A falta de desejo sexual afeta homens e mulheres e tem impacto nos relacionamentos. Saiba como identificar e tratar esse problema
Por Gustavo Costa
Fundamental para a felicidade e a cumplicidade do casal, o sexo tem no desejo a base para o amor maduro. O sexo expressa não só o prazer do corpo, como também reforça o vínculo e o comprometimento entre os cônjuges. O problema aparece quando o desejo sexual esfria. E isso pode acontecer por diversos motivos. Excesso de preocupação, estresse, conflitos conjugais, atitudes desrespeitosas e vários quadros psicopatológicos, tais como depressão e certas neuroses.
Antes de se falar em desejo, é preciso apontar o que seria uma vida sexual satisfatória. Um levantamento realizado recentemente pelo Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que a média de relações sexuais do brasileiro é de três vezes por semana. Esta pesquisa foi realizada com homens e mulheres de todas as classes sociais entre 18 e 70 anos. Já em relação ao grau de satisfação sexual, 60% das mulheres e 68% dos homens consideram sua qualidade sexual muito boa ou ótima.
- Você já conhece o Buda Gigante de Ibiraçu?
- Acesse nossas redes sociais: Instagram e Twitter
Outro estudo publicado pela Revista Galileu, mostrou que a média de relações sexuais anuais em todo mundo seria de 113 vezes. Quem lidera a lista são os franceses com uma média de 137 relações por ano, os brasileiros não ficariam nem entre os 10 primeiros com uma média de 96 relações por ano. “O que procuro orientar aos pacientes é que mais importante do que o número de relações, é ter uma relação com qualidade e satisfação para o casal”, falou o urologista Felipe Merlo Magioni.
Para Magioni, além dos motivos psicológicos, ligados principalmente ao estresse e à depressão, a falta de desejo sexual, também é causada pelo uso de drogas e o consumo excessivo de álcool. Além disso, a partir dos 50 anos de idade os fatores físicos começam a ter uma maior influência na falta de desejo sexual, como hipertensão arterial, diabetes e elevação do colesterol, culminam com diminuição dos níveis de testosterona.
O urologista afirma que 20% dos homens sofrem de Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM), sendo maior com a progressão da idade. “Atualmente 9% da população brasileira possui idade acima de 60 anos. Na próxima década esse número será de 13% o que representará 30 milhões de idosos. É claro que o impacto dessas doenças na Disfunção Erétil será maior nos pacientes de idade mais avançada”, frisou ele, que lembra também que a obesidade também tem um papel importante na falta de desejo. “Um estudo recente mostrou que quanto maior a circunferência abdominal menor será os níveis de testosterona do homem”, alertou.
“Para que o sexo seja prazeroso e proporcione a fruição desejada, é preciso que atenda a certas expectativas, que só se relacionam com o biológico à medida que regulam sua função. Neste ponto de vista, o mais importante do sexo é sentir-se desejado de acordo com uma certa fantasia de amor” – Erly Alexandrino da Silva Neto, psicólogo e mestre em teoria psicanalítica
Já para as mulheres, a pressão dos afazeres do cotidiano podem ser tão devastadores para o desejo quanto fatores hormonais. “Observamos que os fatores físicos e psicológicos , atualmente tem sido os principais vilões responsáveis pela diminuição do desejo sexual feminino , mais que o fator hormonal. Casa para organizar, estudos, trabalho excessivo, cuidados com o marido, filhos ou qualquer outra atividade urgente que faz parte da demanda de uma mulher moderna, podem gerar diminuição da libido”, enfatizou a ginecologista Ana Paula Gonçalves.
De acordo com o com psicólogo e mestre em teoria psicanalítica, Erly Alexandrino da Silva Neto, homens e mulheres são tentados a pensar o sexo em termos instintivos e carnais, mas existe, antes de mais nada, um mundo simbólico, cultural. “Para que o sexo seja prazeroso e proporcione a fruição desejada, é preciso que atenda a certas expectativas, que só se relacionam com o biológico à medida que regulam sua função. Neste ponto de vista, o mais importante do sexo é sentir-se desejado de acordo com uma certa fantasia de amor. No caso masculino, pode-se dizer que os homens esperam que suas mulheres o considerem ‘cara’, e que queiram entregar-se, como mulheres, a eles.
