Há uma relativização do conceito de inovação. Temos que ter a coragem de mudar esse jogo, fazer apostas maiores no desenvolvimento tecnológico
Por Luciano Raizer
O Espírito Santo vem avançando em relação à inovação. Especialmente a partir de 2019, quando foi criada a MCI – Mobilização Capixaba pela Inovação, saímos da 24ª posição no ranking nacional para a 9ª. Muitas startups foram criadas, avançamos em pesquisas, muitas empresas passaram a investir em inovação, muitos espaços foram criados.
De 80 startups em 2019, estima-se que estamos chegando a 200. Porém, distante do que esperávamos, que eram 400 startups em 2024.
Muitos ambientes de inovação vêm cumprindo um relevante papel. Destaques incluem a TecVitória, pioneira como incubadora há mais de 27 anos; os núcleos do Ifes; pesquisas da UFES que originaram spin-offs tecnológicas; o apoio da Fapes; e o FindesLab, responsável por captar mais de R$ 30 milhões e aplicar em 150 projetos, consolidando-se como o terceiro melhor ambiente do país.
Crescemos bastante, mas ainda nos falta muito a caminhar. A MCI estabeleceu metas ousadas para 2030: alcançar 1.000 startups e posicionar o estado no top 5 nacional em inovação. Parecem metas muito desafiadoras, o que nos leva a ter que pensar em outros caminhos.
A questão é que passei a perceber uma certa relativização do verdadeiro conceito de inovação. Tudo passou a ser inovação. Um coworking passou a ser chamado habitat de inovação mesmo sem gerar nada de inovador; uma empresa compra uma máquina nova e chama de inovação. Uma pessoa nova entra no cenário de inovação, faz umas palestras e é chamado de inovador.
O título de pai da inovação no estado já tem dono, é do Professor Álvaro Braga de Abreu que, na década de 1990, trouxe ao estado esse tema, criou a TecvItória e iniciou a ideia do parque Tecnológico, além de investir em empresa inovadora.


Fazer as mesmas coisas não nos levará a resultados diferentes. Precisamos de gente competente e corajosa para trilhar o caminho da inovação, que deve gerar notas fiscais para promover o desenvolvimento da região, permitir o surgimento de novas empresas e o reposicionamento das existentes. Temos nas nossas universidades professores e estudantes brilhantes, que estão sendo demandados para a produção de artigos e não pelas nossas empresas para desenvolver tecnologias.
O Brasil ocupa a 13ª. posição na produção científica e a 50ª posição no ranking global de inovação. Temos que ter a coragem de mudar esse jogo, sermos mais ousados, fazer apostas maiores no desenvolvimento tecnológico. Temos gente competente, um ecossistema minimamente organizado, recursos financeiros (por incrível que pareça).
Falta ousadia, atrair esses talentos para a inovação, envolver as empresas no desenvolvimento e não apenas na compra de tecnologia, mostrar para as pessoas verdadeiramente o que é inovação, que pode ser simples, mas não é trivial, que tem que ter base de conhecimento, que tem risco, que teremos que errar para acertar…esse é o verdadeiro ambiente de inovação, não esse besteirol que alguns querem imprimir.
Felizmente vejo alguns atores com esse novo olhar, e que a verdadeira inovação aconteça e transforme nosso estado.
Luciano Raizer é professor doutor do Departamento de Tecnologia Industrial da UFES, presidente da Fest – Fundação Espírito-santense de Tecnologia.