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quinta-feira, 25 abril, 2024

2018: o ano em que o Brasil parou… e depois “rachou”

Mobilização e radicalismo resumem os dois principais acontecimentos no país no período

Muitos foram os fatos marcantes em 2018, mas nada superou a greve dos caminhoneiros. Após o governo federal anunciar o 12º aumento do custo do óleo diesel, sob a justificativa de estar seguindo o mercado internacional, profissionais da categoria se articularam por WhatsApp e, em 21 de maio, na segunda-feira que entrou para a história, iniciaram o movimento que parou o Brasil.

A manifestação trouxe caos à população. Em poucos dias, a escassez de combustível e de produtos de primeira necessidade como alimentos e remédios instaurou a sensação de crise no país. Filas nos postos de gasolina e desabastecimento nas cidades não foram os únicos impactos negativos imediatos. A paralisação gerou um prejuízo de R$ 15 bilhões para a economia nacional, de acordo com o então ministro da Fazenda, Eduardo Guardia – a cifra corresponde a 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Na pecuária capixaba estimam-se R$ 50 milhões entre perdas na produção e no transporte. Foram identificados no Estado 26 pontos de bloqueio nas estradas e 7,6 mil caminhões parados. Nas prateleiras dos supermercados, os hortifrutigranjeiros foram os primeiros a faltar após sete dias de protesto, e os poucos encontrados estavam até 150% mais caros, como as batatas.

Para a indústria do Espírito Santo, o baque estimado foi de R$ 200 milhões. Indicadores mostram que o setor recuperou parte das perdas amargadas. O faturamento real aumentou 26,4% em julho na comparação com maio, na série livre de influências sazonais, contornando com folga a queda de 16,7% de maio, informa a pesquisa divulgada em agosto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Mas a greve não foi o único fator que estremeceu o cenário econômico, que segue cambaleante. “A retomada da atividade industrial já era lenta, e o quadro geral piorou no segundo trimestre”, comenta o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. Ele explica que isso é resultado de vários fatores. “Além da piora do panorama externo, há aumento do nível de incerteza, com dúvidas sobre a política econômica a ser adotada a partir do resultado das eleições, e sobre os desdobramentos da recente crise de transportes de carga rodoviária. Não podemos nos esquecer de que a intervenção no livre-mercado e na concorrência decorrente da tabela de fretes mínimos acarreta incerteza jurídica e, caso efetivada, aumento de custos na economia”,
lembra o dirigente.

2018: o ano em que o Brasil parou... e depois “rachou”
Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Eleições

O segundo momento de maior destaque no país em 2018 se deu em torno das disputas nas urnas. No ano em que a Constituição Federal, promulgada em 1988, completa três décadas, as eleições gerais – para os cargos de presidente, deputados federais e estaduais, senadores e governadores – trouxeram para a pauta de discussões diárias a “gana” pelo fim da corrupção, os diversos direitos conquistados pelos brasileiros e o medo de perdê-los.

Foi uma batalha também marcada pelo uso das mídias sociais e aplicativos de troca de mensagens, mas pontuada, principalmente, pela polarização. O resultado da votação mostrou novamente uma nação rachada ideologicamente na escolha do novo presidente da República. Uma divisão que surgiu em 2006, fruto da disputa entre PSDB e PT, enfatiza o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie.

“A recuperação da atividade industrial já era lenta, e o quadro geral piorou no segundo trimestre” Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da CNI

“As eleições deste ano trouxeram uma renovação histórica do parlamento em Brasília. Os estreantes serão maioria no Senado na próxima legislatura. Contrariando as pesquisas de intenção de votos, o pleito para renovação do mandato de 54 das 81 vagas, marcado pelos desdobramentos e repercussões da Operação Lava Jato, retirou da Casa grandes medalhões de partidos tradicionais, incluindo o presidente do Congresso, Eunício Oliveira (MDB-CE). O índice de renovação na Câmara foi de 47,37%, e apenas um em cada quatro senadores que tentaram a reeleição saíram vitoriosos”, enumera Prando.