O sexo rotineiro, por obrigação ou sem o entregar ardente da mulher é motivo de frustração e falta de desejo. Por outro lado, o que as mulheres esperam é que esse ‘cara’ seja delas, inteiro delas, e que mostrem isso não com a entrega sexual, somente, mas com a entrega da ‘alma’ – seja lá o que acreditam que isso seja. Portanto, para acender o desejo sexual feminino há que se querer entregá-las a libra de carne mais preciosa, aquele pedaço mais perto do coração, como já dizia ‘O mercador de Veneza’, de William Shakespeare. Como os homens, normalmente, se furtam a isso, tendem a não instigar o desejo de suas parceiras”, falou ele.
Segundo Neto, quando a origem do problema é psicológica acontece a impotência “seletiva”, ou seja, não acontece em todas as ocasiões. “No caso de múltiplos parceiros, verifica-se a falta de desejo com apenas um, ou a fantasia sexual, a masturbação e o desejo por pessoas sexualmente atraentes estão presente, há intumescência – peniana ou vulvar -, lubrificação e desejo nessas situações, apenas com o parceiro elas não aparecem. Ou aparecem e somem quando determinadas lembranças ou situações ocorrem”, frisou. Quando o problema é anatomo-fisiológico há mais dificuldades em estabelecer o sentido da perda de desejo. Ela é difusa, de intermitência imprevisível ou generalizada. E qualquer forma, tanto médicos como psicólogos devem solicitar a avaliação da outra parte quando o diagnóstico diferencial não puder ser estabelecido com precisão.
A falta de desejo para eles…
Nos homens, o desequilíbrio hormonal no desejo sexual está relacionado a uma diminuição da libido, piora da performance sexual, além de ocasionar disfunção erétil. De acordo com o urologista Felipe Merlo Magioni, são pacientes com maiores níveis de depressão, alterações cognitivas, diminuição da sensação de bem estar, perda de massa muscular e óssea, anemia, fadiga e obesidade.
Para Magioni, um grande problema para homens acima dos 40 anos é a baixa procura por tratamento para a disfunção erétil. “Estima-se que ao redor de 52% dos homens entre 40 e 70 anos sofram de disfunção erétil em graus variáveis. Pouco mais da metade dos pacientes, discutem o problema com o médico e apenas 16% do total de homens com Disfunção Erétil tratam adequadamente o problema. Um dos motivos que corroboram para uma baixa adesão ao tratamento seria o constrangimento de muitos pacientes por acharam que é um problema que não tem cura ou que faz parte da evolução natural”, falou.
O paciente deve, no ponto de vista do especialista, procurar ajuda médica a partir do momento em que a disfunção sexual e o desequilíbrio hormonal começam a impactar em sua qualidade de vida. “Os principais sintomas relacionados são: diminuição da libido, anemia, diminuição de pêlos, depressão, diminuição do bem estar, perda de massa óssea e muscular, aumento de gordura corporal. Além disso, vale ressaltar, que o desequilíbrio hormonal predispõe a uma maior incidência de diabetes, coronariopatia, hipertensão arterial e síndrome metabólica”, disse ele.
“Na hora da relação, procure se concentrar a cada gesto que o parceiro produz. Somente deixe fluir pensamentos proporcionados por esta relação, envolva-se, solte-se, procure sentir amor por você” – Ana Paula Gonçalves, ginecologista
O tratamento da disfunção erétil é dividido em três fases. A primeira, segundo Magioni, consiste na mudança do estilo de vida, com aconselhamento psicológico ao casal, controle de doenças associadas, reposição hormonal e uso de drogas orais. “Atualmente, as drogas usadas apresentam pouco ou nenhum efeito colateral, existem até comprimidos com sabor de menta com efeito de ação em 15 minutos. Em relação à reposição hormonal, existem formulações de aplicações trimestrais que mimetizam o efeito da testosterona endógena sem flutuações em seus níveis sanguíneos”, frisou.
