica aqui no Espírito Santo, na região das montanhas: é Venda Nova do Imigrante, que recebeu o título inicialmente da Associação Brasileira de Turismo Rural (Abratur). Em 2023, o Governo Federal sancionou a Lei nº 14.636, oficializando o título dado ao município.
Segundo a prefeitura municipal, o reconhecimento oficial se deve à consolidação de Venda Nova como referência na exploração da atividade do turismo rural no Brasil, com envolvimento de 70 propriedades, 300 famílias e 1.500 pessoas diretamente atuantes.
“Venda Nova do Imigrante tem na sua história o pioneirismo na atividade de agricultura aliada ao turismo. Esse investimento foi espelhado em um projeto de agroturismo na Itália.
Na época, foi realizada uma missão técnica para adaptar a iniciativa italiana à realidade do município capixaba, com o objetivo de agregar valor às pequenas propriedades rurais que, em sua maioria, pertencem a descendentes de imigrantes italianos. O agroturismo trouxe valor e renda para os produtores rurais, que ainda celebram a cultura herdada dos seus antepassados”, relatou a diretora-executiva de projetos do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, Andréia Rosa.
Segundo informações do Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), na última década algumas culturas do município, como inhame, pimentão e morango, passaram por uma grande expansão. Os dois últimos, inclusive, evoluíram como cultivos protegidos, tornando-se disponíveis em qualquer período do ano.
A cidade é conhecida (e reconhecida) também pela quantidade e qualidade da sua produção de tomate, que corresponde, segundo o Incaper, a 9% do total produzido em todo o Espírito Santo. Venda Nova também exporta seus tomates para todo o Brasil. Por isso mesmo, há 37 anos é realizada uma festa exclusiva para celebrar o fruto: a tradicional Festa do Tomate, na localidade de Alto Caxixe. Com concurso de qualidade de produtos, apresentações musicais, coroação da Rainha, da 1ª e 2ª Princesas do Tomate e almoço típico, entre outras atrações, o evento é sempre um sucesso, atraindo muitos visitantes.
Outra festividade anual de Venda Nova do Imigrante é a Festa da Polenta, que acontece em outubro. Ainda mais popular entre os turistas, que chegam de dentro e de fora do estado, a festa é uma verdadeira celebração da cultura ítalo-brasileira. Não à toa, a polenta, iguaria típica da mesa italiana, é a estrela, servida de diversas maneiras – tanto originais, quanto criadas a partir da mistura das duas culturas: frita, com molho, com ovo, com queijo, com linguiça ou no fogão a lenha, por exemplo. O ponto alto é o “tombo da polenta”, quando uma panela gigante da iguaria despeja na frente do público centenas de quilos de polenta cozida no local.
Vivenciando a rotina no campo
Seguindo uma tendência cada vez mais potente no estado, o município tem oferecido aos visitantes, nos últimos anos, a possibilidade de vivenciar o cotidiano rural, observando de perto a produção de queijos, café, licores, cachaça e socol nas propriedades. A Rota do Agroturismo, credenciada pelo Ministério do Turismo, inclui um conjunto de 35 propriedades agrícolas familiares, hotéis e restaurantes, onde o visitante pode experimentar produtos da roça, observar e até participar do processo de produção.
O socol, um embutido feito a partir do lombo suíno, é um dos produtos de maior sucesso. Seu processo de curagem demora meses, e é realizado da mesma maneira que os antepassados italianos dos produtores faziam. Na época, sem eletricidade e sem geladeira, isso servia para fazer a carne durar mais tempo.
Uma das mais tradicionais propriedades onde se pode conhecer o socol, entre outras produções, é a Fazenda Carnielli, aberta à visitação pública e gratuita. Outro negócio da região que oferece diferentes tipos de experiências é o Khas Café. “Os três pilares do nosso projeto são café, natureza e arte, e oferecemos dez experiências turísticas distintas com base nessa expertise. Um exemplo são os piqueniques na propriedade, com possibilidade de fotos profissionais. Há ainda vivências imersivas envolvendo o café especial”, contou a proprietária, Roberta Aguilar.
Primeiro distrito turístico do Espírito Santo
Por causa de sua tradição, o município de Venda Nova foi o escolhido para receber o primeiro distrito turístico do estado: Pindobas, com acesso pela rodovia ES-166 (Rodovia Pedro Cola). Para isso, estão sendo feitas reformas e melhorias na região, com expectativa de que já possa ser visitado na edição deste ano da RuralturES – Feira de Experiências do Turismo Rural.
“A Capital Nacional do Agroturismo recebeu imigrantes italianos que, com determinação e garra, construíram uma nova história. E é na região de Pindobas que se concentram as propriedades precursoras do Agroturismo, das famílias Carnielli, Buzato e tantas outras”, lembrou a gestora nacional do polo Sebrae de Turismo de Experiência, Renata Vescovi.
O distrito turístico de Pindobas fica a cerca de 8 km da sede do município e tem boas condições de acesso. “A rodovia é asfaltada e o acesso às propriedades é bom. Com a criação do distrito, esperamos criar um ambiente favorável para o desenvolvimento sustentável e ordenado da atividade turística na região”, completou Renata.
A iniciativa envolve o Governo do Estado e a Prefeitura de Venda Nova do Imigrante, contando com o apoio de atores da cadeia do turismo como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Espírito Santo (Sebrae/ES), Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, Câmara Empresarial de Turismo da Fecomércio-ES (CET-ES), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac/ES) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ES).
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Agronegócio Capixaba aqui