Até meados do século XX, toda a região de Goiabeiras, com seus 7,7 milhões de metros quadrados, pertencia a alguns poucos fazendeiros, produtores de gado de corte e de leite, e o direito de cobrar impostos era disputado pelos municípios de Vitória e da Serra
O pior é que, enquanto não se resolvia a questão, nenhum dos dois municípios realizava benfeitorias naquelas terras. Esse conflito de jurisdição durou até 1942, quando a área foi incorporada definitivamente ao município de Vitória. Entre outras, existiam na região as fazendas do coronel Manduca Nunes e de Dorinho Nunes e as terras de Lourival Nunes (pai do ex-prefeito da Serra Aldary Nunes), onde foi construído o conjunto Atlântica Ville.
No Jardim da Penha, região conhecida na época como Mata de Maruípe, Aristóteles Meireles comandava a sua fazenda. Henrique José Ribeiro era proprietário das terras que englobam hoje os bairros de Antonio Honório, Maria Ortiz e Solon Borges, e Rômulo Castelo foi o dono da área correspondente atualmente aos bairros República e Morada de Camburi.
Durante a II Guerra Mundial, o perfil de Goiabeiras mudaria radicalmente. O “campo de aviação”, que já existia desde a década de 1930, foi equipado para receber aeronaves de maior porte, que faziam o patrulhamento do litoral, e, anos depois, passou a ser o atual Aeroporto de Vitória. Como havia necessidade de iluminar a pista, para balizar voos noturnos, Goiabeiras recebeu um gerador que, após a guerra, iria beneficiar a pequena população local e iluminar as casas no período das 6 horas da tarde à meia-noite. A água encanada só chegou à região em 1958, e os moradores passaram a contar com energia elétrica em 1962.
Nos primeiros tempos do bairro, era intensa a atividade pesqueira, que se estendia até a região de Camburi e os mangues. Os moradores mais antigos garantem que foi em Goiabeiras que surgiu a receita da autêntica moqueca capixaba, orgulho da nossa culinária. E as paneleiras, ali instaladas, preservam a tradição artesanal herdada dos indígenas, que já fabricavam panelas de barro bem antes do desembarque dos portugueses.
Ainda hoje, conta Laurinda Lucidato, quando não há viração soprada do mar, as paneleiras assoviam chamando o vento, pois sem ele o fogo não é suficiente para completar o cozimento das peças. Na Reserva Ecológica Mata de Goiabeiras, em Goiabeiras Velha, trabalham pesquisadores e estudiosos das espécies da fauna ameaçadas de desaparecimento. A música e o congo fazem parte da história local, destacando- se o compositor e cantor Leopoldo Gomes Sales, os violonistas, Caboclo, Moacir Viriato e Romeu Nascimento, e os tocadores Nis do Nascimento e Wilson Corrêa (cavaquinho); Agenor Alvarenga (banjo); Deolindo Rosa Pinto (pandeiro) e Manoel Correia (tambor).
Congueiros famosos e inesquecíveis: Amarolino Sales, Aristides Lucidato, João Ribeiro, João Sales, Anorino e Antoninho Nascimento, assim como os cantores Reginaldo Gomes Sales e Astrogildo do Nascimento. Passaram pelo clube de futebol Três de Maio, fundado em 1938, o goleiro Agenor Gomes, que jogou depois no Santos e no São Paulo e que ficou conhecido nacionalmente como Manga. Outro jogador bastante lembrado: Bueno, tricampeão pelo Clube Atlético Mineiro e que atuou também na Portuguesa de Desportos, de São Paulo. A área onde se formou o núcleo original de Goiabeiras e Jardim Camburi é hoje conhecida como Goiabeiras Velha, bairro residencial com cerca de 5 mil habitantes.
Entre os que contribuíram significativamente para o desenvolvimento local são citados o empresário Nelson Calmon; o radialista e deputado estadual Darcy Castelo de Mendonça; Helena Pignatari, primeira vereadora eleita para representar os moradores; Lauro Calmon Nogueira da Gama, também vereador; José Gomes Loreto, Arnaldo Gomes Ribeiro e Leopoldo Sales. A partir dos anos 60 e 70, a criação do campus da Universidade Federal do Espírito Santo, a duplicação da Avenida Fernando Ferrari e a extinção do Lixão de Goiabeiras contribuíram para o vertiginoso crescimento de Goiabeiras, que reúne hoje cerca de 66 mil habitantes.
Outras personalidades de destaque, segundo os moradores: a professora Jacynta Simões Ferreira, pioneira na área da educação, as parteiras Agripina, Romanina e Olivia, e as benzedeiras Marcionilia Barbosa Loureiro e Maria de Amilton, todas elas muito procuradas, na ausência dos médicos. (Fonte: “Goiabeiras”, coleção Elmo Elton, Secretarias Municipal de Cultura). (Copidesque: Rubens Pontes).