A segunda linha de tratamento é a partir do uso de drogas diárias com doses menores, uso de drogas intrauretrais ou injeção de substâncias intracavernosas. E a última linha de tratamento, lança não mão de prótese peniana ou na cirurgia de revascularização peniana. O especialista diz que é hora de procurar ajuda a partir do momento em que a disfunção sexual e o desequilíbrio hormonal começam a impactar em a qualidade de vida do paciente.
… e para elas
O desequilíbrio hormonal no desejo sexual atua de forma diferente nas mulheres. Segundo a dra. Ana Paula Gonçalves, quando há disfunção sexual relacionada a produção de hormônios, a mulher experimenta variações na periodicidade, duração e intensidade da menstruação, sem contar as alterações de ordem psicológica, como mudança de humor, disposição e interferência no desejo sexual. “Mas as causas dessa disfunção hormonal, ás vezes não são identificadas. Podem ser provocadas por questões primárias do organismo, por doenças ou até mesmo pelo uso de medicamentos. A disfunção da tireóide, glândula que pode produzir irregularidade hormonal, e assim desequilíbrio na produção de hormônios sexuais, levando a um quadro de desanimo, sonolência, e assim a queda da libido. Cabe relatar que cada mulher é única, e o desequilíbrio hormonal se manifesta de maneira diferente em cada organismo. Portanto, o tratamento e os medicamentos a serem administrados devem ser individualizados, de acordo com a necessidade de cada caso”, disse.
Para ter uma relação o mais normal possível com seu companheiro, a mulher deve, de acordo com Gonçalves, estimular a concentração para tentar se desligar dos pensamentos excessivos. “É um ótimo começo para combater essa situação. Na hora da relação, procure se concentrar a cada gesto que o parceiro produz. Somente deixe fluir pensamentos proporcionados por esta relação, envolva-se, solte-se, procure sentir amor por você”, orienta ela às mulheres.
“O que procuro orientar aos pacientes é que mais importante do que o número de relações, é ter uma relação com qualidade e satisfação para o casal” – Felipe Merlo Magioni, urologista
A doutora lembra que todos os dias chegam ao seu consultório pacientes preocupadas, desanimadas, e algumas já decretando o fim de seus casamentos. “Cabe a nós, ginecologistas, conversarmos com essas mulheres, encorajá-las a redescobrir a relação por vezes adormecida pela acomodação do tempo, e se necessário, ajudá-las de forma medicamentosa. Só com esse primeiro passo, na próxima consulta, já podemos vê-las mais animadas, dispostas, com melhora significativa. E tem até aquelas que descobrem que a relação já havia acabado, e que precisavam de uma conversa franca para enfrentar a realidade”.
O controle hormonal passa por trabalhar a autoestima, praticar exercícios físicos, e cuidar da alimentação. “Não existe receita de bolo, para que a vontade sexual aconteça, e um conjunto de situações que precisa se avaliado. Por exemplo: a relação de convivência esta legal entre o casal? O que a mulher sente pelo seu parceiro? Existe companheirismo ? Cumplicidade ? O amor ainda existe ou se acostumou a essa convivência? Passado essa pesquisa de ordem psicológica, podemos avaliar algumas taxas hormonais dessa paciente, e de acordo com cada necessidade, fazer uso de medicamentos . A novidade do momento é o uso de testosterona tópica via vaginal em Pentravan, e em mulheres climatéricas a associação da Tibolona”, falou a ginecologista. Para ela, a mulher deve procurar seu ginecologista, sempre quando tiver duvidas sobre atividade sexual, diminuição da freqüência, prazer e estímulos sexuais.
Independente da diferença com que homens e mulheres dão sexo, a falta de satisfação sexual e amorosa mostrará indícios. As soluções para que o prazer e desejo retornem à relação estão disponíveis, cabendo a cada paciente ter cabeça aberta e buscar ajuda especializada.
Esta matéria foi publicada originalmente na Edição 22 da Revista Samp. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.