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sábado, 27 abril, 2024

Conselheiro do Ibef analisa Brasil no topo do ranking de juros

Mesmo com a queda da Selic, o Brasil ocupa a 1ª posição com taxa projetada de 6,90% para os próximos 12 meses.

Por Gustavo Costa

Em um ranking pouco lisonjeiro para se estar à primeira vista, o Brasil voltou a ter os maiores juros reais do mundo nesse mês de novembro, com 6,9% ao ano. Mesmo após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciar um novo corte da taxa básica, de 0,50 ponto percentual (atualmente em 12,25%). Segundo o estudo da consultoria MoneYou e divulgado recentemente, o México ficou em 2º, com 6,89%, e a Colômbia atingiu 5,48%, fechando o pódio.

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Mas o que acontece para se chegar a um índice como esse? Como se explica esse cenário? Para o conselheiro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Marcel Lima, tudo começa pela inflação. “Quando ela é muito alta, corrói o poder de compra das pessoas. Reduz o valor da moeda ao longo do tempo e o salário vai se deteriorando. Tivemos isso nos anos 80 e 90, a hiperinflação, as pessoas recebiam e tinham que correr para fazer as compras porque o dinheiro já não valia a mesma coisa no final do mês. Então inflação é um problema. Para controla-la, podemos atuar de duas formas: na oferta e na demanda. Quanto maior à demanda em relação à oferta, mais rápido os preços sobem. Quando atuamos na oferta é difícil. Como poderíamos dobrar o parque industrial de uma empresa para aumentarmos a oferta e reduzir os preços? É um projeto de longo prazo. Quando os preços aumentam muito rápido, o Banco Central precisa entrar em ação, já que precisa controlar a inflação. E faz isso por meio da taxa de juros que atua diretamente na demanda”, explicou.

De acordo com Lima, quando o BC eleva os juros, ele consegue inibir a demanda. “As pessoas que comprariam carros ou imóveis financiados, deixam de comprar por conta dos juros. Então o BC reduz demanda para reduzir a inflação. Naturalmente, isso tem um efeito colateral: isso prejudica a economia na taxa de juros mais alta, esfria a atividade econômica que atua na demanda”, disse.

O conselheiro lembra que recentemente o mundo inteiro enfrentou uma alta na inflação, em razão da pandemia e problemas na oferta, fazendo assim os Bancos Centrais de vários países a aumentar juros. “No Brasil, o BC agiu rapidamente, sendo um dos primeiros a aumentar a taxa. E também foi um dos primeiros a começar um ciclo de queda, o que é muito bom. Sempre que os juros caem, a economia volta a reaquecer. Hoje estamos em um ciclo interessante. A taxa de juros reais ainda está alta, até para conter a inflação estrutural. Conforme a inflação vai cedendo, é natural que o BC continue o ciclo de queda dos juros, que está acontecendo. E essa trajetória favorece a economia e o que chamamos de ativos de risco. É esperado, por exemplo, que o mercado de ações e ativos de renda variável em geral tenham um desempenho melhor quando a taxa de juros cai. Historicamente percebemos isso. No curto prazo pode não ser verificado, mas a tendência é que isso ocorra. A renda fixa, principalmente a pós-fixada, que é atrelada à taxa de juros, tende a render menor. Já os ativos pré-fixados, que já tem uma taxa pré-estabelecidas, vão continuar rendendo o percentual contratado de forma independente da taxa de juros. Enquanto isso, os ativos indexados à inflação tendem a performar acima dela, pagando ‘IPCA +’, com os investidores ganhando no longo prazo”, enfatizou ele.

 
Outro fator importante a considerar é a taxa de juros americana. “Quando a taxa de juros lá fica muito alta, nós temos dificuldade para abaixar a nossa. Se deixamos a nossa muito mais baixo do que é visto lá fora, acontece o que chamamos de carry trade, que é o que temos quando os investidores internacionais tendem a ir para o mercado americano, investir no tesouro de lá, que é considerado o título mais seguro do mundo. Tudo isso causa um aumento no preço do dólar em relação ao real. Pode inclusive até sair dinheiro do Brasil para comprar dólar. E quando o dólar dispara, temos um aumento dos produtos importados, o que também tende a contribuir para o aumento da inflação” explicou Lima. O conselheiro cita que na última reunião do Federal Reserve Bank (Fed), o Banco Central americano, a atual taxa de juros nos Estados Unidos foi mantida, e ela não aumentando é muito bom para a que a gente possa continuar baixando nossa taxa.

Logo, o economista finaliza dizendo que de fato, sim, a taxa de juros ainda está alta. Mas a inflação já está cedendo e o BC já tem espaço para derrubar os juros. E a expectativa é que esse ciclo de quedas continue no Brasil. A posição no ranking assusta, mas não há motivo para pânico.

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