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domingo, 28 abril, 2024

Café, o ouro em grãos do Espírito Santo

Com produtividade e qualidade crescentes, a produção capixaba se destaca e permanece como uma das mais importantes bases da economia do estado

Por Robson Maia

Há mais de um século a relação entre café e Espírito Santo é inseparável. Pode-se dizer que, de certa forma, a história do Estado está pautada no conhecimento, plantio, expansão e exploração do grão. Por ter guiado o desenvolvimento espiritossantense, o café segue sendo um personagem marcante e protagonista não só da história da sociedade capixaba, mas principalmente da economia estadual.

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Durante o século XX, o Espírito Santo teve um desempenho significativo na produção de café no país, sobretudo nas décadas iniciais. O Estado chegou a ocupar o topo da cadeia produtiva da agricultura cafeeira, ao lado de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A média anual de café colhido no Espírito Santo chegou a ser estimada em torno de três a quatro milhões de sacas de 60 kg.

As décadas de 1970 e 1980 foram desafiadoras para a produção de café no Espírito Santo, devido a problemas relacionados a pragas e doenças, como o nematoide do cafeeiro, que afetaram as lavouras e diminuíram a produção em alguns períodos. A chegada de órgãos de pesquisa especializados, como o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), e o fortalecimento das cooperativas foram fatores fundamentais para que o mercado capixaba se mantivesse produtivo e competitivo em nível nacional e internacional.

Panorama atual

No recorte recente, o Espírito Santo não só manteve como incrementou os fortes vínculos com a agricultura cafeeira e ostenta o status de segundo maior produtor de café nacional. Atualmente, são cerca de 400 mil empregos gerados diretamente e indiretamente pelas várias etapas do processo produtivo do grão.

Apesar da proporção atingida com a produção cafeeira no Estado, o modelo de cultivo mantém suas tradições. De acordo com o Incaper e com o Centro do Comércio do Café de Vitória (CCCV), 73% dos produtores de café no Espírito Santo são de base familiar, com propriedades de tamanho médio de 8 hectares. Ainda de acordo com o levantamento, são cerca de 131 mil famílias que mantêm cafezais e lavouras de café. A atividade cafeeira é responsável por 37% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola capixaba.

Quanto à ocupação territorial, o mapa do café se distribui por todo o solo capixaba. O grão do tipo Arábica ocupa cerca de 130 mil hectares, com áreas de plantio situadas nas regiões mais altas do estado. Já o Conilon ocupa um território quase três vezes superior em relação ao seu principal “concorrente” interno, com cerca de 360 mil hectares, de acordo com dados do Instituto Futura.

No Brasil, a produção total da safra de cafés, em 2022, foi calculada em 50,92 milhões de sacas de 60kg de café beneficiado, volume que representou um acréscimo de 6,7% em relação à safra anterior, de 2021. Só no Espírito Santo, a produção foi de 16,7 milhões de sacas, correspondendo a aproximadamente 33% de todo café produzido em solo brasileiro.

Perspectivas

A primeira estimativa para a safra de café em 2023 aponta para uma produção de 54,74 milhões de sacas de café beneficiado, sinalizando uma produção 7,5% superior à colhida em 2022. A área total destinada à cafeicultura no país em 2023, contabilizando as duas espécies mais cultivadas (Arábica e Conilon), totaliza 2,25 milhões de hectares, aumento de 0,3% sobre a área da safra anterior.

Discriminando os números observados em solo capixaba, o Canephora, também conhecido como Conilon, produziu em 2022 cerca de 12,35 milhões de sacas, volume físico 10,1% maior que a safra anterior. Em 2023, a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta para uma produção de café Conilon no Espírito Santo de 10,57 milhões de sacas, uma variação de -14,4%.

Já o Arábica registrou, em 2022, uma produção de 4,36 milhões de sacas, número 48,1% maior que o volume de 2021. Para 2023, os números também apontam para uma redução no cultivo: 3.075 mil sacas, 29,5% abaixo do volume colhido no comparativo com o mesmo período do ano anterior.

“No caso do Arábica, essas quedas são normais, pois alterna sistematicamente boas safras com safras baixas. Trata-se de uma questão natural. Se observarmos no histórico, ocorreu ganho de produtividade, passando de 23 sacas por hectare em 2014 para 28 sacas em 2022 (safra 22/23, já colhida). Quanto ao Conilon, foi uma queda menor, porém nem tanto esperada, de 7%”, disse o economista Orlando Caliman.

