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sexta-feira, 26 abril, 2024

Sérgio Vidigal

Sérgio VidigalGestor do município com o 4º maior desenvolvimento do Brasil, Sérgio Vidigal não gosta de ser chamado de prefeito, mas pelo nome. Afinal, segundo ele, sua trajetória política não durará a vida inteira. Também não acabará tão cedo, entretanto. Habilidoso em sair da crise pela qual viveu a cidade de Serra entre o final de 2010 e início de 2011, Sérgio vislumbra novas oportunidades para o município, que tem, segundo ele, múltiplas possibilidades e potenciais para contribuir ainda mais para o desenvolvimento do Espírito Santo. Nesta entrevista, ele fala sobre o futuro político, as oportunidades e o maior desafio que Serra precisa vencer, a violência.

O município da Serra é o 4º maior em desenvolvimento do país, segundo dados do IBGE. A que se deve esse resultado?
A Serra, nos últimos anos, começou a definir seus novos potenciais de desenvolvimento. Há 40 anos, nossa principal atividade econômica era a agricultura. Na década de 70, Serra começou a receber o maior parque industrial do Espírito Santo. A partir daí o município começou a atrair novas formas de desenvolvimento. Hoje, temos na Serra um setor de comércio e serviços extremamente forte. A cidade se consolidou como uma cidade de fato, porque antes era mais uma cidade-dormitório, e, com isso, trouxe também uma fatia da população que nós não tínhamos, a população de classe média. Esses fatores todos, somados, são responsáveis pelo crescimento que a Serra tem tido. Esse dado mostra que a cidade tem um potencial de desenvolvimento muito grande, e há ainda novos atrativos que o município começa a trabalhar, como o potencial turístico, que ainda está adormecido.

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Na sua gestão especificamente, o que está sendo feito para colaborar com esse desenvolvimento?
Eu não posso falar desta gestão sem lembrar outras. Esta cidade vem construindo esse alicerce ao longo de 14 anos. O que tem ocorrido agora é que a cidade começa a ter um novo foco de desenvolvimento. A crise mundial de 2008 está exigindo que a Serra acelere sua atratibilidade de investimento para outros setores. O setor da construção civil é um setor que já era esperado que crescesse na Serra. Primeiro, por falta de espaço na capital; segundo, porque o valor do metro quadrado é ainda, comparado ao de Vitória e Vila Velha, extremamente atrativo, e terceiro, que temos algo que Vitória e Vila Velha não têm, que é a mobilidade. Estamos fazendo um novo projeto de ocupação, para trazer os grandes conjuntos habitacionais de maior valor agregado para ampliar, com maior intensidade, a vinda da classe média para a Serra e, com isso, aumentar a nossa atividade comercial e de serviço na cidade, que esse será, nos próximos 10 anos, a grande atividade econômica da Serra.

Como a vocação rural da Serra tem sido trabalhada nestes tempos de crescimento urbano?
Com a implantação dos parques industriais, acabamos abandonando a atividade rural. Em 2009, retornamos com a Secretaria de Agricultura. Parecia que o momento era inoportuno, mas não. A Serra tem 60% de área rural. Por isso, incentivamos a cultura do abacaxi, que já foi, na Serra, há 40 anos, a principal atividade econômica. Incentivamos o pequeno produtor, as cooperativas e também a psicultura, que temos hoje na Lagoa do Juara. A cidade passou a enxergar que a agricultura é um setor que pode crescer muito. A agricultura não tem uma participação grande na composição do PIB, mas tem uma expectativa muito grande de crescimento, principalmente por conta da industrialização de produtos agrícolas.

A Serra foi um dos primeiros municípios do Espírito Santo a desenvolver uma lei para as micro e pequenas empresas (MPEs). O que isso trouxe de ganho para a cidade?
A grande lição que a crise mundial nos mostrou foi que se não fossem o pequeno e micro empresário e o empreendedor individual, a crise seria, na verdade, muito maior. E se não fossem eles, não sairíamos dela tão rápido. O município entendeu que precisaria aprovar uma lei que pudesse fortalecer, incrementar e incentivar esse segmento. E, por essa razão, a Prefeitura aprovou a lei da MPE, criando incentivos a mais, inclusive, com a possibilidade de participação do pequeno e do micro nos polos empresariais públicos. Depois de Cariacica, Serra é a cidade que mais regulariza e estimula o empreendedor individual (EI). Vivíamos naquela expectativa de todo mundo ter a carteira assinada, e essa não é uma realidade. A realidade é que temos também um grande percentual de empreendedores, e a maioria deles ficava na informalidade. Por isso, estamos trazendo para a formalidade esses empreendedores. Isso gera emprego na própria família, porque a pequena empresa é bastante familiar. A primeira contribuição que as MPEs e os EIs dão ao município é a geração de emprego e renda. Com isso, há consumo, e na própria cidade.

Onde estão hoje as maiores oportunidades de crescimento na Serra?
Eu diria que nossas maiores oportunidades estão no setor do turismo, que ainda não exploramos. Outra oportunidade está no setor de comércio e serviços. Com a obra do Mestre Álvaro, a BR 101 vai se transformar na maior avenida brasileira. Ela corta hoje 40 km dentro da Serra, e, virando avenida, vamos ter uma extensão da Fernando Ferrari. Teríamos uma grande área para implantação de atividades comerciais, shoppings, prédios comerciais. E esse setor de comércio e serviço vai se fortalecer bastante na Serra. Ao mesmo tempo, cresce na Serra o número de habitantes da classe média, que, automaticamente, vai passar a trabalhar na própria cidade. Também estamos recebendo três shoppings centers: o Mestre Álvaro, o Monte Serrat e o Atlantic. Esse é um tipo de atividade econômica que agrega muito valor e gera muito emprego. E o que é bom é que, se der muito lucro, esse lucro vai ficar na própria cidade.

E como a Serra pretende incentivar o turismo, especificamente?
Estamos trabalhando o turismo na expectativa de que o Governo do Estado possa também abraçá-lo como uma forte atividade econômica do Espírito Santo. Porque não dá para o município se vender sozinho, temos que fazer parte do roteiro dos turistas que vão vir para o Estado. Aqui na Serra, além do turismo sazonal, de férias, temos a expectativa de fortalecer muito o turismo de negócios, porque temos na região o setor de gás e petróleo, siderurgia, celulose, comércio exterior. Nossa expectativa é de que o turismo seja um setor em que o município comece a trabalhar mais, com o cuidado na ocupação das áreas. No nosso novo PDM, algumas áreas que antes eram utilizadas para moradia estão virando áreas estratégicas para implantação de rede hoteleira, centros de convenções, para criarmos aqui algumas regiões em que possamos implantar esse tipo de empreendimento. No Espírito Santo, não é o turismo litorâneo que tem tendência de ser mais forte, e sim o de montanha.

O que está sendo feito no município para incentivar não só o trade turístico, mas também outros novos negócios?
Temos uma lei na Câmara para incentivos a vários setores da atividade econômica da Serra, inclusive o turismo. Também estamos trabalhando muito na qualificação profissional na cidade, porque se não qualificarmos nossa população, vamos ter duas Serras: uma de quem está chegando, e outra daqueles que já estavam aqui, de renda menor. Estamos também com incentivos em alguns setores que são muito tímidos na atividade econômica da Serra, como o parque gráfico. Estamos dando incentivo também para a ampliação de setores que já estão instalados na cidade, como o setor metalmecânico, e implantando novos polos empresariais.

