23.8 C
Vitória
sábado, 27 abril, 2024

“Epilepsia não é uma doença contagiosa”, esclarece neurologista

Distúrbio não é frequentemente divulgada, mas é mais comum do que a gente imagina

Por Kebim Tamanini

O mundo do entretenimento frequentemente nos traz figuras icônicas, mas por trás dos holofotes, muitos enfrentam desafios pessoais que raramente são discutidos. Desde o renomado ator Danny Glover até a influenciadora digital brasileira Camila Coelho e até mesmo o lendário Elton John, todos compartilham uma batalha comum: a epilepsia. Esta é uma condição neurológica complexa que não faz distinção de idade nem status social, afetando pessoas em todas as esferas da vida.

- Continua após a publicidade -

No Brasil, estima-se que aproximadamente 3 milhões de pessoas vivem com epilepsia, uma estatística que ilustra a relevância e a urgência de abordar essa condição de forma eficaz e compassiva.

Quando um indivíduo experimenta crises epilépticas de curta duração, sem causa definida, é imperativo procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) para avaliação por um Médico de Família e Comunidade. Esse profissional orientará os próximos passos, que podem incluir uma série de exames, desde os laboratoriais até o eletroencefalograma e ressonância de crânio, visando um diagnóstico preciso.

Felizmente, o tratamento para a epilepsia está ao alcance, geralmente envolvendo medicamentos que controlam as descargas elétricas cerebrais anormais, minimizando as crises.

A jornada com a epilepsia pode ser desafiadora, mas com conscientização, cuidados médicos adequados e apoio da comunidade, aqueles que a enfrentam podem encontrar esperança e qualidade de vida. Por esse motivo, conversamos com o neurologista Leonardo Maciel para esclarecer os principais pontos deste distúrbio.

Distúrbio não é frequentemente divulgada, mas é mais comum do que a gente imagina
A epilepsia é um distúrbio do cérebro que se expressa por crises repetidas. Foto: Reprodução

Entrevista na íntegra

● O que é epilepsia ?

Uma crise epiléptica ou convulsão é uma súbita mudança de comportamento causada pela hiper sincronização elétrica das redes neuronais no córtex cerebral, resultando em atividade elétrica anormal no cérebro. Essas crises podem ocorrer isoladamente ou como parte de outra condição médica, sendo também um sintoma de uma doença neurológica conhecida como epilepsia.

A epilepsia é caracterizada pela repetição das crises, podendo ou não estar associada a lesões cerebrais ou a uma Síndrome Epiléptica. Embora popularmente as convulsões sejam reconhecidas como abalos no tronco e membros, frequentemente acompanhados de perda de consciência e desmaio, elas podem se manifestar de diversas maneiras, inclusive sem a perda da consciência. Durante uma crise, o paciente pode ainda manter o contato, conversar e apresentar sintomas variados.

A epilepsia pode surgir em qualquer idade, e a duração das crises geralmente é breve, durando apenas alguns segundos ou minutos. Enquanto alguns tipos de convulsões, como as tônico-clônicas, apresentam um padrão de desmaio seguido de rigidez e movimentos bruscos, outras manifestam-se com sintomas menos dramáticos. Por exemplo, algumas pessoas podem experienciar tremores em um braço ou parte do rosto, enquanto outras podem simplesmente parar de responder e ficar aparentemente “paradas” por alguns segundos.

Em certos casos, as pessoas podem antecipar a ocorrência de uma crise, manifestando uma sensação específica ou alteração sensorial conhecida como “aura”.

● Quais são os mitos e falácias associados a esse tema? 

A epilepsia não é uma doença contagiosa. Não há transmissão da doença através do contato com alguém que tenha epilepsia.

Durante uma crise convulsiva, não se deve tentar conter a pessoa. O procedimento ideal é posicionar o paciente deitado de lado para prevenir a aspiração de vômito.

É um equívoco pensar que durante a crise o paciente vá sufocar com a própria língua. Isso é um mito. Além disso, não se deve oferecer comida ou bebida durante a crise.

A epilepsia não é uma doença psiquiátrica.

Pacientes com epilepsia podem dirigir, desde que estejam em uso regular de medicação antiepiléptica e tenham passado um ano sem crises, conforme documentado em um laudo médico. Se estiverem em processo de suspensão da medicação, poderão dirigir após pelo menos dois anos sem crises e permanecer mais seis meses sem medicação e sem episódios. No entanto, a condução de motocicletas é proibida.

A epilepsia não é incontrolável. Existem medicamentos que podem controlar completamente a ocorrência das crises.

Os pacientes com epilepsia podem ter uma vida normal, e quando controlados, são capazes de trabalhar, estudar, praticar esportes e desfrutar de suas atividades de lazer.

● Se um dos pais possui epilepsia, isso significa que o filho também terá?

Não necessariamente. No entanto, uma história familiar positiva de convulsões é um fator de risco que aumenta as chances de desenvolver epilepsia.

● Todos nós já testemunhamos, pelo menos uma vez, uma pessoa sofrendo uma crise epiléptica clássica, caracterizada por contrações musculares. É notável a quantidade de sugestões que surgem nessas situações, como “colocar uma colher na boca, segurar a língua, virar o rosto de lado, passar sal ou vinagre, oferecer amoníaco para cheirar”. Qual é a abordagem correta para auxiliar alguém que está enfrentando um ataque epilético?

Durante uma crise, o ideal é posicionar o paciente deitado com a cabeça de lado para evitar a aspiração de vômito. Não se deve tentar “puxar” a língua, pois durante a crise o paciente não vai sufocar com a própria língua – isso é um mito. Além disso, não se deve oferecer nada para comer ou beber, mesmo após o término dos abalos/movimentos, especialmente se o paciente estiver inconsciente. É importante afastar objetos que possam machucar o paciente e chamar auxílio médico, ou ligar para o SAMU 192.

● Entendemos que um único episódio de crise epiléptica não é suficiente para diagnosticar epilepsia. No entanto, uma vez feito o diagnóstico, como deve ser conduzido o tratamento?

Manter o acompanhamento com um neurologista é crucial, pois um bom controle das crises depende do uso correto das medicações, incluindo doses adequadas e a combinação correta de medicamentos. Os exames necessários serão determinados pelo neurologista.

A repetição desses exames só será realizada mediante orientação médica, pois não é necessário repetir exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia, ou mesmo eletroencefalogramas anualmente, a menos que haja indicação específica para tal.

● Os pacientes diagnosticados com epilepsia podem levar uma vida normal?

Há casos de crises de difícil controle, mas a maioria dos pacientes pode alcançar um controle excelente, senão total, das crises, o que permite que tenham qualidade de vida.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA