As ações de prevenção trazem uma relação íntima com a educação, assistência social e saúde.
A primeira pergunta que talvez seja necessário fazer quando pensamos em prevenção no campo do uso de substâncias psicoativas é – O que devemos prevenir? Logo após essa pergunta, advém a próxima questão: como fazê-lo?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define “Droga” como substâncias não produzidas pelo organismo que, quando consumidas, alteram o funcionamento de um ou mais sistemas corpóreos. No caso das drogas psicoativas, ao alterarem processos orgânicos, atingem também nossas funções psicológicas, como a consciência, a memória, a atenção e o fluxo de pensamento. A manipulação (e uso) dessas substâncias é conhecida há muito tempo pela humanidade.
Nos dias atuais, as drogas são uma constante em nossas vidas, podendo citar desde o café e analgésicos, como o paracetamol, até substâncias perigosíssimas, mas legais, como os barbitúricos e opióides. Segundo dados do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC), em 2018 ocorreu um crescimento de 60% das mortes causadas diretamente pelo uso de drogas, dessas, 76% foram em decorrência do uso de medicamentos legais derivados do ópio.
O que devemos prevenir, então? O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua última edição (DSM-V), criou uma categoria chamada de Transtornos Devido ao Uso de Substâncias Psicoativas, que engloba variados quadros de padecimento que podem emergir do contato com as drogas psicoativas. O termo prevenção, por sua vez, assume inúmeras facetas e significações. Tomando como referência as discussões sobre a perspectiva da promoção de saúde, a prevenção se balizará na redução dos fatores de risco e no fomento dos fatores de proteção para o contato com as drogas.
Apesar do recorte ora citado, a questão da droga atravessa diversas áreas da vida humana. Ou seja, apesar da maioria dos resultados do uso de drogas serem uma demanda de saúde, as causas e o tratamento envolvem inúmeros âmbitos de nossa vida, sendo uma questão multifatorial e complexa. Dessa forma, tratemos dos fatores de risco (que aumentam a chance de ocorrer um uso problemático com as drogas) e dos fatores de proteção (que reduzem os riscos de haver padecimento pelo uso de drogas).
Nos dias atuais, as drogas são uma constante em nossas vidas, podendo citar desde o café e analgésicos, como o paracetamol, até substâncias perigosíssimas, mas legais, como os barbitúricos e opióides.
Alguns dos mais visíveis fatores de risco são: educação negligente, vínculos familiares fragilizados, violência doméstica e traumatismos na infância. No campo dos fatores de proteção temos: vínculos familiares fortes, inserção em atividades coletivas, desenvolvimento de habilidades sociais.
As ações de prevenção, portanto, trazem uma relação íntima com a educação, a assistência social e a saúde. No âmbito da educação, a divulgação sistemática de boa informação, isenta de preconceitos e despida de tabus, mostra-se como uma primeira importante direção para a prevenção no campo das drogas. As escolas não devem se furtar a pautar o debate, munindo estudantes de base sólida sobre a temática.
O campo da assistência social tem uma considerável importância, pois o contexto sociocultural e os vínculos familiares muitas vezes sobressaem como um ponto importante de intervenção. Moradia digna, segurança alimentar, acesso a serviços assistenciais e bens culturais, saneamento básico, são elementos que despontam como ameaças ao nível geral de saúde da população e não seria diferente quando transpostas para a questão das drogas.
Sobre a saúde, importante pontuar a ampliação dos serviços de saúde mental e a facilitação do acesso a atendimento especializado. As ações de cuidado devem se integrar com as comunidades e as unidades de atendimento devem emergir como um ponto de confiança e referência. Dessa maneira, a assistência em saúde deve ampliar seu acesso e cuidado para que os menores indícios de padecimento psíquico em decorrência do uso de substância sejam vistos e acolhidos.
Diante do exposto, as ações preventivas são eficazes quando atingem sociedade, família, escola, sujeito, organizando-se com especificidades de faixa etária, raça/etnia, gênero e classe. Visando sempre a ampliação dos fatores de proteção, devem se constituir de forma longitudinal, permanente e transversal, isto é, devem partir de uma perspectiva ampliada, que, ao expandir as potencialidades dos sujeitos e comunidades, aumentem a qualidade geral de vida da população.
Getulio Sérgio Souza Pinto é Psicólogo Mestre em Psicologia Institucional, Especialista em Impactos da Violência na Saúde, autor do livro “Drogas e suas imagens: ensaios sobre a experiência com psicoativos” (2018), e Assessor Especial da Subsecretaria de Políticas Sobre Drogas da Secretaria de Estado de Direitos Humanos.