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sexta-feira, 29 março, 2024

Perspectivas para 2021

Perspectivas para 2021

A pandemia e a necessidade de socorrer milhares de brasileiros fez a montanha ficar mais alta

Por Antônio Marcus Carvalho Machado

A Mitologia Grega tem significados inexoráveis, como a punição de Sísifo. Ao desafiar os deuses, recebeu a dura punição de exercer um trabalho interminável e foi seu grande tormento: ter que rolar uma pedra até o topo de uma montanha e, frustrado, vê-la cair ao sopé. Não é fácil desafiar os Deuses.

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Já em Os Trabalhadores do Mar, Victor Hugo nos presenteou com a obsessão de Gilliat em resgatar uma embarcação e seu motor à vapor encalhada entre rochedos. Tinha em mente a promessa de casar-se com Déruchette, sobrinha do proprietário do barco e que assim prometera a quem o recuperasse. Dia após dia, lutava bravamente contra o mar e contra o rochedo. Em busca de seu ideal lutou contra todas adversidades, inclusive de moradores locais que o achavam louco.

Esse prólogo também tem por finalidade revelar, no meu ponto de vista, algumas perspectivas econômicas para o próximo ano. As quais têm por base o essencial Paulo Guedes, nosso Ministro de Economia. Paulo desafiou os Deuses da política conservadora ao propor e adotar uma política econômica liberal, com ênfase no supply-side economics, com mais mercado e menos governo.

Ou seja, no enfrentamento das condições de oferta. E isso perpassa questões como reforma tributária, reforma trabalhista e venda de estatais. Entretanto, o que vimos até o momento que antecedeu a pandemia foi um exaustivo esforço rolando pedra acima, como Sísifo, e frustrando-se com sua volta ao marco zero. Quando não, como no caso da Previdência, um pouco acima de seu ponto inicial.

O que o dignifica, creio, é sua determinação em colocar a pedra no topo da montanha. Caso consiga, ainda que necessitando de concertação com os atores políticos, teremos um 2021 prodigo em benesses. Para tanto são essenciais o fortalecimento da diplomacia bilateral; a manutenção do teto fiscal; o êxito nas privatizações e concessões públicas, a manutenção da SELIC baixa e o dólar cotado acima de R$ 4,5. A pandemia e a necessidade de socorrer milhares de brasileiros fez a montanha ficar mais alta.

Além disso, esse prólogo busca criar uma metáfora com Gilliat no sentido de caracterizar a possibilidade de essa melhoria econômica acontecer, mas com um viés mais desenvolvimentista, com realização de obras de grande porte canalizando recursos financeiros do orçamento público para tal finalidade, mas, nesse caso, com o protagonismo do ministro Rogério Marinho, o equilíbrio fiscal não seria uma meta em si, mas um obstáculo a ser contornado. Algo extremamente arriscado, como o mar enfrentado por Gilliat, visto que nossa dívida pública já se aproxima de 94% do PIB.

A bela jovem disposta a se casar com quem recuperasse o navio seria a aprovação popular, o ganho de popularidade do presidente da república e o casamento, a reeleição em 2022. Nesse cenário, Paulo Guedes, seria um expectador próximo, ao lado do Presidente, ou distante, ao lado dos deuses do mercado.

Qualquer que seja ele, com esse movimento o país se apresentará melhor em 2021. Tudo indica, de forma insustentável; com agravamento do déficit público; aumento do risco Brasil; e alterações no câmbio e nos índices de inflação. A tempestade perfeita logo após um mar de Almirante.

Antônio Marcus Carvalho Machado, é economista (Ufes) e mestre em Administração (UFMG)

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