Segundo Vinicius Müller, o repasse de recursos públicos às empresas e aos cidadãos impacta positivamente na economia, retraindo a queda do PIB, que seria maior, caso não ocorresse tal ajuda
A projeção da queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro prevista para o ano de 2020 está em 8%. Se confirmada, será a maior nas últimas duas décadas, puxada principalmente pela paralisação da atividade econômica causada pela Covid-19.
E quanto mais tempo a sociedade demorar para controlar o coronavírus, maior será a queda, segundo o doutor em História Econômica e professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Vinícius Müller. Ele afirma, ainda, que o controle depende, em grande parcela, da atuação do poder público.
“O principal fator de queda do PIB em 2020 é, sem dúvida, a pandemia. Contudo, o modo como o governo contribui nesta queda depende fundamentalmente de duas frentes: a atuação em relação ao controle da pandemia e o uso de recursos públicos para ajudar setores da economia e os cidadãos”, diz ele.
O repasse de recursos públicos às empresas e aos cidadãos impacta positivamente na economia, retraindo a queda do PIB, que seria maior, caso não ocorresse tal ajuda. Contudo, o quanto vai contribuir depende da eficiência do governo.
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“Quantas pessoas serão atendidas? Quais os critérios para receberem a ajuda? Em quanto tempo esta ajuda chegará, de fato, aos beneficiados? Quais os controles sobre fraudes e desvios tem o governo? Por quanto tempo esta ajuda será dada?”, questiona o especialista.
O governo pode ainda adotar medidas de curto e de médio prazo que facilitem a retomada dos investimentos: mais responsabilidade fiscal, reformas que diminuam a burocracia e ampliem a eficiência, além de políticas sociais mais eficientes.
A economia tende a se recuperar mais rapidamente se a pandemia for controlada com mais velocidade. “A retomada do crescimento vai depender do alcance da pandemia e de como os países sairão dela. Até agora o que temos são projeções de retomada do crescimento já em 2021, mas que pouco representam frente às dúvidas que enfrentamos em relação ao número de infectados e de óbitos devido à doença, por quanto tempo a curva de infectados aumentará e, muito importante, como estará a situação política do país. Hoje não temos nenhum sinal de que ela estará equilibrada”, destaca Müller.
Mesmo que com intensidades variadas, a queda da atividade econômica será sentida em várias partes do mundo. “Isso é prejudicial para todo mundo, pois aumenta a desconfiança entre os países, tornando os custos de transação entre eles maiores. Por isso, há uma tendência de que os países adotem medidas protecionistas, dificultando as trocas comerciais”, finaliza o especialista.