As urnas no Espírito Santo acompanharam o movimento nacional. A renovação na Assembleia Legislativa foi de 50%; na bancada federal capixaba também foram anotadas muitas trocas. A mais relevante delas foi a saída dos senadores Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB), que perderam as cadeiras para os estreantes Fabiano Contarato (Rede) e
Marcos Do Val (PPS).

A expectativa do mercado financeiro e de todos os brasileiros é que tanto o presidente quanto os governadores sejam capazes de melhorar a eficiência da gestão, diminuindo custos e atraindo investimentos.

Copa do Mundo

Antes das eleições, a nação até parou por um tempo para assistir aos jogos do Mundial de futebol, com direito a polêmica envolvendo torcedores brasileiros que desrespeitaram mulheres na Rússia – anfitriã da competição pela primeira vez –, com “brincadeiras” nada elegantes.

A Copa 2018 entrou para a história por ter sido a mais cara de todas, com um custo total de US$ 14,2 bilhões, e por estrear o uso do árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês) no torneio. Apesar do burburinho em torno da novidade, o recurso foi ignorado em alguns lances.

A 21ª edição do evento esportivo foi a primeira promovida no Leste Europeu. Começou em 14 de junho, mas perdeu a graça para a torcida verde-amarela em 6 de julho, quando o Brasil foi eliminado da competição pela Bélgica, por 2 x1, na cidade de Cazan, durante as quartas de final. Na decisão pelo título, melhor para a França, que venceu a Croácia por 4 x 2 no dia 15 do mesmo mês, em Moscou.

2018: o ano em que o Brasil parou... e depois “rachou”
Símbolo da Lava Jato, Sergio Moro deixou a carreira de juiz para ser ministro de Bolsonaro
Lava Jato

O convite do presidente eleito Jair Bolsonaro aceito por Sérgio Moro para ocupar a chefia do Ministério da Justiça e Segurança Pública esteve entre os momentos polêmicos do ano. O agora ex-juiz, que deixou seu cargo na 13ª Vara Criminal de Curitiba (PR) em 19 de novembro, assumiu posto na equipe de transição para o novo governo. Quando estava à frente da Lava Jato, o então magistrado emitiu 46 sentenças, com 215 condenações contra 140 réus. Há ainda 36 acusações em trâmite. Os crimes denunciados, segundo levantamento do Ministério Público Federal (MPF), envolveram pagamento de R$ 6,4 bilhões em propinas.

Até a escolha do substituto de Moro, os processos da megaoperação vão se manter sob a tutela da juíza substituta Gabriela Hardt, que em 14 de novembro interrogou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ação penal do sítio de Atibaia (SP).

Coreias

No cenário internacional, deu o que falar um encontro histórico, realizado em abril,
na zona desmilitarizada, entre o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Um, e o da Coreia do Sul, Moon Jae-In. Na pauta, o anúncio de um esforço conjunto para desnuclearizar a península e encerrar, oficialmente, a guerra da Coreia.

Mas as negociações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte para pôr fim a seu programa nuclear parecem ter cessado desde que os presidentes Donald Trump e Kim Jong-Un participaram de uma cúpula também histórica em Singapura, em junho. Os dois polêmicos mandatários devem voltar a estar juntos em janeiro ou fevereiro de 2019.

2018: o ano em que o Brasil parou... e depois “rachou”
Incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro destruiu quase todo o acervo local
Memórias queimadas

Em plena Semana da Pátria, os brasileiros acordaram mais tristes. No dia 3 de setembro, um incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, localizado na Quinta da Boa Vista, na zona norte, destruiu quase todo o acervo local, o mais completo do país em termos de exemplares (20 milhões de itens dos mais variados temas, coleções de geologia,
paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia). No prédio também estava o maior conjunto de múmias egípcias das Américas.

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, acredita que a falta de verba não permitiu obras de melhoria na infraestrutura. “Esta é uma edificação muito antiga, que foi concebida quando não havia tanto consumo de energia como usam as edificações acadêmicas. A restauração projetava a instalação de um sistema de prevenção de incêndio muito robusto”, disse.

Diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner cobrou responsabilidade do governo federal e pediu apoio para a reconstrução. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em maio, ele lamentou a precariedade da estrutura e os cortes de recursos para manutenção do espaço, que recebia cerca de R$ 520 mil anuais para arcar com as despesas, mas desde 2014 não registrava a entrada integral desse valor.

E o que ocorreu em terras fluminenses parece não ter servido de lição para os capixabas, já que pelo menos quatros museus no Espírito Santo estão com o alvará de funcionamento vencido.

2018: o ano em que o Brasil parou... e depois “rachou”
Os líderes das Coreias do Norte e do Sul selaram acordo para pôr fim aos conflitas
Boas notícias

O entreposto da Zona Franca de Manaus no Espírito Santo iniciou as suas operações em agosto, com armazenamento de produtos. O primeiro cliente foi a Daikin Ar Condicionado Brasil, multinacional pertencente ao grupo japonês de mesmo nome e que já utiliza o centro de distribuição capixaba para armazenar equipamentos da sua linha residencial.

O vice-presidente da companhia, Norihisa Kitamura, destacou a relevância da estrutura, em Cariacica, para a empresa, que passou a contemplar um maior número de clientes. “Para entregar um produto para um cliente em São Paulo, tínhamos que reunir uma certa quantidade, pois ficava difícil enviar poucas unidades. Com o entreposto aqui no Espírito Santo, conseguimos atender às necessidades de vários clientes. Portanto, para nós, da Daikin, este é um local muito importante”, ressaltou.

O governador Paulo Hartung apontou o trabalho feito pelo Estado para melhorar a competitividade e facilitar a vinda de negócios. “Estou feliz por celebrar esta conquista importante, este centro de distribuição. Esperamos que seja a primeira de muitas empresas e que a Daikin olhe o Espírito Santo com outras oportunidades oferecidas ao desenvolvimento das empresas. Temos que seguir em frente, melhorar a infraestrutura e a educação do nosso Estado e criar as bases para que o Espírito Santo possa continuar sendo um diferencial no nosso país”, declarou à época.

Um dos anúncios mais aguardados de 2018 foi a data de inauguração do novo Aeroporto de Vitória, finalmente entregue em março após 16 anos de espera. As obras, iniciadas em 2005 e paralisadas dois anos depois, foram retomadas somente em 2014, depois de novo processo licitatório.

O governo federal investiu R$ 559,4 milhões no complexo. O terminal de passageiros tem área de 29,5 mil metros quadrados. A pista de pouso e decolagem possui 2.058 metros de extensão por 45 metros de largura. O espaço é capaz de receber aeronaves do tipo Boeing 767-200, além de contar com pistas de taxiamento de aeronaves.

“A ampliação contribui para o crescimento da economia do Estado e proporcionou aos capixabas um aeroporto moderno e confortável, comparável aos melhores do país”, afirmou o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella.

No campo econômico, uma outra boa-nova: o Espírito Santo foi o único estado do país a alcançar nota máxima “A” do Tesouro Nacional no Boletim de Finanças divulgado em novembro. O relatório é visto como um ranking das unidades federativas que melhor cuidam das contas. A avaliação vai de “A” a “D”.

Na edição de 2017, o Espírito Santo também obteve nota A, dividindo o topo da lista com o Pará. Em 2018, contudo, o desempenho capixaba foi o único a alcançar o resultado máximo. Em coletiva de imprensa, o governador destacou que o Estado enfrentou a crise nacional nos últimos três anos resolvendo as prioridades. “Sofremos o impacto do alto desemprego, fomos altamente atingidos com a crise do petróleo e gás, mas conseguimos pagar os fornecedores e funcionários sem fazer endividamento. Tivemos uma boa equipe para analisar questões e enfrentar os problemas. Montamos uma estratégia para acabar com as dívidas, fizemos cortes necessários e focamos a educação e a saúde”, explicou Paulo Hartung.