A crise financeira pela qual passou a Serra foi, enfim, superada?
A nossa maior crise financeira aconteceu em 2009. Até o primeiro semestre de 2009, não tínhamos tido impacto da crise mundial. O orçamento de 2009 foi aprovado em 2008, na expectativa de que a Serra iria continuar crescendo sua receita acima da média. O que ocorreu foi que o município foi se planejando, construindo mais escolas, creches, postos de saúde e, em 2009, projetamos uma receita de R$ 700 milhões e realizamos uma de R$ 596 milhões. Isso teve um impacto muito grande, porque o município continuou acelerado com seus investimentos e obras. Fomos para 2010 com um déficit. A nossa sorte é que ainda contingenciamos 30% do nosso orçamento, num primeiro momento, mas, mesmo assim, não teve jeito. E tivemos que fazer toda uma adaptação à nova realidade. Essa adaptação demorou, porque tivemos que trabalhar para diminuir o custeio, enxergar onde tinha gordura para reduzir, a ponto de que em 2011, o nosso déficit era muito menor do que o de 2010. Mas como 2010 foi ano eleitoral, veio o foco eleitoral em cima dos resultados. E não entramos 2011 devendo muito, entramos com uma quantidade de obras reduzidas e desaceleradas, e algumas até paralisadas. Pelo déficit que a Serra tinha, que devia, na época, R$ 17 milhões de obras, e ter um orçamento de R$ 700 milhões, era um débito irrisório. Mas o que mais nos impactou não foi nem o débito, foi ter que reduzir e desacelerar as obras. Isso nós já acertamos: as obras já retomaram sua condição normal. Tivemos que reduzir os investimentos, porque, se a receita não aumenta, e é difícil reduzir as despesas, temos que reduzir os investimentos. Mas, mesmo assim, mantivemos um bom percentual de investimento. No ano passado, investimos 18% do nosso orçamento. Não conseguimos ampliá-lo, porque temos pouco investimento do Governo Federal no Estado. E, além disso, a Serra sempre teve pouco investimento do Governo Estadual, que sempre colocou na cabeça que o município não precisa de nada. Se você pegar os investimentos que o Estado fez nos últimos quatro anos em Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra, você vai observar que os investimentos que Serra recebeu são muito inferiores. Mais de 90% do nosso investimento são de recursos próprios do município.

Qual a grande sequela deixada pela crise?
Nossa maior sequela foi a redução de investimentos. Tivemos que reduzir o investimento de 2009 para 2010 em 9% e replanejar nossas ações. Estamos trabalhando para fortalecer nosso departamento de captação de recursos. A cidade trabalhou durante muito tempo com pouca captação de recursos, e hoje precisa captar mais recursos. O município teve que reduzir os investimentos, mas não pode continuar com o investimento reduzido. A Serra é uma cidade importante na economia do Estado, com quase 18% do PIB estadual. Estamos sensibilizando o governo para a necessidade de ampliar os investimentos na cidade, senão vamos perder em competitividade.

E quais lições o município tirou dessa crise?
A gente precisa melhorar o planejamento e sempre rever o custeio. Outra lição é de que o município deve acelerar a atração de investimentos do setor de comércio e serviços, para reduzir nossa dependência das grandes plantas industriais instaladas na cidade.

Quais os principais desafios para o desenvolvimento da Serra hoje?
Eu diria que é a violência. É um desafio grande, e que o município não tem como enfrentar sozinho. Esse problema da violência acaba nos retardando um pouco no sentido de trazer a população de classe média em maior quantidade a curto prazo, porque dá a impressão de que aqui vive-se uma guerra civil. Esse é o nosso maior desafio. E junto com esse desafio, há o desafio da modernidade, que acaba alimentado outro, que é a questão do enfrentamento à droga. Hoje, o índice de dependentes químicos é muito grande, e a dependência química é problema de saúde pública, talvez o maior deles. Outro desafio que a cidade tem, mas que a Prefeitura, junto com o programa “Minha Casa, Minha Vida” começou a solucionar é a questão da moradia para a população de menor renda. Essa população acabou ocupando lugares inadequados na Serra, como áreas de preservação e de risco. Na Serra, 20 mil famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família. Destas, 8 mil moram de favor na casa de parentes ou moram de aluguel. A Prefeitura, numa parceria com a Caixa Econômica Federal e com o governo, está iniciando a construção de 6 mil unidades habitacionais para a população que recebe de zero a três salários mínimos, mas que vão ser ocupadas por quem recebe até um salário mínimo.

