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sábado, 27 abril, 2024

Músico capixaba volta aos palcos após 10 anos nas ruas

A reportagem de ES Brasil conversou com o músico, que contou suas expectativas para o show

Por Rafael Goulart

Elias Belmiro é considerado uma referência da música instrumental brasileira, com mais de 30 anos de carreira e quatro discos gravados, o violonista conquistou fama após uma interpretação da obra de Heitor Villa-lobos em 1996.

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Apesar de já ter se apresentado como solista convidado na Espanha, Inglaterra, França e Alemanha, além de ter participação no Quinteto Maurício de Oliveira, o capixaba passou os últimos 10 anos lutando contra o alcoolismo e dependência química, o que o afastou dos palcos e o levou para as ruas.

Agora, depois de tanta adversidade, o retorno aos palcos tem um significado especial para o músico que lança seu novo álbum: Reencontro.

 “Este projeto representa um resgate das minhas várias façanhas, incluindo a minha música dita instrumental e o meu violão”, contou o artista.

História e superação

Nascido em 1968, em Vitória, foi aos 15 anos que Elias Belmiro começou a arranhar as primeiras notas musicais. Seu pai Eurico Belmiro, que foi trombonista da Polícia Militar, tocador de choro profissional e violonista foi quem ensinou os primeiros acordes ao talentoso músico.

Em 1990, Elias se mudou para o Rio de Janeiro, onde se formou em História e para se sustentar atuou em bailes e casas noturnas como músico.

Também foi nessa época que ele se formou em violão na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante o curso, estudou violão clássico com Turíbio Santos.

De volta ao Espírito Santo, foi professor da Faculdade de Música do Espírito Santo Maurício de Oliveira (Fames), de 1992 a 2002 e, por igual período, foi educador social no CAJUN (Caminhando Juntos), projeto sociocultural da Prefeitura de Vitória, voltado para o apoio a crianças e adolescentes em situação vulnerável. Nesse projeto, formou a primeira Orquestra de Violões de Vitória e a Orquestra de Cordas do Bairro Santo André, na região da Grande São Pedro.

Sua estreia em disco ocorreu em 1996, com o álbum “Villa-Lobos Interpretado Por Elias Belmiro”, distribuído pela gravadora Kuarup.

Dois anos depois, três faixas deste disco foram compiladas no CD “Villa-Lobos”, como parte da série “Grandes Compositores”, lançada no Brasil e nos Estados Unidos pelos selos Abril Coleções e Time-Life. 

Em 2000, também pela gravadora Kuarup, Elias Belmiro lançou o CD “Influências”, no qual interpreta composições de Dilermando Reis, Villa-Lobos e temas de sua autoria, entre os quais “Pernambucando”, “Magoado? ”, “Gnatalli samba” e “Mauriciando”, todos incluídos no repertório do show do próximo sábado.

Entre suas participações em concertos destacam-se temporadas na Europa, diversas apresentações junto à Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES) e a circulação em espaços como o Memorial da América Latina (SP); Museu Villa-Lobos (RJ); Teatro de Bolso (Campos, RJ); Teatro Municipal de Juiz de Fora (MG); Teatro Guaíra (Curitiba, PR) e o Teatro Carlos Gomes, em Vitória (ES).

A reportagem da ES Brasil aproveitou a ocasião da volta do músico aos palcos e preparou uma entrevista especial. Confira:

ES Brasil – Você já se apresentou, em 2021, depois de 10 anos fora dos palcos, mas essa é sua primeira apresentação com músicas e show autoral, certo? Como está se sentindo para este show?
Elias Belmiro – Muito ansioso. Estou ensaiando enquanto isso.

E como foi que você descobriu o seu talento para o instrumento e para a música em geral?
Meu pai tinha uma vitrola antiga e ele colocava o disco do Dilermando Reis para tocar todo fim de tarde, aí eu ouvia e ficava olhando para o violão dele, até que comecei a arranhar as cordas e então ele me perguntou se eu queria aprender.

Então foi seu pai quem te ensinou? Lembra qual foi a primeira música que aprendeu?
Sim, meu pai que me ensinou, ele sabia tocar as músicas só de ouvido e perguntou se eu queria aprender. A primeira música que aprendi foi Sons de Carrilhões de João Pernambuco.

E quando você decidiu que queria seguir a carreira de músico profissional?
Eu queria aprender uma música chamada Romance de Amor e comecei a dedilhar, só para apurar minha técnica. Depois procurei o grande músico capixaba Maurício de Oliveira e pedi para que ele me ensinasse violão.

