Economistas avaliam que resultado entre Lula ou Bolsonaro, ambos à frente das pesquisas no momento, não abala o mercado financeiro
Por Amanda Amaral
O período eleitoral é sensível para o mercado financeiro, atento as possíveis mudanças na política econômica brasileira e receoso à retração de investimentos internacionais. Contudo, em 2022, o resultado apresentado pelas pesquisas eleitorais até o momento parece não abalar os analistas financeiros.
A última pesquisa divulgada pelo Datafolha, realizada entre 16 e 18 de agosto deste ano, mantém os candidatos Luís Inácio Lula da Silva (PT), 47%, e Jair Bolsonaro (PL), 32%, à frente da corrida eleitoral, que acontecerá em primeiro turno em 02 de outubro.
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Reconhecido pelos profissionais da área como o brasileiro mais bem-sucedido no mundo em Finanças Corporativas, Heitor Almeida, acredita que não existe grande preocupação caso o resultado das eleições fosse divulgado hoje.
“Em 2002, primeira vez que o Lula foi eleito, havia uma preocupação muito grande, porque era um governo de esquerda e poderiam haver políticas não muito favoráveis ao mercado financeiro. Mas acho que isso mudou bastante. A impressão que eu tive ao conversar com as pessoas do mercado é de que, independente do que acontecer, já que hoje no momento só existem dois candidatos com chances reais de ganhar, não haverá um grande choque no preço dos ativos, das ações e das dívidas das empresas”, explicou.
Ruptura do sistema democrático
Heitor Almeida é brasileiro, mas não mora no país. Atualmente, ele dirige a Escola de Negócios da Faculdade de Illinois, EUA. Contudo, o economista esteve no Brasil no início de agosto para cursos e eventos. Na sua opinião, o que preocuparia o mercado seria uma ruptura do sistema democrático.
“Houve recentemente uma discussão sobre se as eleições seriam justas ou não, relacionado ao que ocorreu nos EUA. Acredito que se houver uma quebra do processo eleitoral, do sistema democrático brasileiro, isso sim poderia ter um efeito muito negativo sobre o mercado financeiro e os investimentos estrangeiros”, comentou.
Ambiente favorável
O integrante do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), o economista Sebastião Demuner, também avalia como positiva a reação do mercado financeiro. “O mercado tem reagido muito bem. Os dois candidatos à frente das pesquisas já são conhecidos. Lula ou Bolsonaro, não haverá grandes mudanças”, analisou.
O economista destacou que são indicativos de uma resposta negativa ao resultado das eleições, o câmbio fora de controle, insegurança para os negócios e reações do sistema bancário.
Mas Demuner salientou que o Brasil no momento apresenta ambiente favorável aos investimentos. “O país está organizado, tem recebido investimentos internacionais, há países procurando investir aqui”, disse.
Situação fiscal
Para o presidente do Corecon-ES, Claudeci Pereira Neto, tanto Lula quanto Bolsonaro são candidatos conhecidos do mercado financeiro, que no Brasil é bem regulado. “Os governos não têm tanto poder de mexer no mercado, porque é um setor forte. O que às vezes atrapalha é a instabilidade política”, explica.
A situação fiscal é a questão mais preocupante, segundo o presidente do Corecon-ES. “O próximo governante terá que controlar isso. Mas até o momento, as principais variáveis econômicas não foram influenciadas. A taxa de juros é controlada pelo Banco Central, que é independente. O câmbio também não tem sido influenciado pelas discussões de presidenciáveis, que por enquanto têm evitado o cara a cara. Além disso, as bolsas estão estáveis”, pontua.
Nos períodos eleitorais sempre se observa volatilidade em razão da expectativa quanto à política econômica a ser adotada, segundo o economista e assessor de investimentos Jardel Lago.
Próximos capítulos
“Um problema hoje é o endividamento fiscal, gastar mais do que se arrecada. Ao se apresentar um ambiente fiscal favorável, o mercado tende a ser mais amistoso. Se forem observadas estratégias para aumentar gastos ou políticas mais populistas que podem contribuir para o endividamento do Estado, diante da elevada carga tributária do país hoje, a elevação fiscal não é uma coisa boa. Se começar a aparecer este tipo de dúvida, aí sim, o mercado pode começar a reagir mal”, explicou Jardel Lago.
Para o assessor de investimentos, a apresentação das propostas e o momento dos debates entre os candidatos à presidência são importantes termômetros, ou seja, a partir de agora é necessário acompanhar os próximos capítulos da corrida eleitoral.
“A partir de agora vão começar os debates, para avaliarmos o que é disputa política com o intuito de ganhar e o que vai ser efetivamente feito depois por quem tomar posse. Isso porque o que é falado nem sempre é feito, pode ser uma estratégia eleitoral. E a falta de clareza gera dúvida, o que não é bom para o mercado”, disse.