Que ações já foram tomadas e o que está sendo feito para combater a violência, que, como o senhor mesmo disse, é o grande desafio da Serra?
Nossas ações são mais voltadas para a prevenção, para as políticas sociais. Temos aumentado a oferta de vagas nas escolas e implantado a chamada jornada escolar ampliada, ou educação integral. Aumentamos o número de CRAs em todos os bairros com alto índice de violência, para melhorar a assistência social. Na saúde, ampliamos a estratégia de saúde da família, com mais de 50 equipes em funcionamento na Serra. O município aplica hoje R$ 12 milhões de subvenção social em programas sociais, em várias parcerias com instituições. Estamos terminando a construção de um centro de dependentes químicos, em Muribeca, e vamos construir um centro de tratamento para dependentes químicos voltado para crianças e adolescentes, porque esse é um público que está quase do mesmo tamanho do que o público adulto. O videomonitoramentoja foi implantado, e temos 55 câmeras funcionando, mas vamos chegar a aproximadamente 120 câmeras. São ações que contribuem, mas precisamos também aumentar o efetivo da Polícia Militar e da Polícia Civil. Tem que ter delegacias distritais na Serra. Precisamos de um Poder Judiciário mais ágil, de um programa mais qualificado de ressocialização do preso. Há ações que dependem do município, mas há outras que não dependem de nós. Hoje, nosso maior problema é a desestruturação da família. O pai não tem como ser referência para o filho, em algumas situações. Por isso, a desestruturação da família tem tudo a ver com a política pública. Estamos programando para, a partir do ano que vem, em cada escola municipal colocar um psicólogo e uma assistente social.

No próximo ano, vamos ter eleições para o executivo municipal. Ao que parece, na Serra a eleição não vai ficar polarizada entre o senhor e o deputado federal Audifax Barcelos. Como você enxerga a aliança que foi criada recentemente entre PT, PR e PSD para a possível candidatura do Vandinho Leite. Qual a sua visão sobre essa aliança e sobre o que pode ser a próxima eleição?
Eu ainda não me debrucei sobre a eleição. Em relação às candidaturas, considero-as naturais, porque o regime é democrático e todos têm direito de ser candidatos. O Vandinho já construiu alguma coisa da história dele aqui. E se forem candidatos, temos que pedir que o debate seja um debate com uma agenda positiva, que sejam discutidos os problemas da cidade, os enfrentamentos futuros que a cidade vai ter e que não transformemos isso numa batalha pessoal, nem de agressão, acusação ou calúnia. Todos nós temos condições de fazer um debate com uma agenda positiva para a cidade. Não podemos transformar o processo eleitoral numa agenda negativa, de difamação, calúnia e, de repente, também, analisar o seguinte: se vale à pena as pessoas de bem se dividirem, para daqui a pouco favorecerem pessoas que não terão uma ação tão positiva para a cidade. Eu, Vandinho e Audifax já tivemos ou temos mandato, e a população conhece o desempenho de cada um.

Ao final de seu mandato, ele se estendendo ou não, como você gostaria de ser lembrado? Que contribuições gostaria de deixar para a população da Serra?
Eu já pensei muito nisso. O que eu quero, primeiro, é que eu seja enxergado da mesma forma de quando entrei. Isso para mim é importante. Quando entrei na vida pública, eu vim para a Serra para ser médico, no pronto-socorro de Carapina, não vim para ser político. Meu plano era ser médico, atender a população, ter meu consultório, ter minha clínica, e eu tinha tudo isso. Entrei na vida pública de uma forma diferente: nunca tive apoio de político. Virei vereador, deputado e prefeito apenas com o apoio da população. Não gosto de ser chamado de ex-prefeito, prefeito ou deputado; gosto de ser chamado pelo meu nome. Então, quero ser lembrado como alguém que pode ter contribuído. Também quero ser lembrado como médico; eu gosto quando lembram que sou médico. E minha expectativa é de que não fique na política a vida inteira. Não quero deixar a minha profissão, porque esse era o meu grande sonho.

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