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sexta-feira, 26 abril, 2024

Indústria Criativa

Indústria CriativaNo novo mundo globalizado, onde o conceito de rede está cada vez mais presente, um novo tipo de indústria toma forma e ganha importância no cenário econômico: a indústria criativa. Definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como “o conjunto de atividades baseadas no conhecimento, na inovação e na tecnologia da informação, que produz bens – tangíveis ou intangíveis (serviços intelectuais ou artísticos) – com conteúdo criativo, valor cultural e valor econômico, que ampliam os objetivos de mercado”, essas indústrias são responsáveis por 10% de toda a economia mundial.

Compreendendo o ciclo de criação, produção e distribuição de produtos ou serviços comercializáveis, que usam a criatividade como insumo principal, a economia criativa movimenta no mundo US$ 3 trilhões e cresce 8% ao ano. E devido às elevadas taxas de crescimento registradas até agora, as previsões para a indústria criativa nos próximos anos são positivas, e estima-se que o setor vai movimentar US$ 6 trilhões em 2020. No Brasil, considerando-se a cadeia produtiva da indústria criativa, os setores de arquitetura, moda e design são destaque, representando mais de 80% do mercado de trabalho criativo.

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A crise econômica mundial do final de 2008 e início de 2009 confirmou a relevância dessas indústrias no cenário atual. Na ocasião, enquanto a diminuição do comércio, principalmente internacional, fez com que as indústrias tradicionais passassem por um período de retração, com diminuição da produção, as indústrias consideradas criativas apresentaram crescimento acima da média – cerca de 14% ao ano, segundo as Nações Unidas.

A Conferência sobre o Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas (Unctad, na sigla em inglês) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgaram o Relatório sobre a Economia Criativa 2010, concluindo que as indústrias criativas oferecem oportunidades de um novo e alto crescimento para os países em desenvolvimento. O relatório mostra que, para um sistema mais eficaz de governança global, os países emergentes e em desenvolvimento, entre eles o Brasil, terão papel-chave na recuperação econômica, que ainda é frágil. Para isso, eles devem reforçar suas capacidades criativas buscando, progressivamente, novas oportunidades de mercado no sul, onde a demanda está crescendo.

Iniciativas locais
No Espírito Santo, a participação da cadeia das indústrias criativas na economia estadual também chama a atenção. São 14.621 empresas capixabas que se adequam a esse conceito e que geram mais de 145 mil empregos, movimentando cerca de R$ 141 milhões, segundo dados levantados pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), em 2009.

Atenta ao crescimento dessas indústrias, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) criou, em junho de 2011, o Comitê para Desenvolvimento da Indústria Criativa no Espírito Santo, para dar mais atenção ao tema, identificando as potencialidades capixabas quando se trata de indústria criativa. O gerente-executivo do Ideies e coordenador do Comitê, Antonio Fernando Doria Porto, explica que, para que uma atividade que usa a criatividade seja denominada indústria criativa, é necessário que exista mercado para sua produção. “O conceito de indústria criativa engloba as indústrias que utilizam como base a criatividade, a tecnologia da informação, onde se consegue deter a propriedade intelectual, e que têm mercado para vender os produtos. Mesmo que se utilize a criatividade, se não houver mercado, não há indústria criativa. Outra característica dessas indústrias que têm se acentuado nos últimos tempos é a utilização de redes sociais para a divulgação de seus produtos”, explica Doria.

Ele esclarece também que a indústria dita criativa trabalha de maneira diferente das indústrias tradicionais. “A indústria criativa trabalha em rede, e não no conceito de cadeia produtiva da indústria tradicional. Daí a importância do boom da internet e do crescimento da utilização das redes sociais”, afirma.

Além disso, essas indústrias que se sustentam na criatividade são também fator de desenvolvimento, de diferenciação e até de manutenção para as outras indústrias. “A indústria tradicional não vai sobreviver sem a indústria criativa. Em termos de globalização, ganha quem criar mais, quem inovar mais, tanto em termos locais, quanto em termos internacionais”, afirma Doria Porto.

“Muitas indústrias ditas tradicionais dependem das indústrias criativas. Por exemplo: o setor de confecções depende da parte de criação de moda, assim como acontece com outras indústrias. Com a questão da globalização, tem sido cobrado das indústrias cada vez mais criatividade e inovação, sem as quais a indústria não sobrevive no mundo atual”, esclarece o presidente do Comitê para Desenvolvimento da Indústria Criativa no Espírito Santo, que ainda faz um alerta: “O empresário que não vê a importância da indústria criativa pode ficar para trás”.

