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quinta-feira, 24 DE abril DE 2025

Tensões comerciais globais e seus reflexos na economia brasileira

O aumento de tarifas e a consequente deterioração das relações comerciais entre grandes economias tendem a gerar incertezas e aversão ao risco nos mercados globais

Por Ricardo Paixão

A guerra tarifária promovida pelos Estados Unidos tem implicações significativas sobre os mercados financeiros internacionais, especialmente sobre a taxa de câmbio — variável-chave para países emergentes como o Brasil. Em primeiro lugar, o aumento de tarifas e a consequente deterioração das relações comerciais entre grandes economias, como Estados Unidos e China, tendem a gerar incertezas e aversão ao risco nos mercados globais. Esse ambiente de instabilidade leva investidores a buscar ativos considerados mais seguros, como os títulos do Tesouro americano, provocando uma valorização do dólar frente às moedas de países emergentes.

No caso brasileiro, esse movimento se traduz frequentemente em desvalorização do real, à medida que o fluxo de capitais migra para economias centrais em busca de segurança. Além disso, a redução esperada no crescimento do comércio internacional — reflexo direto da escalada tarifária — pode prejudicar o desempenho das exportações brasileiras, especialmente de commodities, afetando negativamente o saldo da balança comercial. Uma balança comercial mais fraca implica menor entrada de dólares no país, pressionando ainda mais a taxa de câmbio.

O real, por sua vez, é particularmente sensível a esses choques externos devido à sua liquidez e à percepção equivocada de vulnerabilidade fiscal do país. Essa desvalorização cambial, embora possa favorecer temporariamente setores exportadores, também encarece importações e pressiona a inflação, exigindo do Banco Central medidas de política monetária que podem conter o crescimento econômico. Ou seja, a guerra tarifária intensifica a volatilidade cambial, eleva a pressão sobre as moedas emergentes como o real e impõe ao Brasil o desafio de preservar a estabilidade macroeconômica em um contexto global adverso e imprevisível.

Diante dos efeitos colaterais provocados pela guerra tarifária dos Estados Unidos, é essencial que o Brasil, e particularmente o Espírito Santo, adotem estratégias que reforcem sua resiliência econômica e ampliem suas possibilidades de inserção internacional. Em primeiro lugar, uma das formas mais eficazes de proteção consiste na diversificação de mercados. Reduzir a dependência de poucos destinos de exportação — como China e Estados Unidos — e buscar ampliar acordos bilaterais e multilaterais com outros países e blocos econômicos pode mitigar os riscos de choques comerciais.

Nesse sentido, a diplomacia econômica brasileira deve se tornar mais ativa, fortalecendo a presença em mercados emergentes, como o Sudeste Asiático, Oriente Médio e África, e aproveitando tratados existentes, como o acordo Mercosul-União Europeia, ainda em tramitação. Além disso, é crucial investir na melhoria da competitividade sistêmica, o que inclui infraestrutura logística, desburocratização do comércio exterior, inovação tecnológica e aumento da produtividade.

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Para o Espírito Santo, que possui uma posição geográfica privilegiada e infraestrutura portuária estratégica, isso significa potencializar a eficiência logística e a integração produtiva regional, tornando o estado um hub de exportação mais atrativo e preparado para se adaptar a mudanças no comércio global. Outra estratégia importante é o fortalecimento das cadeias de valor locais e regionais, por meio do estímulo à industrialização e agregação de valor às exportações capixabas.

Exportar produtos com maior conteúdo tecnológico e menos dependência de commodities básicas é uma forma eficaz de escapar da vulnerabilidade às oscilações de preços e às barreiras comerciais. Ademais, o incentivo à internacionalização de pequenas e médias empresas pode ampliar o leque de exportadores e tornar a economia menos suscetível a choques externos concentrados em grandes players.

Cada vez mais torna-se necessário adotar uma postura firme e técnica nas instâncias multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio, contestando medidas que violem os princípios do comércio justo. Portanto, proteger-se da guerra tarifária americana exige uma combinação de diplomacia estratégica, fortalecimento da base produtiva, modernização da logística e políticas públicas voltadas à diversificação e inovação, tanto no plano nacional quanto na realidade econômica do Espírito Santo.

Ricardo Paixão é economista, mestre em economia e doutorando em educação – UFES, professor efetivo da Faculdade de Ensino Superior de Linhares-ES – FACELI e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo

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