E como ele reagiu?
Ele disse que eu ainda estava muito cru e me indicou para o seu filho na Escola de Música do Espírito Santo. Eu iniciei as aulas, mas em pouco tempo já estava avançado demais para a classe.

Foi nessa época que você iniciou suas apresentações?
Eu me juntei com uns amigos e a gente formou uma banda. Como eu gosto de sentir as cordas, prefiro tocar sem palheta, escolhi ser baixista. Nossa banda tocou em muitos bailes e festas. Foi uma época muito boa, a gente viajava muito e animava a galera com um som bem eclético com muitos covers.

Alguma canção dessa época de marcou?
Sim! “Final Count Down” do grupo Europe. Era uma energia incrível. Era só começar o teclado da abertura que já começava a gritaria e a agitação da galera. Eu me sentia um rockstar.

E como foi gravar o primeiro álbum?
Eu fui muito ousado de gravar uma interpretação de Villa-Lobos. Gravei no Rio de Janeiro, só tinha eu e o cara da mesa de som no estúdio. Gastei o que equivaleria a cerca de R$12 mil hoje. Na época não tinha isso de editar no computador. Gravei no rolo, direto! Toda vez que errava tinha que voltar desde o começo e gravar tudo de novo.

E como foi se afastar da família para seguir carreira e principalmente como seu pai lidou com isso?
Ele disse “perdi meu filho” quando comecei a virar roqueiro. Ele era bem conservador e queria que eu entrasse para a banda da Polícia Militar como ele. Sempre dizia que eu ia ter emprego garantido para a vida toda. Mas eu não queria. Ele até relutou, mas depois dos 18 anos viu que não podia segurar mais.

Você já fez projetos sociais com comunidades carentes, como foi a experiência?
Eu gosto muito de trabalhar em projeto social. Nas comunidades há muita gente talentosa que precisa de ajuda para conseguir se dedicar aos estudos. Falta oportunidade para esses talentos.

E você conseguiu formar grandes talentos nesses projetos?
Sim. Alguns alunos meus realizaram o sonho do meu pai por mim e entraram para a banda da Polícia Militar. Eu consegui formar a primeira Orquestra de Violões de Vitória e a Orquestra de Cordas do Bairro Santo André lapidando essas joias. Alguns alunos eu precisei dedicar aulas individuais.

E quais são suas grandes referência da música?
Primeiro o maior violonista de todos os tempos e a principal referência de qualquer violonista, seja iniciante ou profissional: Andrés Segovia, que foi o cara que introduziu o violão nos palcos até então restrito ao piano. Antes dele violão era coisa de poema e serenata apenas. E também sou muito fã do guitarrista Yngwie Malmsteen que toca música erudita na guitarra.

E o que mais te marcou na carreira?
A época da banda, a expedição que fiz para o Rio de Janeiro tocando de bar em bar e as experiências nos projetos sociais. É muito gratificante ver os pais felizes porque os filhos estão aprendendo violão.

Ajuda dos amigos

Em 2020, a história de luta de Belmiro ganhou os noticiários nacionais e virou reportagem no programa “Fantástico”, da TV Globo, quando o músico saiu da clínica de reabilitação após 10 anos vivendo nas ruas.

Ao ver a reportagem, amigos e outros admiradores ficaram comovidos com a situação do talentoso violonista e decidirem se unir para trazê-lo de volta aos palcos e assim dar continuidade a sua brilhante carreira.

Em dezembro de 2021, o violonista recebeu o convite para apresentar-se como solista convidado do concerto de Natal da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES), sob a regência do maestro Helder Trefzger, onde teve a oportunidade de executar o “Concerto para violão e orquestra de Aranjuez”, obra mundialmente conhecida de Joaquín Rodrigo.

Idealizador do espetáculo e integrante do grupo que acompanha o violonista, o artista multilinguagem Luccas Martins exalta a técnica refinada e a musicalidade de Elias Belmiro: “Elias é um grande violonista e compositor. Sua obra é muito brasileira, a tirar por sua ligação e reconhecimento em executar a obra de Villa-Lobos. O choro também é muito presente em suas composições, então celebrar a sua obra é também exaltar o choro como um todo e, consequentemente, o choro capixaba”, comenta.

Serviço:
Show: “Reencontro: Elias Belmiro de volta aos palcos”
Data: 25 de fevereiro (sábado)
Horário: 19h
Local: Casa da Cultura Sônia Cabral, Rua São Gonçalo, Cidade Alta, Vitória. CEP 29.015-210
Entrada franca

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