Nerleo Caus, vice-presidente da ABIH-ES e ex-secretário de Estado de Turismo, analisa gargalos na infraestrutura – dos modais à saúde
Por Munik Vieira
Cartão postal do Espírito Santo, a Pedra Azul é o símbolo do turismo capixaba. Repleta de belezas naturais – da fauna à flora -, tem uma hotelaria que passeia entre o rural e o luxo, restaurantes com chefs renomados e um termômetro convidativo.
Mas o que falta para a região alcançar vôos maiores no turismo nacional? Ser o destino-desejo de paulistas, mineiros, gaúchos, brasilienses e curitibanos? Afinal, Pedra Azul poderia virar uma ‘Campos do Jordão’?
Para Nerleo Caus, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES) e ex-secretário de Estado de Turismo, a resposta é sim, “mas não como está”.
“É preciso primeiro criar identificação do lugar, do ponto de vista turístico e Pedra Azul já está identificada. O que precisa ser feito daqui para frente é criarmos infraestrutura para que o lugar consiga se efetuar como destino e também destino de outros polos emissores, ou seja, de outras pessoas em outros Estados”, raciocina.
- Parque Pedra Azul, em Domingos Martins, amplia acesso de turistas
- Acesse nossas redes sociais: Instagram e Twitter
Ele explica que o bom turismo é construído pelos seguintes pilares: a contemplação – paisagens, cultura, belezas naturais -, a infraestrutura – estradas boas, telefonia, postos de saúde -, e a comunicação.
“Já passou da hora de Pedra Azul pensar em uma alternativa do ponto de vista modal. Cabe também pensar em um pequeno aeroporto para pequenas aeronaves, principalmente com a possibilidade de retorno dos jogos de cassino ao Brasil”, já projeta.
“O distrito de Pedra Azul, devido a sua geografia, pelo conjunto de habitantes locais que atende aos requisitos mínimos de mão de obra, tem grande capacidade de se tornar uma referência nacional. Cabe agora o cuidado com a infraestrutura”, continua Caus.
“Além disso, aqui temos uma crescente produção agrícola artesanal, que por si só retém mão de obra local e estimula em grande escala as experiências turísticas do agronegócio. É possível transformar Pedra Azul em um destino consolidado a partir dessas ações. Não somente para os capixabas, mas sim o nível de Brasil”, continua.
Primeiro setor
Além da estrutura e melhoria na mobilidade, Caus avalia que o oferecimento de uma estrutura de saúde básica de emergência é fundamental.
“Hoje em dia, se uma pessoa sofre algum acidente na região, precisa se deslocar para Vitória. Isso gera insegurança ao turista. Outro ponto, é a comunicação dos serviços e ensino aos profissionais que são escassos”, critica.
“Vale ressaltar que, para atrair o turista não é necessário apenas que você treine a população e os profissionais que vão atender aos visitantes. É preciso oferecer uma boa estrada para chegar até ao local, estabelecer um bom serviço de comunicação e segurança como um todo”, ressalta.
“Afinal, não adianta construir um hotel de 6 estrelas na região de Domingos Martins e não ter uma estrada pavimentada para que as pessoas cheguem até ele. E se as pessoas não chegam, logo não aproveitam o bom treinamento dado aos funcionários. Por isso, treinamento é apenas um dos investimentos a serem feitos”, pondera.
Para o vice-presidente da ABIH-ES, outra forma de alcançarmos melhorias são por meio dos incentivos fiscais que podem ser concedidos para as pessoas da região e os incentivos para o pequeno setor, juntamente com o incentivo ao esporte de montanha. Porém, sem perder de vista uma boa e rígida legislação ambiental local para se evitar aventuras imobiliárias, desvalorizando e fragilizando o segmento montanha.
Em alta
“É importante ressaltar que o turismo de montanha tem crescido ao longo do tempo, muito pela necessidade das pessoas buscarem contemplação ao ar livre. Isso impulsionou bastante o turismo de contemplação. De modo geral, também é uma boa opção de moradia para pessoas aposentadas ou que querem viver um pouco fora do ritmo cansativo das cidades”, contextualiza Caus.
“Então você tem dois lados: primeiro é a questão da própria pandemia que empurra o ser humano a buscar essas alternativas. Segundo, a qualidade da moradia das nossas montanhas em Pedra Azul, por exemplo, que fica a pouco mais de uma hora da cidade e consegue atender aos pré-requisitos de ambientação, clima e, além disso, possui bastante participação da iniciativa privada, gerando muitas possibilidades. Portanto, Pedra Azul pode ser sim, a nova Campos do Jordão”, finaliza.
Conheça a Rota do lagarto
A chamada Rota do Lagarto se inicia no km 88 da BR 262 e se estende por mais ou menos 7 km até a Rodovia ES 164.
O nome se deu porque em quase toda a extensão da Rota você tem a visão da Pedra e do seu lagarto. Do início ao fim o que não falta são cenários deslumbrantes.
A mata ao redor da pista faz com que você se sinta em um túnel e te convida a desligar o ar condicionado do carro e sentir o frescor da natureza, reduzir a velocidade e apreciar a paisagem. A depender da época de sua visita, os ipês, manacás, cerejeiras e giestas florescem e tomam conta da nossa encantadora região.
Parque Pedra Azul amplia acesso de turistas
O Parque Estadual da Pedra Azul, localizado em Domingos Martins, que antes tinha limite diário de 100 pessoas, agora passa a receber até 150 visitantes por dia.
A Unidade de Conservação terá acesso feito mediante a distribuição de fichas, por ordem de chegada, a partir das 8 horas da manhã.
Os turistas poderão entrar no parque às 8h, 9h, 10h, 11h, ou às 13 horas, sendo limitada a entrada de 30 pessoas por horário. O parque funciona de terça-feira a domingo, só sendo permitido permanecer nele até às 16 horas. Vale ressaltar que a entrada é gratuita.