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sexta-feira, 29 março, 2024

Precisamos falar (sempre) sobre democracia

É interessante notar que a população tem pouco conhecimento a respeito do que realmente foi o regime militar no Brasil

“A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. A frase do primeiro-ministro inglês Winston Churchill, proferida em 1947, continua atual. A partir de meados da segunda década do século XXI, uma onda populista ganhou força em todo o planeta. Esse movimento inevitavelmente chegou ao Brasil, e teve como ponto alto a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Hoje sob pressão, a democracia voltou ao centro do debate. Vasta literatura em ciência política tem sido produzida a respeito do tema, e também institutos de pesquisa de opinião pública têm se debruçado sobre ele. No caso brasileiro, em plena vaga bolsonarista e com o presidente e seus apoiadores ameaçando instituições como a imprensa, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, a questão ganha ainda mais relevância.

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Pesquisa do DataFolha, realizada nos dias 23 e 24 de junho último, mostra que o apoio à democracia cresceu no país. De acordo com o levantamento, 75% dos brasileiros consideram o regime democrático o melhor, contra 10% defendem uma ditadura. Em dezembro, na última pesquisa a abordar o tema, os índices eram de 62% e 12%, respectivamente. Ao que tudo indica, os ataques do titular do Planalto às instituições, que ganharam corpo em 2020, reforçaram o apreço popular à democracia.

Apesar dos arroubos presidenciais e do tensionamento do ambiente político, uma minoria acredita que o Brasil tem grandes chances de se tornar uma ditadura – 21%. Outros 49% veem nenhuma chance e 25%, um pouco de chance. Números idênticos aos de dezembro passado.

As fake news, por outro lado, geram mais apreensão. Para 81% dos entrevistados, a disseminação de notícias falsas contra o Judiciário e o Legislativo coloca em risco a democracia. Já manifestações de rua são tidas como um perigo por 68%. Assim, a CPMI das Fake News no Congresso Nacional e as investigações sobre a veiculação de notícias falsas pelo STF ganham respaldo popular.

É interessante notar que a população tem pouco conhecimento a respeito do que realmente foi o regime militar no Brasil, entre 1964 e 1985 – isso apesar do amplo apoio declarado à democracia. Por exemplo, 58% dos entrevistados desconhecem o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em meados dos anos setenta e um episódio simbólico da ditadura. O caso Riocentro igualmente é pouco lembrado – 60% nunca ouviram falar.

A principal exceção, aqui, é a Guerrilha do Araguaia, com um ligeira maioria tendo conhecimento do evento (52%). Uma hipótese a ser considerada é a de que esse baixo grau de informação se deve, em larga medida, ao fato de que a população brasileira ainda é majoritariamente jovem e, portanto, não tem na memória informação suficiente a respeito dos chamados “anos de chumbo”.

É necessária uma ressalva teórica à pesquisa. Ao ser questionado, o eleitor responde o que está no topo de sua cabeça e, nos últimos tempos, os chamados formadores de opinião e as elites em geral têm reforçado os valores da democracia. Independente disso, é inegável o apoio majoritário ao regime democrático.

“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”. Encerramos citando novamente Churchill. Em 1941, quando da invasão alemã à União Soviética, ele defendeu Stalin contra o nazi-fascismo. Hoje, essa posição precisa ser, mais do que nunca, reforçada, e a população parece disposta a apostar nela. Qualquer regime de exceção não condiz com os tempos que correm.

André Pereira César é Cientista Político e sócio da Hold Assessoria Legislativa

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