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sábado, 12 DE outubro DE 2024

Pecuária e preservação florestal podem andar juntos?

No ES, o Governo realiza um programa de recuperação das áreas de preservação permanente juntos aos produtores da agropecuária

Por Daniel Hirschmann

O Espírito Santo vem registrando avanços na gestão sustentável dos recursos hídricos utilizados pela agricultura. Apesar disso, ainda há desafios a superar. A captação excessiva de água, por exemplo, pode levar à escassez em algumas regiões, especialmente no norte do estado.  Outro problema, na opinião do professor Giovanni Garcia, é a prática de pecuária extensiva em regiões que não têm essa aptidão, como em locais montanhosos no sul do estado.

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O professor do Departamento de Engenharia Rural do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Ufes explica que para a pecuária de corte, em alguns casos, é necessário preparo de solo para a formação de pastagens, mas esse preparo, às vezes, não é feito de forma correta. “Na primeira chuva, essa camada de solo que não foi preparada e o solo que já está em processo de degradação são carreados para o leito do rio”, afirma Garcia. O resultado são águas barrentas, assoreamento de rios e a perda de uma camada fértil da superfície do solo.

Para o secretário Estadual da Agricultura, Ênio Bergoli, independentemente da atividade – seja pecuária ou agricultura –, um problema a ser combatido é o desmatamento de matas ciliares nas margens dos rios. Nesse sentido, ele destaca que o Espírito Santo registrou avanços nas últimas décadas. “Nós temos 29% de cobertura florestal no Espírito Santo. Se você observar 1992, quando houve a conferência Rio 92, eram 12%. Nós estamos com 29% de cobertura florestal. São dados da Fundação SOS Mata Atlântica”, frisa.

Ele acrescenta que as propriedades acima de quatro módulos fiscais de terra (80 hectares, em média) que fizeram inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR), com adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), vão apresentar um plano de recuperação das áreas de preservação permanente, sobretudo margens de rios e morros. “Com isso, nós vamos crescer ainda mais a nossa cobertura florestal. Cumpridas essas metas, que estão no Código Florestal, nós vamos chegar a 38% de cobertura florestal, protegendo nascentes e margens de rios”, prevê.

Outras preocupações

“A agricultura utiliza muita água, sim, mas estamos cada vez mais usando métodos de irrigação que consomem menos água e energia.” - Ênio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo - Foto: Divulgação
“A agricultura utiliza muita água, sim, mas estamos cada vez mais usando métodos de irrigação que consomem menos água e energia.” – Ênio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo – Foto: Divulgação

Bergoli explica que os produtores da agricultura familiar ainda não têm o prazo estipulado para a apresentação de planos de recuperação ambiental. Por outro lado, estão na mira da Academia, que vê neles um desafio, segundo o professor Giovanni Garcia.

“A adoção de tecnologias sustentáveis ainda varia entre os agricultores. Grandes produtores tendem a buscar inovações para reduzir custos e melhorar a produtividade, enquanto pequenos agricultores, muitas vezes, carecem de acesso a informações e tecnologias adequadas”, explica. Este é um dos grandes desafios que a Academia tenta ajudar a superar, promovendo a disseminação do conhecimento técnico.

As mudanças climáticas também são uma preocupação crescente. Garcia acredita que a agricultura e a pecuária sentirão os impactos, considerando o zoneamento agroclimático para determinadas culturas, por exemplo. “Se o clima da região tende a sofrer alguma alteração, isso também tende a causar alguma mudança em termos de padrão de cultivo”, comenta. Da mesma forma, a criação de animais adaptados a regiões quentes, ou de clima frio, pode ser afetada por variações nos padrões de temperatura, “caso as mudanças climáticas se confirmem”.

Do lado do estado, a situação também preocupa. Tanto, que o Espírito Santo tem um plano de adaptação a mudanças climáticas, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente, que envolve órgãos de governo e iniciativa privada.

“São muitos fatores do clima – e não só chuva, ou falta de chuva, mas a temperatura também – que afetam o dia a dia das pessoas e a agricultura. Por isso é que nós temos um amplo plano de Estado, de adaptação a essas mudanças climáticas, porque é uma defesa que a gente tem que ter, para conviver, se adaptar e mitigar esses efeitos”, afirma o secretário Ênio Bergoli.

*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 222, de julho de 2024. Leia a edição completa do Anuário Verde sobre águas aqui.

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