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sábado, 4 maio, 2024

Crise sobre crise: os investimentos anunciados estão ameaçados?

Crise sobre crise: os investimentos anunciados estão ameaçados?

Economistas capixabas analisam a situação dos investimentos anunciados no Espírito Santo, tendo em conta as conjunturas nacional e internacional pouco favoráveis

Em três anos foram R$ 54 bilhões de reais em investimentos concluídos no Espírito Santo. Os dados se referem a 895 projetos com custo superior a R$ 1 milhão, finalizados entre 2008 e 2011, de acordo com dados divulgados em maio pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

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Entre 2011 e 2016 já haviam sido anunciados 1.373 grandes projetos, representando investimentos que alcançam R$ 100,7 bilhões. Os anúncios de negócios não significam necessariamente que estes acontecerão de fato no Estado. Um caso recente que ganhou repercussão midiática foi a tentativa de levar o projeto do Estaleiro Jurong Aracruz (EJA), que já havia iniciado suas obras no Espírito Santo, para o Rio de Janeiro, caso que envolveu o empresário Eike Baptista e membros do governo federal. O assunto foi encerrado e o estaleiro permanece definitivamente em terras capixabas, porém, o exemplo serve para apontar como as conjunturas econômicas e políticas podem mudar os rumos dos investimentos.

O projeto da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que previa investimentos de U$ 6,2 bilhões em Anchieta, por exemplo está suspenso. Iniciado em 2007 foi fruto da parceria entre a Vale e a empresa chinesa Baosteel, mas esta acabou desistindo do empreendimento. Num momento complicado do mercado mundial, a Vale preferiu deixar o projeto de molho. “O projeto está aguardando melhora no cenário internacional de siderurgia. A Vale tem a intenção de ser sócia minoritária da siderúrgica e, por isso, aguarda um sócio, que será responsável pelas definições finais, bem como pela construção e operação da planta”, afirma Maurício Max, diretor de pelotização da Vale.

Na opinião do economista Orlando Caliman, estes investimentos não sairão do horizonte, embora não se saiba ao certo até onde se estende tal horizonte. “Provavelmente em algum momento os projetos sairão, porém provavelmente serão exigidas algumas modificações para adequar ao novo momento do mercado”, acredita Caliman.

A crise internacional continua se arrastando, com tímidos sinais de reação. Porém, atualmente o cenário encontra ainda menos favorável, pois a conjuntura econômica nacional também aponta dificuldades, com a redução da confiança do empresariado para investimentos. “O que a gente nota é que há um cenário nacional e internacional pouco favorável. Há uma piora na confiança dos investidores. A queda do investimento se insere neste contexto da atividade econômica e pode refletir no contexto capixaba em uma série de investimentos postergados”, afirmou a economista Ana Paula Vescovi, assessora do Senado Federal e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo(IBEF-ES).

O diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), Antonio Fernando Doria Porto, corrobora a opinião de Vescovi.“A questão internacional se soma à questão do baixo crescimento na demanda interna brasileira. Falta uma linha clara de desenvolvimento econômico e há uma preocupação com a possibilidade de aumento da inflação, além do peso da carga tributária e do Custo Brasil. O empresário, sem ter um panorama claro de um futuro próximo, fica aguardando para ver onde vai o barco, o que acaba atrasando os investimentos”, comenta. Entretanto, Doria Porto afirma estar otimista com a chegada de novas indústrias no Espírito Santo, que agregariam novas tecnologias e diversificariam a economia capixaba. A mais recente inauguração foi da fábrica da Itatiaia em Sooretama, norte do Estado, que vai produzir eletrodomésticos da linha branca. O investimento inicial foi de R$ 200 milhões.

Para José Antônio Resende Alves, presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), a cautela do empresariado é normal, mas isso não deve comprometer o que já foi anunciado no Estado. “A decisão dos investimentos sempre tem uma variável de risco. Mas a decisão de direcionar o recurso para cá já se mostrou efetiva. O andamento depende da conjuntura econômica interna e externa e alguns investimentos podem ter volume reduzido, mas sem perder a decisão estratégica de marcar posição no Estado”, explica.

Investimentos em petróleo e gás

Um fator importante evidenciado pelas pesquisas apresentadas pelo Instituto Jones dos Santos Neves é a força do boom petrolífero na economia do Estado. Nada menos que 62,6% dos investimentos concluídos entre 2008 e 2011 foram feitos na área de energia, sendo boa parte na área de petróleo e gás, além de gastos no sistema de energia elétrica. Nos investimentos anunciado até 2016, a participação dos investimentos em energia chega compões 40,3%, somados a 6,5% de investimentos em terminais portuários e aeroportuários, além de 6,1% associados ao setor de transportes, totalizando 52% de investimentos destinados à infraestrutura. Em segundo lugar aparece a indústria com 32,5% dos mais de 100 bilhões a serem investidos. “Comércio, Serviço e Lazer” e “Outros Serviços”, possuem aproximadamente 7,3%.

O professor de economia da Ufes, Arlindo Villaschi, considera a predominância do setor de petróleo e gás como um fator que segurança para os investimentos, pois se trata de uma demandas necessárias para o desenvolvimento nacional, assim como a construção de novos portos e outras obras de infraestrutura. “No Espírito Santo vivemos uma situação ímpar porque muitos investimentos virão por conta do petróleo e gás. Além disso, obras de melhoria de instalações de empresas já estabelecidas no Estado dificilmente voltam atrás, como é o caso da Samarco e também de pequenas e médias empresas”, considera o professor. Ele destaca que muitas pequenas e médias empresas estão em expansão por conta do crescimento do mercado interno.

Já Doria Porto, acredita o momento não é tão favorável para os pequenos empresários. Para ele, a produtividade brasileira, especialmente na indústria, está em queda, com aumento do salário real e queda na produção. “Tudo isso, leva o empresário a puxar o freio de mão, o que reflete mas micro e pequenas empresas. O que vem puxando o crescimento é o consumo, principalmente de importados. Esse modelo de desenvolver as empresas do país via consumo é insustentável e causa redução no nível de emprego”, pontua. “Na minha visão, esse modelo já está esgotado. É necessário tomar medidas mais gerais, não medidas para um setor A ou B e sim para a economia como um todo”, conclui Doria Porto.

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