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quinta-feira, 18 abril, 2024

Os Executivos do Bem

Saiba como os valores de autoconhecimento e espiritualidade podem influenciar positivamente o dia a dia de sua empresa

Por Yasmin Vilhena

Aqueles que precisam acordar cedo para ir ao trabalho ou para resolver pendências do cotidiano, por muitas vezes se vêem situações desconfortáveis que nem sempre são detectadas em um primeiro momento, mas que podem ser observadas principalmente pelo desgaste emocional no ambiente corporativo. Tais sensações, em determinados casos, são justificadas pela pressão dos resultados e pela necessidade de se estar cada vez mais preparado para lidar com futuros desafios.

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Diante disso é comum surgir aquele sentimento estranho de que algo pode estar errado com o seu corpo e a sua mente. Afinal, esses podem ser os primeiros indícios de que você não está cuidando devidamente do seu lado espiritual. Um lado que não necessariamente deve ser associado a algum tipo de religião, mas sim ao autoconhecimento e ao desafio de encontrar propósito nas próprias ações, seja você um empregado ou até mesmo um grande executivo.

Sucesso, prestígio e dinheiro são apenas algumas das consequências alcançadas por quem de fato mergulha no ambiente profissional, algo que aparentemente é muito bom, mas que pode perder o seu valor quando é trazida a sensação de inquietação interior. Uma realidade muito bem descrita no livro “Inteligência Espiritual”, da filósofa, psicóloga e física americana Danah Zohar, que trata sobre o afastamento da maioria das pessoas dos questionamentos filosóficos existenciais do ser humano, como os tão conhecidos “De onde eu vim?”, “Para onde vou?” e “Qual o propósito da minha vida?”. Perguntas que até então podem parecer um pouco tolas para a maioria das pessoas, mas que, se forem usadas de forma correta, também trazem bons frutos para aqueles que desejam ser um “executivo do bem”.

Entendendo a espiritualidade

Considerado um tema novo e polêmico, o Quociente Espiritual, ou QS (“S” do inglês “Spiritual”) vem sendo tratado por muitos psicólogos como algo extremamente importante na vida das pessoas, além dos já conhecidos Quociente de Inteligência (QI) e Quociente Emocional (QE), que fazem parte principalmente do ambiente corporativo. De acordo com o mestre em Ciências Sociais Sidemberg Rodrigues, que também é gerente-geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal Brasil, a espiritualidade deve ser encarada como um novo pilar da sustentabilidade empresarial.

“Estamos acostumados com um modelo que vem sendo muito visto dos anos 80 para cá que é o tripé econômico, ambiental e social, que não interage entre si mesmo. Na ArcelorMittal, por exemplo, trabalhamos com um modelo mais amplo que, além das áreas já citadas, envolve ainda a parte política, cultural e interacional. Mesmo com todo esse equilíbrio, nós percebemos que faltava uma parte importante no processo sustentável da empresa que pudesse tratar do intelecto, da ética, da compaixão e do amor, características que não ficam muito claras nas outras dimensões. Ou seja, se você possui um lado espiritual bem trabalhado, consegue ter um comprometimento moral e aprende ainda a lidar com toda essa complexidade da vida sem deixar que a pior parte da subjetividade (corrupção, angústias) invada a sua personalidade”, explica.

Enquanto que o QI nos ajuda a resolver problemas de lógica e o QE avalia as situações e as devidas reações em cada uma delas, o QS nos leva a indagar, em um primeiro momento, se queremos estar de fato em determinada situação, ou se, por exemplo, o nosso trabalho está nos dando a satisfação de que necessitamos. “O componente espiritual tem que fazer parte do ser humano, ele precisa estar alinhado com outros fatores. Quando isso não ocorre, vivemos em um desequilíbrio, o que acaba prejudicando não só a vida pessoal como a profissional também”, acrescenta a especialista em Autoconhecimento e Inteligência Comportamental Heloísa Capelas.

A falta de equilíbrio entre esses dois lados é um fator que pode contribuir e muito para a degradação das relações profissionais. Segundo Sidemberg Rodrigues, para que o trabalho se torne cada vez mais prazeroso, o empresário precisa estar atento a tudo que acontece ao seu redor, principalmente em relação aos anseios e desejos de seus colaboradores.

“A vida fica mais rica quando nos sentimos útil. Além de ter um bom emprego, você precisa ter boas relações no seu ambiente corporativo. Uma pessoa que não se dá bem com o chefe, por exemplo, acaba levando os problemas do trabalho para a vida pessoal, pois na maior parte do nosso tempo estamos em contato com os nossos superiores”, revela.

Para o pastor Usiel Carneiro, que também é administrador e especialista em Gestão Organizacional, o empreendedor que deseja explorar a sua própria espiritualidade não necessariamente precisa ter algum tipo de religião. Mesmo que os valores sejam parecidos, é importante saber separá-los no ambiente profissional.

“A religiosidade é um tipo de expressão da espiritualidade que pode ser explorada de várias formas. No caso de uma organização, não vejo necessidade de se implantar determinado rito, pois não podemos levar em conta somente um credo e sim todos. Seria preciso criar vários núcleos de espiritualidade por conta da diversidade religiosa que nós temos. A espiritualidade não fala especificamente do culto a divindade e sim de valores importantes para o ser humano, como amor, humildade, perdão e sabedoria, além da capacidade de administrar a si mesmo”, afirma.

Mas afinal, quais são os benefícios?

Muitos empresários acreditam que, se tornarem o ambiente de sua empresa um pouco mais descontraído e leve, podem acabar prejudicando a produtividade e os lucros. Um pensamento bastante equivocado, segundo Heloísa Capelas. Para ela, a felicidade dos funcionários no ambiente corporativo está diretamente ligada com a produção da empresa. Algo que pode ser conquistado de forma eficiente, principalmente com aqueles que trabalham a espiritualidade interior.

