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sábado, 27 abril, 2024

Água: o ES está preparado para o que está por vir?

Água: o ES está preparado para o que está por vir?

Todos desejam o desenvolvimento, mas ninguém quer problemas por causa dele. A ordem é buscar a sustentabilidade. Nessa equação, a água, um bem público, porém dotado de valor econômico, centraliza preocupações e discussões de toda a sociedade e dos especialistas. Afinal, o Espírito Santo tem água suficiente para suportar todos os investimentos anunciados e garantir o abastecimento humano, atual e futuro?

“Nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal.” A frase é de Cícero, filósofo, linguista, escritor, orador, advogado e político, uma das mentes mais versáteis e influentes do Império Romano. Cícero viveu entre os séculos 106 e 43 a.C., mas suas palavras servem como um alerta permanente.

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No Espírito Santo, por exemplo, a ignorância sobre as consequências do desmatamento desordenado permitiu que o Estado sofresse um intenso processo desse tipo, especialmente nas décadas de 60 e 70. Por conta disso, restam hoje apenas 474.840 hectares de sua cobertura vegetal original, constituída por 4.614.841 hectares de Mata Atlântica – a mais ameaçada do planeta. Os dados, relativos a 2009 e divulgados no ano passado, são da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). A Organização das Nações Unidos (ONU) declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas, tamanha sua responsabilidade direta na conservação da biodiversidade e na garantia da sobrevivência de bilhões de pessoas.

Foi também o parco conhecimento que se tinha acerca das relações de interdependência direta entre preservação de florestas e de mananciais (se aquelas são derrubadas, estes são comprometidos) que deu origem à situação atual da sociedade capixaba, que convive com o temor da escassez de água. Um caso recente que comprova isso envolveu a licença para a instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que inicialmente seria construída pela Vale em parceria com chineses na cidade de Anchieta, litoral sul do Estado.

O projeto chegou a ser oficialmente anunciado, com o então governador Paulo Hartung, autoridades e empresários tendo inclusive assinado o protocolo de intenções que instituiria a empresa – um investimento de cerca de US$ 5 bilhões. Mas, ao concluir os estudos de impacto ambiental, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Seama), por intermédio do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), negou ao empreendimento a licença definitiva. A população, insegura desde o início sobre a relação custo/benefício da usina, aplaudiu a decisão. Preferiu a garantia de água abundante aos supostos empregos e impostos que seriam gerados.

Mas engana-se quem pensa que os maiores consumidores de água são as indústrias. Em todo o mundo, a demanda maior vem da agricultura, com a indústria ocupando o segundo lugar e, por último, o consumo humano (residencial e comercial). No Espírito Santo, as proporções são semelhantes.

Água, usos e disponibilidade
À moda dos filósofos, o povo também cunha suas frases, e uma delas diz: “Farinha pouca? Meu pirão primeiro!”. Traduzindo: diante do enorme volume de investimentos anunciados para esta década no Espírito Santo – nada menos do que R$ 62,2 bilhões somente até 2014, em portos, ferrovias, usinas e fábricas diversas, entre outros – existe o receio de que não haja água suficiente para atender a todos ou, pelo menos, não com a qualidade adequada ao consumo humano.

No entanto, comprometidas com a responsabilidade socioambiental e com caixa para investir em pesquisa e desenvolvimento, as indústrias implementaram melhorias em seus processos produtivos que, além de reduzirem a demanda, permitem alcançar altos índices de reutilização da água. A ArcelorMittal Tubarão, por exemplo, reaproveita cerca de 97,5% da água que usa, apresentando atualmente um consumo específico (água bruta comprada da Cesan/tonelada de aço produzido) de apenas 3,9 m3/h. Na Vale, o índice de reaproveitamento de água, nos últimos anos, praticamente se manteve no patamar de 74%, mesmo diante do crescimento da produção e da entrada em operação de novas unidades. Na Samarco, o percentual de reciclagem da água, em 2009, alcançou 91,03%.

De acordo com o professor e pesquisador Roberto Avelino Cecílio, doutor em Engenharia Agrícola na área de Recursos Hídricos e Ambientais, em se tratando de ameaça à disponibilidade de água é preciso considerar dois fatores principais: “a poluição, que causa redução da qualidade dos corpos hídricos, tornando-os indisponíveis para o abastecimento humano e animal e a irrigação de hortaliças, por exemplo, e o aumento do consumo. Este, um fator importantíssimo, é de difícil controle, uma vez que se deve ao crescimento populacional e econômico, que pressiona a demanda por água para abastecimento das cidades (cada vez maiores), para o uso por indústrias (cada vez mais presentes em nosso Estado) e para a produção de alimentos destinados a uma população cada vez mais numerosa”.

O professor, que dá aulas de Recursos Hídricos e Manejo de Bacias Hidrográficas no Departamento de Engenharia Florestal da Ufes (no campus de Jerônimo Monteiro, sul do Estado), destaca que a palavra escassez não deve ser entendida em termos de quantidade de água, mas sim de sua disponibilidade.

“Caso entendamos que haverá pouca água, sinceramente não vejo essa possibilidade, a não ser que ocorram mudanças climáticas mais drásticas do que aquelas projetadas para as próximas décadas. Por outro lado, se interpretarmos esta ‘escassez’ como menor disponibilidade dos recursos hídricos, existe possibilidade de escassez, em um horizonte de tempo de curto a médio prazo, em algumas bacias hidrográficas do Estado. Isto é, a água existe, mas, por algum motivo, não pode ser utilizada para todos os usos demandados pela população capixaba. Os motivos podem ser os mais diversos, desde a poluição até a superexploração da água por parte de um setor usuário, impedindo o uso por outro – por exemplo, retirada excessiva de água de um rio para abastecimento industrial ou irrigação, inviabilizando a navegação ou o abastecimento de cidades.”

O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) revela que entre os principais problemas enfrentados para a melhoria da qualidade e da quantidade de água nas bacias capixabas estão a ocupação desordenada, o desmatamento e a falta de programas de tratamento de esgoto ao longo dos anos, que resultaram em poluição e assoreamento dos rios.

Leia esta matéria na íntegra na edição de fevereiro da Revista ES Brasil

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