Na primeira reunião do Comitê, realizada em agosto, os membros puderam entender melhor o conceito de indústria criativa, para, a partir daí, começar a elaborar estratégias que possam fomentar o desenvolvimento dessas indústrias. “Estamos criando quatro subcomitês: Design de moda; Arquitetura e design de interiores (móveis); Folclore, gastronomia e artesanato, e Software, aplicativos e games, para começar a direcionar nossas ações e estudos de acordo com cada área. Pretendemos levantar um diagnóstico da situação atual de cada setor no Estado”, afirma Doria Porto.

De acordo com a empreendedora cultural Lala Deheinzelin, no estudo “Cadernos de economia criativa: Economia Criativa e Desenvolvimento Local”, elaborado pelo Sebrae, o Espírito Santo reúne algumas condições adequadas para desenvolver esse tipo de indústria. “O Espírito Santo tem condições para ser referência nesse tipo de empreendimento: distância e número de municípios manejáveis; enorme diversidade cultural e de recursos naturais; governo visionário e com foco em gestão; posição geográfica e infraestrutura favoráveis à distribuição para mercados internos e externos”, evidencia.

Vestuário e criatividade no ES
No Espírito Santo, um dos setores da indústria tradicional mais influenciado pela indústria criativa é o de vestuário. Inovação e diferenciação, que são frutos da criatividade, são fatores fundamentais para que uma empresa do ramo se mantenha no mercado. Atento a essa realidade, o segmento, que tem forte potencial no Estado, tem investido em áreas como design e criação, buscando agregar valor à produção capixaba de confecções. Com esse objetivo, está sendo implantado em Santa Inês, em Vila Velha, o Centromoda, um centro de referência da indústria da moda, que vai atender às demandas do setor de moda e confecções, principalmente em termos de qualificação de mão de obra.

A presidente do Sindicato da Indústria de Confecções de Roupas em Geral do Estado do Espírito Santo (Sinconfec), Clara Orlandi, explica que o projeto foi aprovado e dentro de alguns meses deve ser realizada a licitação para o início das obras. “O Centromoda será um centro de excelência, para formação de mão de obra em atividades ligadas a design. Será um local onde as pessoas poderão fomentar suas ideias, se atualizarem”, declara.

A construção do Centromoda está orçada em R$ 9 milhões, sendo R$ 5 milhões em equipamentos, de acordo com a presidente do Sinconfec. “A moda lida essencialmente com o intangível. São seus criadores e as tendências que agregam valor aos produtos. O Centromoda vai ser um ambiente propício para o design, para o desenvolvimento de ideias. Todos os setores relacionados ao vestuário vão encontrar ali um ambiente propício para o seu desenvolvimento”, explica Clara. “É por meio de ações como essa que a indústria criativa vai agregando valores, sejam eles culturais, econômicos ou sociais”, acrescenta.

Cultura
Outra iniciativa capixaba ligada às indústrias criativas foi a criação da Cooperativa de Música do Espírito Santo (Unimus), em 2009. A ideia da Cooperativa surgiu a partir da implementação do projeto Música do Espírito Santo Brasil, que estimulou o diálogo e a reintegração do universo musical focado para o crescimento do segmento e para sua profissionalização. O analista técnico da Unidade de Atendimento ao Turismo e Cultura do Sebrae-ES, Webson Bodevan Oliveira, explica como funciona a cooperativa. “A Unimus trabalha para fortalecer a economia da cadeia produtiva da música do Espírito Santo e, com isso, a profissionalização efetiva do setor”, esclarece.

Presididos pelo músico Alexandre Lima, os 70 cooperados conquistaram na Unimus algumas vantagens, como o fortalecimento do segmento da cadeia produtiva musical e a orientação legal e jurídica na contratação de shows, representações artísticas, dentre outros. O Sebrae-ES trabalha capacitando os cooperados em gestão empresarial, administrativa e contábil; fazendo pesquisas de mercados e novas mídias; além de articular parceiros como a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Prefeituras de Vila Velha e Vitória, para viabilizar projetos.

Não só a música, mas também outras áreas de desenvolvimento da indústria criativa no Estado têm ganhado forte expressão nacional e internacionalmente, como a já citada moda ou o Carnaval, por exemplo. Além de gerar milhares de empregos, a economia criativa é responsável por algo imprescindível à indústria de hoje, a agregação de valor. Assim, o Espírito Santo deixa de ser simples exportador de commodities para ser também terra de criatividade e inovação.

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