“Algumas pessoas acreditam que a criação de um ambiente leve pode ser considerada uma perda de tempo, pois os funcionários deixam de trabalhar. Isso é mentira, pois se tivermos um ambiente amistoso, onde todos se dão bem e se respeitam, a produção se multiplica. Quando uma pessoa está engajada e confiante, ela passa a ter mais prazer em trabalhar e a buscar os resultados que a empresa espera dela. A hierarquia não deve ser encarada como autoritarismo, e a tão conhecida frase ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’ deve ser deixada de lado. Os tempos mudaram, e os empresários precisam se dar conta disso”, destaca.

Dentre os benefícios que podem ser alcançados com o autoconhecimento e com a espiritualidade está a coragem para encarar novos desafios e enxergar alternativas para que possam ser solucionados problemas dentro das empresas. “As pessoas que são espiritualmente equilibradas têm mais satisfação que as outras e possuem uma facilidade maior para enxergar pontos positivos em cada situação, bem como as alternativas de solução. Por estarem mais atentas à vida, são mais cuidadosas com a segurança no trabalho, mais criativas, produtivas e saudáveis. Elas geram saúde ao seu redor, o que contribui bastante na inovação do ambiente corporativo. Aqueles que são bem resolvidos não têm medo de ousar nem de se arriscar, pelo contrário, eles possuem humildade e sabem que quem ousa corre riscos e que errar faz parte”, afirma Sidemberg Rodrigues.

Para Usiel Carneiro, até o próprio relacionamento com o cliente é beneficiado com a implantação dos valores espirituais. “A espiritualidade coloca a organização num caminho melhor, o que facilita o tratamento e o desenvolvimento de relações mais saudáveis. Para se ter ideia, até o relacionamento com os clientes melhora, passando a ter mais respeito entre todos os envolvidos. A adoção desses valores promove um saldo de leveza e de felicidade, fazendo com que o indivíduo lide melhor com problemas inevitáveis do dia a dia”, destaca o pastor.

Ciente da importância da espiritualidade no âmbito corporativo, a Ictus Engenharia, localizada na Serra, possui um programa de qualidade de vida que trabalha com saúde social, mental e física. Além dos valores espirituais, a empresa também decidiu seguir os preceitos da Bíblia.

“O programa, que foi desenvolvido com a ajuda de uma consultoria especializada, tem a finalidade de cuidar do bem-estar das pessoas. Ele é trabalhado em quatro dimensões: física, social, mental e espiritual. Iniciamos o projeto com um diagnóstico, onde todos os funcionários preencheram um questionário com perguntas direcionadas a essas quatro dimensões e, a partir de um relatório detalhado, elaboramos um plano de ação. No programa realizamos diversos tipos de atividades, como avaliação física com diagnóstico de obesidade e taxa de massa muscular; happy hour mensal com todos os funcionários fora do ambiente da empresa; palestras com temas ligados a relacionamentos, participação na comunidade e na família; indicação de livros para leitura individual; prática de oração no início de reuniões; exercícios práticos para desenvolvimento do pensamento; dentre outros aspectos”, destaca o diretor da Ictus, Êmerson Martins de Assis.

Segundo ele, ações como essas tornam o local mais leve, fazendo com que as pessoas se sintam valorizadas. “É um ambiente bastante acolhedor, leve, transparente e amistoso, onde as pessoas procuram se ajudar. Praticamos a verdade acima de todas as coisas e valorizamos as pessoas acima das coisas e dos processos. No meu entendimento somos indivíduos integrais, ou seja, físico (corpo), mente (alma) e espírito não podem se separar. Entendo que o meu papel como empresário é fazer a diferença na vida das pessoas, ajudando-as na suas próprias transformações, pois só assim iremos transformar o mundo. Não tenho certeza se isso trará grandes resultados financeiros, mas temos tido o suficiente para a sobrevivência e o crescimento da empresa, que apresenta aumentos expressivos: 70% no número de funcionários, 263% no valor bruto de fatura[1]mento e 190% no número de contratos”, comenta.

Como implantar a espiritualidade?

Empresários em busca de uma melhoria contínua podem procurar consultorias especializadas para que os valores da espiritualidade sejam implantados gradativamente na vida dos funcionários. “As empresas podem solicitar palestras para conhecer um pouco mais sobre o assunto e ver todas as vantagens oferecidas. É importante que a área de comunicação compreenda muito bem esse conceito, pois é ela quem leva a informação. Quem expandir a sua mente com certeza não irá se arrepender”, revela Sidemberg Rodrigues.

Mas se você pensa em adotar os preceitos somente para obter lucros, visto que a felicidade melhora a produtividade, é melhor desistir. Segundo Usiel Carneiro, esse tipo de pensamento é contrário aos valores espirituais.

“A espiritualidade pode ser considerada um fator decisivo na gestão, mas é preciso ter o cuidado: ela não deve ser usada somente como uma ferramenta. Se isso acontecer, o empreendedor estará corrompendo os valores estabelecidos, pois o viés espiritual fala de preceitos importantes que uma pessoa interesseira não irá compreender. Mas se você quiser melhorar consigo mesmo e com os outros, o meu conselho é o seguinte: reserve 10 minutos do seu dia para se conhecer e reflita sobre o tipo de pessoa que você deseja ser. Esse já é um grande passo para conquistar coisas boas na vida”, orienta.

 

A matéria acima é uma republicação da Revista ESBrasil, da edição nº 117, de abril de 2015. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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