E o ano ainda teve mais uma notícia a se comemorar, especialmente para quem vive na Serra. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade ultrapassou a marca de meio milhão de habitantes e manteve o título de mais populosa do território capixaba, com 507.598 moradores – só nos últimos oito anos, o município ganhou mais 100 mil. A atração de grandes empresas e novos projetos imobiliários vem contribuindo para o salto demográfico, avalia o coordenador de Governo da Serra, Jolhiomar Massariol. “Sucessivos investimentos em obras públicas têm atraído para cá trabalhadores”, destacou.

Segurança

O primeiro semestre deste ano anotou o menor número de homicídios desde 1989, com destaque para a queda no índice de mortalidade entre jovens. Em 10 anos, o Estado anotou a segunda maior redução do volume de óbitos masculinos por causas externas, que incluem homicídios, suicídios e acidentes de trânsito, entre outras. Houve queda na ordem de 25,9% em ocorrências de morte, no grupo de pessoas entre 15 e 24 anos de idade. No topo dessa estatística está o Paraná, com recuo de -43,2%.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no dia 31 de outubro, apontam ainda que, no ano passado, 2.867.701 nascimentos foram registrados nos cartórios do Brasil. Em comparação com 2016, houve aumento de 2,6%. No Espírito Santo, o percentual é ainda mais alto, 5,9% de expansão. Ainda no grupo com os índices mais elevados estão em: Sergipe (5,1%), Rondônia e Rio de Janeiro (5,8%), Acre e Mato Grosso do Sul (6,3%) e Tocantins (9%).

2018: o ano em que o Brasil parou... e depois “rachou”
Vista aérea do Rio Doce, que foi afetado pelo desastre ambiental de Mariana MG)
Rio Doce

Após três anos do rompimento da barragem da Samarco, no município mineiro de Mariana, que causou o mais grave desastre socioambiental da história do país, ações de indenização e reparação ainda tramitam na Justiça, e há pessoas que nem sequer são reconhecidas como atingidas.

Se por um lado sobram críticas contra a morosidade das ações por parte da Fundação Renova, criada pela mineradora e suas controladoras – as gigantes Vale e BHP Billiton – para lidar com as consequências da tragédia; por outro, os milhares de trabalhadores e os gestores de municípios que tinham parte considerável de sua receita ligada ao funcionamento da Samarco, como Anchieta, no Espírito Santo, aguardam ansiosos o retorno das atividades da empresa.

“Vidas humanas e patrimônio histórico foram destruídos nesse desastre, isso não tem como repor, mas minimamente nós temos trabalhado para que se reponha o que for possível, no ponto de vista econômico, ambiental e social. Precisamos recuperar os danos que são possíveis, ter uma visão proativa e colocar a empresa para funcionar”, defende o governador Paulo Hartung, que está deixando o comando do
Executivo estadual.

Economia

A economia capixaba avançou mais que a nacional no processo de retomada do crescimento este ano, já acumulando elevação de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse bom desempenho se deu como resultado de expansão de 14% no comércio varejista ampliado, pois a indústria e o setor de serviços ainda se encontram estagnados, explica o economista Eduardo Araújo. “Destaque positivo vai também para boa gestão fiscal. Tanto o governo estadual quanto a prefeitura da capital receberam nota máxima na avaliação da capacidade de pagamento pela Secretaria do Tesouro Nacional”, aponta.

Com mais recursos em caixa, acrescenta Araújo, o desafio para o próximo ano é progredir nas frentes ligadas à infraestrutura, com obras públicas. “Se isso ocorrer, é provável que haja uma queda mais acentuada no desemprego, por conta de expansão de contratações no setor de construção”, prevê.

O desemprego caiu este ano, mas em ritmo insuficiente. “Há ainda 242 mil capixabas à procura de uma oportunidade de trabalho, o dobro do que se tinha antes da crise”, reforça.
A perspectiva para 2019 é de crescimento em ritmo igual ou superior ao nacional. “É torcer para que as reformas avancem no país, pois se o Brasil cresce o Espírito Santo tende a crescer mais ainda”, afirma.


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