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quinta-feira, 2 maio, 2024

Um ano estranho

Vivemos tempos estranhos. As pessoas se confinaram numa anomalia singular, em bolhas que distorcem a percepção da realidade

Por Eustáquio Palhares

Bem, aparentemente inauguramos 2023, passado o carnaval, como quer a tradição brasileira, embora não falte quem pondere que o pós-carnaval guarda o recesso que precede a semana santa para então o ano começar de fato. Aí, sim, transposto esse marco do calendário, abre-se o exercício. Por sinal pontuado de feriados que sobrevivem inercialmente, destituídos completamente do propósito que os inspiraram em passado já remoto. E que certamente minam a produtividade nacional.

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Esse ano o calendário foi atropelado pelos eventos de janeiro, dia oito, com a manifestação popular que assaltou o planalto e cuja leitura depende das narrativas que inundam a cena política já há anos. O pessoal da Esquerda sustenta a tese da manifestação antidemocrática que eclodiu no vandalismo repudiado unanimemente.

O pessoal que não é de Esquerda, e aqui se foge da armadilha da polaridade, oferece leitura contrária argumentando a postura contida, equilibrada, moderada com que se conduziu a grande parcela da população que durante 70 dias exatamente prevenindo-se de acusações de afronta à ordem social e cuidando para que sequer um papel fosse jogado ao chão na vigília defronte os quartéis. Por esse entendimento, não seria aquela população ordeira que fecharia sua intervenção social de modo tão truculento e negando os foros de civilidade que mostrou disciplinadamente durante os mais de dois meses de sua mobilização.

Vivemos tempos estranhos, em alguns momentos pincelados de surrealismo. A polarização política criou uma anomalia singular confinando as correntes em bolhas de identidade e opinião que distorcem a percepção da realidade. A imprensa enredou-se nisso e destituiu-se completamente do privilégio de instância neutra, apenas comprometida com a objetividade dos fatos.

Princípios fundamentais como o direito de expressão foram confiscados na medida em que as instâncias reguladoras pendem claramente para um lado. Ou ostensivamente contra o outro.

Uma eleição presidencial cujo resultado produziu um empate técnico teve o seu efeito garantido por coerção policial que nega o princípio da legitimidade. E sem legitimidade, não existe autoridade. Em qualquer contenda, se um dos lados argui a suspeição do processo e desde que não exista motivo para tal, é incompreensível que o ente regulador ou moderado negue a aferição requerida pela parte. Se há dúvidas sobre a exatidão da balança, e nesse caso dúvidas de uma porção ponderável (49,1% do eleitorado) não há consistência na negativa de realizar a respectiva aferição. Não há como remover a suspeita de fraude por decreto.

A verdade é que esses tempos estranhos somente serão adequadamente dimensionados ou suficientemente compreendidos na perspectiva histórica. Fazendo uso de uma das poucas coisas significativas da era Collor, o dito “o tempo é o senhor da Razão”, distanciados e com uma visão mais abrangente – eventualmente mais clareada por informações que ainda estão por aflorar – conseguiremos, os que buscam uma leitura extra-bolha, entender melhor a conjuntura do biênio 2022-2023.

O certo é que narrativas podem até oferecer interpretações e leituras de realidade que alienem seus clientes, os da bolha. Mas não alteram a realidade que se impõe como a verdade que se tenta escamotear. A economia é uma ciência humana que se move pela subjetividade, na perspectiva dos seus players.

Um Estado gigante garroteia o setor produtivo que move a economia e sem geração de riqueza não como confiscar, por tributação, o que necessita para se financiar como um fim em si mesmo. Ao penalizar o esforço produtivo – e não fala-se aqui de agendas super tardias como as reformas que se deve ao país há 30 anos – não há como quitar a fatura da Justiça Social. Simples assim. E 2023 deve mostrar isso…

Eustáquio Palhares é jornalista e especialista em Comunicação Empresarial, gestor de mídia social, gestor de imagem e reputação e turismólogo.

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