De acordo com a Conab, a retração foi causada pelo longo período de estiagem vivido no Sudeste brasileiro. No período, são registrados intervalos prolongados de baixa pluviosidade, ou sua ausência, no qual a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. Aliado a isso, potencializa este fenômeno, às baixas temperaturas e ano de bienalidade negativa, sobretudo, no Arábica. A área total em produção capixaba está estimada em 392.760,0 hectares (-2,41).

Agregando valor

No entanto, mesmo diante da redução da produção capixaba, o Estado tem se fortalecido em outros segmentos. A industrialização foi incorporada na economia criativa espiritossantense e tem se mostrado uma alternativa para o crescimento dos números locais, com a geração de emprego e renda.

Em São Domingos do Norte, Espírito Santo, foi implantada uma indústria de torrefação, a primeira planta industrial da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel). Com isso, a cooperativa passou a industrializar seu próprio café, o Café Guardião, processo que antes era realizado por terceiros. Outros polos industriais vêm se formando ao longo do território capixaba, como em Linhares.

café
A industrialização foi incorporada na economia criativa e tem se mostrado uma alternativa para o crescimento dos números locais / Foto: AdobeStock

“Se observarmos bem a árvore de produtos derivados do café, vemos um produto amplo e diverso, e com várias aplicações. Muitas dessas derivações são ainda potenciais oportunidades, mas ainda precisam ser ‘descobertas’. Isso nos leva a construir estratégias que possibilitem ao nosso Estado aproveitar ao máximo todas as potencialidades e oportunidades. A cadeia de industrialização já é um grande avanço. Mas acho que há ainda muito espaço para avançar. E será alcançado com pesquisas e inovação”, reforçou Caliman.

O impacto é refletido na sólida economia capixaba. O Espírito Santo foi destaque nacional na exportação de café solúvel, com comercialização acima da média nacional. Enquanto no Brasil o crescimento registrado foi de 29% em 2022, as agroindústrias capixabas tiveram um resultado de 122% em crescimento de divisas, que correspondeu a US$ 108 milhões, o maior valor já registrado na série histórica.

“O café é o carro-chefe em diversas regiões do nosso estado, seja o conilon ou o arábica. É o que alavanca a economia na ótica das atividades primárias. A agropecuária, que é o nosso setor primário, representa aqui no Estado cerca de 4,5% da economia. Dentro da agropecuária, uma das produções que mais se destacam é justamente a cafeicultura.  Então é um papel relevante para impulsionar as atividades econômicas do setor primário”, pontuou o diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira.

No grupo de café e derivados, o café cru (em grãos) sempre foi predominante nas divisas das exportações capixabas. No entanto, nos últimos quatro anos, o café solúvel ganhou espaço nessa proporção, saindo do patamar de 8,4% em 2019 para 15,8% em 2022. Esse foi somente um dos grupos potencializados com as políticas estaduais propostas pelo Governo do Estado nos últimos anos, conforme destacou Lira.

“Hoje aqui no Estado existe uma sinergia muito importante para potencializar ainda mais essa questão da produção, exportação e industrialização do café. O Governo do Estado tem um papel central com a atuação da Secretaria de Desenvolvimento, da Secretaria de Agricultura, do Incaper e de outras autarquias. Os esforços para impulsionar o setor como um todo estão visíveis, com políticas que atraem empresas, indústrias e valorizam o produtor”, complementou Lira.

Café, uma commodity muito especial

O café é a segunda commodity mais comercializada no planeta Terra. Seus grãos são usados não apenas para produzir uma das bebidas mais apreciadas do mundo, mas também (por meio da descafeinação) para gerar cafeína para bebidas, fármacos e cosméticos.

O café é cultivado em mais de 50 países ao redor do globo e é uma importante fonte de divisas para várias nações. Entre os países em desenvolvimento, ele é a segunda mercadoria mais valiosa que exportam, depois do petróleo, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OIC).

Em 2022, as exportações globais de café totalizaram 168,5 milhões de sacas do 60kg, das quais 39,35 milhões de sacas (23,35%) saíram do Brasil para 122 nações, resultando em uma receita cambial recorde de US$ US$ 9,23 bilhões para o país. Para 2023, a OIC estima que a produção mundial será de 171,3 milhões de sacas de 60kg.

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