25.5 C
Vitória
quinta-feira, 2 maio, 2024

Pedro de Figueiredo: “biochar é o milagre da agricultura”

NetZero acaba de inaugurar a sua primeira fábrica do biochar (ou biocarvão) no Estado. Conheça as vantagens desse fertilizante natural e inovador

Por Gustavo Costa

Cofundador da NetZero e CEO da NetZero Brasil, Pedro de Figueiredo fala a respeito do biochar, fertilizante feito a partir da palha do café e que já se mostra como uma grande alternativa para a redução de carbono e aumento produtivo nos próximos anos. A empresa, que já tinha uma fábrica em Lajinhas (MG), acaba de fincar raízes também no Espírito Santo, com a planta construída no município de Brejetuba.

- Continua após a publicidade -

ES Brasil – Como se deu a descoberta do potencial do biochar?

Pedro de Figueiredo – Tudo começa entre os anos 1980 e 1990, quando cientistas liderados por Guy Reinaud descobriram sítios com uma terra preta na região amazônica, e que hoje é conhecida como a terra preta do índio. Eles notaram que os índios produziam seu sustento nessas áreas com grande sucesso. Já em outras áreas, a produtividade caía pela metade ou até três vezes menos. Isso chamou a atenção dos cientistas. Se fosse possível reproduzir os resultados dessa terra em outros lugares, seria possível reduzir de maneira muito significativa o desmatamento para a produção de alimentos. Novas expedições constataram que o que dava o tom escuro para a terra era o carvão, que tinha algumas propriedades diferentes. Foi então que lhe deram o nome de biochar, que na realidade é o carvão biológico.

ESB- Qual a importância e funcionalidade do biochar?

Pedro de Figueiredo – Ao estudar o biochar, o Reinaud verificou que ele tinha uma estabilidade na natureza de milhares e milhares de anos. Ou seja, se eu produzir aquele biochar, ele não vai, em um jargão popular, deixar que o CO² transformado volte para a natureza. Ele vai ficar no solo. Por isso é que lá na África também era possível encontrar esses sítios, onde esse biochar era produzido com a queima de árvores de uma série de cozimentos, que ao longo de milhares de aos de anos foi formando aquele material.

A constituição dele funciona como se fosse uma esponja. Se você olhar no microscópio, notará ele tem mais poro que uma esponja, não deixa passar qualquer umidade por ele. Essa água é “guardada” e quando vem a seca, o biochar funciona como um reservador. Então, por exemplo, uma plantação de café vai poder florescer mesmo com o clima quente, já que o solo está molhado. A planta o ano inteiro tem nutrição. A água é o elixir da vida, não é o nutriente.

ESB- Como funciona a logística de pegar a palha de café, transformá-la em biochar e depois levar o fertilizante até o produto?

Pedro de Figueiredo – O nosso projeto funciona de forma circular. Eu pego a palha com o produtor, faço a produção e depois devolvo o biochar para esse produtor. É uma parceria. Eu entro com o investimento, a operação, busco a palha, enfim, faço todo o processo. Ele recebe o biochar e vai pagar R$ 4 por quilo. Nós não comercializamos o biochar, a menos que tenhamos uma quantidade estocada, uma reserva, que seja possível repassar a outros produtores. Nos locais em que temos planta, atuamos fazendo a logística em um raio de 25 quilômetros. Depende também das condições das estradas. Em região com asfalto, chegamos nesses 25 quilômetros, se a estrada estiver ruim, a distância é menor.

ESB- Em termos de produção, qual a diferença entre as fábricas de Lajinha (MG) e de Brejetuba?

Pedro de Figueiredo – É basicamente a mesma. Nós construímos a de Lajinha, já melhoramos, temos já uma primeira melhoria nela. E Brejetuba já nasce com todos os melhorias que nós fizemos em Lajinha. Com a capacidade de produção entre 3.500 e 4.000 toneladas de biochar.

ESB- Quais as expectativas da Net Zero com a fábrica que acaba de chegar aqui em Brejetuba?

Pedro de Figueiredo – Queremos trazer o crescimento local, melhorar a condição de vida do agricultor. E também mostrar como trazer mais vida ao solo, que está muito sofrido. A grande expectativa é da recuperação do solo da região. Queremos realmente propor um crescimento social e econômico da região.

ESB- Além da cultura de café, o biochar também pode ser usado em outros tipos de plantação?

Pedro de Figueiredo – Ele pode ser produzido através de outros resíduos também. Por exemplo, é produzir o biochar a partir do bagaço da cana. Se o produtor tem uma plantação de outro produto, não tem problema, também pode usar. O mais importante é que a questão da esponja, que vai agir independente da matéria-prima. É um milagre realmente da agricultura. Não a tôa a NetZero foi uma das vencedoras do concurso XPRIZE Carbon Removal lançado por Elon Musk e recebemos um prêmio de US$ 1 milhão. Atuamos atualmente em Camarões e principalmente aqui no Brasil. 

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA