Após três anos contando os prejuízos, varejo respira e garante: o pior da crise já passou
O caminho ainda é longo, mas a recuperação do setor varejista no Espírito Santo já desponta como uma realidade palpável. O ano, que começou cercado de pessimismo – e que registrou praticamente um mês perdido, em fevereiro, devido à crise na segurança pública do Estado –, chega ao fim apontando que o pior da crise já passou.
Os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE relativos a setembro mostraram um aumento de 1% no volume de vendas do varejo restrito no Estado e de 4,5% no varejo ampliado, ambos em relação a agosto.
Na comparação com o mesmo período de 2016, a PMC revelou crescimento de 8,7% no varejo restrito, índice que chegou a 15,6% no varejo ampliado. Com esse resultado, o acumulado negativo no ano ficou em -3,6% entre janeiro e setembro, contra -11,4% no mesmo período de 2016. Já a receita nominal de vendas, na mesma base de comparação, registrou aumento de 4,7% e de 11,4%, respectivamente, para o varejo restrito e para o ampliado. Em termos acumulados, a receita nominal do primeiro segmento variou negativamente -3,4% no ano e -2,2% nos últimos 12 meses, enquanto o varejo ampliado cresceu +2,8% no primeiro caso e +0,9% nos últimos 12 meses.
“A situação melhorou principalmente devido à queda da inflação e da taxa de juros, aliada à diminuição do desemprego”, avalia o presidente da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri. Para 2018, a expectativa da Fecomércio é de crescimento acima dos 3%. E a projeção é fechar 2017 com crescimento real de 1,8% nas vendas do varejo restrito e 9% no varejo ampliado. “Diante do cenário negativo que vínhamos enfrentando antes, não é pouco”, salienta.
O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Vitória, Adriano Ohnesorge, destaca que um bom termômetro para atestar essa volta por cima é a geração de empregos temporários para o Natal, que em 2017 chegou a 5 mil postos, contra 3 mil em 2016. “A confiança do consumidor aumentou”, comemora. Entre as medidas que auxiliaram nessa retomada está a liberação do saque do FGTS das contas inativas, que injetou mais de R$ 600 milhões na economia do Estado.
Ohnesorge lembra, ainda, que a realização de feirões para recuperação do crédito deu a milhares de pessoas a chance de voltar a consumir. E, entre os fatores que geram otimismo para 2018, está a recém-aprovada lei trabalhista, que flexibilizou e facilitou contratações. O presidente do CDL cita a jornada intermitente como um exemplo salutar para a relação patrão/empregado no varejo. “O lojista agora pode contratar profissionais para atuar nos dias de maior fluxo, gerando mais postos de trabalho”, diz.
Supermercados driblam a crise
Um dos sinais do tamanho da perversidade da crise foi a retração observada na venda do setor de alimentos. Com o desemprego aumentando a cada dia, ficou difícil até comprar comida. Os supermercados sentiram o impacto, mas a boa notícia é que, em 2017, as vendas voltaram a crescer.
O superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, ressalta que o ano fechou com uma alta de 1,5% nas vendas. E observa que a expectativa do setor é crescer pelo menos 2,5% em 2018.
Para dar um drible na crise, foi preciso mudar. “Buscamos formas de atender a esse novo comportamento do consumidor diante da retração econômica, oferecendo produtos com menor valor, mas mantendo a qualidade”, conta, ressaltando que foi preciso diminuir a rentabilidade, devido à perda do poder aquisitivo da população, para manter os preços atrativos.
Para 2018, uma das grandes incógnitas é a eleição presidencial. Mas a turbulência política não afeta o otimismo do setor. “Paramos de piorar, o que já é um bom resultado, e estamos inovando para gerar emprego e renda”, comenta Schneider.
Shoppings abrem mais lojas
Além da crise na segurança pública, no início do ano, o varejo enfrentou, em 2017, os problemas da crise hídrica – que gerou aumento nos preços de produtos – e os efeitos da continuidade da paralisação das operações da Samarco, entre outros fatores que contribuíram para o aumento do desemprego na indústria. Mais motivos, portanto, para comemorar a recuperação no volume de vendas.
O diretor-geral do Shopping Vitória, Raphael Brotto, ressalta que o mall chegou ao fim do ano com todas as lojas locadas. Foram abertas 40 lojas, entre marcas nacionais e internacionais, ao longo de 2017, gerando 400 empregos. Em 2018 alguns fatores, como o grande número de feriados e a realização da Copa do Mundo e das eleições, tendem a gerar reflexos negativos no varejo, mas mesmo assim a previsão é de um ano generoso com o setor. “Acreditamos em um crescimento acima de 4,5% nas vendas”, comemora Brotto.
O otimismo é compartilhado pelo superintendente dos shoppings Montserrat e Mestre Álvaro, do Grupo Sá Cavalcante, Marcelo Rennó. A empresa, da qual fazem parte também os shoppings Praia da Costa e Moxuara, abriu 63 lojas em 2017, com 1,2 mil postos de trabalho. “Até outubro, registramos 10% de crescimento nas vendas. A economia melhorou, mas também investimos em formas de gerar fluxo de consumidores”, diz Rennó, destacando a criação de uma ala gourmet no Praia da Costa e a abertura de um supermercado no Shopping Moxuara como iniciativas que deram resultado. “A nossa expectativa é que o grupo cresça de 12% a 15% em 2018”, ressalta.
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