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terça-feira, 30 abril, 2024

Especialistas avaliam impactos após “caso Unimed Vitória”

Economistas explicam quais preocupações a Unimed Vitória pode enfrentar após a perda de milhões em investimentos

Por Amanda Amaral

A perda de R$ 165 milhões pela Unimed Vitória em razão de investimentos no Infinity Asset deixou muitas dúvidas no mercado. A cooperativa capixaba de saúde informou que o problema não afetará os usuários. Especialistas comentam quais seriam as principais preocupações no momento para a economia capixaba.  

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A Unimed Vitória possui cerca de 400 mil usuários, além de cooperados, colaboradores e prestadores. Entre os 6.032 cotistas dos fundos da Infinity Asset, há cerca de 30 Unimeds. Entre elas a Unimed Piraqueaçu – também do Espírito Santo, neste caso, segundo informações do jornal Valor Econômico, em dezembro de 2022, o valor aplicado era R$ 2 milhões. Entenda o caso clicando aqui

Foi marcada uma assembleia para o dia 07 de junho pela Vanquish Asset – que está gerindo o fundo Infinity Select após a explosão da crise. Para o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Claudeci Neto, é cedo para avaliar se as Unimeds conseguirão recuperar o prejuízo com os investimentos.

“Nesta assembleia, será apresentado aos cotistas um plano de recuperação desse fundo, vai ser discutido o que poderá ser recuperado, provavelmente, a Unimed Vitória deve recuperar alguma coisa, mas talvez seja aos poucos”, explica.

Em dezembro de 2022, a Anbima descredenciou a Asset justificando que seus fundos tinham partes relacionadas com o administrador da carteira. Entre 16 e 25 de maio, a Asset teve R$ 455 milhões de prejuízo.

“O gestor do fundo escolhe os ativos, mas o dinheiro é do cotista que o contratou. Então, o Infinity fecha o fundo para resgates, após ter sido cotado muito para baixo, e marca uma assembleia, na qual devem haver mais explicações sobre o ocorrido, para que os cotistas decidam qual a melhor decisão a ser tomada no momento”, explica o economista e assessor de investimentos, Jardel Lago.

Jardel Lago explica que não realizou uma análise técnica da situação das Unimeds com a Infinity, pois ainda há poucas informações oficiais no mercado em geral, mas que está acompanhando o caso. “Não é claro para mim qual estratégia a gestão do fundo da Infinity adotava, era para ser um fundo de liquidez. A impressão que eu tenho é que a falta de liquidez possa ter impacto a cota do fundo. Esse descredenciamento demorou uns dois anos, mas a Abima fez o alerta. A Unimed Vitória chegou a tirar uma parcela do investimento, mas deixou outra. O investimento em si não é tão arriscado, o problema é que a empresa que administrava o fundo não estava confiável”, explica.

Impactos econômicos

Claudeci Neto aponta quatro questões a serem observadas com relação à Unimed Vitória: a continuidade dos investimentos; a qualidade dos serviços prestados; o cumprimento dos contratos com terceirizados e colaboradores; e a credibilidade da empresa com relação às instituições financeiras.

“A empresa tem mostrado que já tem um plano para repor a perda com redução de custos, remanejamento e até com recursos próprios, mas o serviço não pode piorar. Se você afeta o serviço perde usuários e cooperados. As margens do setor não são tão altas, porque conta de regulamentações, não é um mercado de tão livre na concorrência assim”, comenta.

Com relação aos investimentos, o presidente do Corecon-ES pontua que é interessante que eles continuem, visto que é um setor que demanda de equipamentos, muitas vezes de alta tecnologia, diferentes estruturas físicas, oferta muitas especialidades e emprega muitos funcionários.

“A empresa necessita de crédito para continuar investindo, mas a perda em investimentos pode gerar um olhar diferenciado das instituições financeiras. Nestes primeiros meses, a Unimed Vitória pode não encontrar crédito fácil, mas se tudo correr bem, essa credibilidade é retomada aos poucos”, disse Claudeci Neto.

Ele complementa: “Sobre os fornecedores, há uma apreensão por parte deles em casos assim. São necessários muitos serviços para o atendimento em saúde que vão desde a limpeza até a segurança. Nesse momento, é importante manter a credibilidade e honrar os contratos, com terceirizados e colaboradores, passar tranquilidade para o mercado de isso será respeitado”, disse Claudeci Neto.

Com relação ao mercado de investimentos, Jardel Lago explica que a situação pode gerar desconfiança dos investidores. “As pessoas podem ter desconfiança com relação a investir em fundos, geralmente elas ficam com medo dessa classe de ativo, acabam jogando tudo no mesmo bolo, mas são coisas diferentes, existem diversos tipos de fundos, com gestoras diferentes, com impacto diferente em cada um deles”, afirma.

Jardel Lago destaca que a empresa deve se preocupar em manter sua credibilidade diante do mercado e sua imagem. “O mercado local de investimentos é pequeno, o impacto maior é com relação a credibilidade da empresa”, disse.

Medidas regulatórias

Com relação à uma vistoria na Unimed Vitória, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) enviou nota para o Portal ES Brasil explicando que monitora todas as operadoras de planos de saúde e administradoras que atuam no setor, mas que as análises sobre a situação econômico-financeira das reguladas são preservadas por sigilo empresarial, responsabilidade por sua gestão, bem como a escolha dos seus investimentos, é da operadora.

Disse ainda que os dados contábeis encaminhados pelas operadoras constam em seu site. Segundo a ANS, o acompanhamento das entidades reguladas (RN nº 532, de 2022), e a identificação de eventuais desconformidades econômico-financeiras, pode sim ensejar a aplicação de medidas regulatórias que variam conforme a gravidade e vão desde a possibilidade de apresentação de procedimentos de adequação econômico-financeira (PAEF), a instauração de regime especial de direção fiscal ou até mesmo cancelamento e liquidação.

“Cabe à ANS, ainda, receber as eventuais reclamações dos beneficiários, eventualmente abrir os processos sancionadores e proferir as decisões condenando a operadora ou arquivando o caso”, disse a nota.

10% do total

A Unimed Vitória manteve o posicionamento de quarta-feira (31), de que tomará todas as providências cabíveis para resguardar seus cooperados, beneficiários, colaboradores e prestadores, e que assegura que não há razão para preocupações, incertezas e insegurança.

A atual diretoria, ao assumir a administração da cooperativa este ano, contratou uma empresa de auditoria financeira e contábil e está analisando todos os dados envolvendo a Infinity, informa a nota: “tudo está sendo acompanhado pessoalmente por todos os integrantes da Diretoria Executiva e pelos Conselhos de Administração e Fiscal da Unimed Vitória. Também estão sendo adotadas as medidas judiciais cabíveis, bem como ações internas para proteger a cooperativa”.

De acordo com a Unimed, o ativo garantidor junto à ANS é variável mês a mês em razão da alteração das provisões técnicas da operadora de saúde, sendo assim, ela pode aumentar ou reduzir de acordo com as operações a serem realizadas. A cooperativa capixaba de saúde explicou que o valor investido na Infinity representa 10% do total a ser lastreado por ativos garantidores junto à ANS pela posição em 31/05/2023.

“Estamos realocando valores de outros investimentos para repor esse percentual, caso haja necessidade de cobertura do lastro. Estamos preparados para lidar com esse desafio, lembrando que ainda iremos receber a proposta de recuperação da Infinity nas assembleias a serem realizadas no início de junho, quando apresentarão o planejamento de ressarcimento dos cotistas”, afirma o diretor-presidente da Unimed Vitória, Fabiano Pimentel.

 

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