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sexta-feira, 19 abril, 2024

Obesidade e Covid-19: Quais são os riscos reais?

Estudos realizados na China, na Itália e EUA evidenciam que o nível de gravidade para Covid-19 é maior naqueles com obesidade de maior grau

A obesidade, assim como a idade avançada, tem sido um dos fatores de risco da Covid-19 mais evidenciados pela mídia, pesquisas e profissionais de saúde. Nos pacientes mais jovens, ela está sendo apontada como uma das causas principais de morte ou gravidade maior em pacientes com Covid-19.

Mas seria mesmo a obesidade o maior vilão para as pessoas mais jovens?

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Para fundamentar essa reflexão, nada melhor do que apresentar as evidências científicas mais recentes sobre o assunto “Obesidade e Covid-19”.

Nas edições de abril, maio e junho de 2020 do periódico Obesity, que pertence à The Obesity Society – organização internacional que é a principal sociedade profissional focada na ciência, tratamento e prevenção da obesidade no mundo – as implicações da obesidade para o tratamento da Covid-19 são amplamente discutidas. O que se pode afirmar é que pacientes com obesidade de maior grau são mais difíceis de tratar e são de maior risco por causa de fatores e vulnerabilidades como por exemplo doenças metabólicas associadas (como diabetes tipo II) e alterações na fisiologia dos pulmões e da parede torácica, além do difícil manejo das vias aéreas.

Estudos realizados na China, na Itália e EUA evidenciam que o nível de gravidade para Covid-19 é maior naqueles com obesidade de maior grau. Porém, a edição de abril da revista Obesity traz um alerta sobre o que não se está levando em consideração nessa análise: o tipo de obesidade varia em cada etnia. Nos chineses, a gordura corporal concentra-se principalmente na região visceral (no abdômen), que significa um perfil de obesidade mais tóxico, além de a prevalência de diabetes tipo II ser muito alta nos descendentes de asiáticos, semelhante ao padrão norte americano; enquanto que nos europeus, a gordura localiza-se mais na região subcutânea, representando um perfil de obesidade menos tóxico.

O que proponho é que façamos uma reflexão: se a prevalência de obesidade está tão alta no mundo todo, o que faz com que o perfil de obesidade seja mais tóxico e, portanto, torne a condição individual ainda mais séria?

Para responder isso podemos considerar dois fatores comportamentais como os mais importantes: a má alimentação e o sedentarismo.

Alimentação do tipo “padrão ocidental”, ou seja, rica em alimentos ultraprocessados e portanto, com excesso de gordura saturada e açúcar, gera mudanças na microbiota intestinal e inflamação crônica, que por sua vez alteram a imunidade inata. A inatividade física já é capaz de ocasionar perda de massa muscular após poucos dias, prejudicar a circulação de oxigênio, afetando desde o sistema cardiovascular até a função oxidativa do músculo.  O sedentarismo também contribui para reduzir a sensibilidade à insulina principalmente no músculo e aumentar a deposição de gordura corporal que está associada a inflamações sistêmicas e ativação de defesas antioxidantes, que prejudicam o sistema imunológico. Todas essas mudanças podem ocorrer muito antes do indivíduo desenvolver a obesidade!

Uma alimentação rica em vegetais, por exemplo, forma um verdadeiro escudo protetor no nosso intestino, proporcionando o que chamamos de modulação intestinal: os vegetais fornecem substratos chamados de “prebióticos”, que são os alimentos para as bactérias da microbiota intestinal, chamadas “bactérias boas”, que produzem substâncias capazes de aumentar a ativação de células do sistema imune inato e parar os processos inflamatórios no tecido adiposo e no fígado, além de reduzir a obesidade, a resistência à insulina e o diabetes.

Focar na qualidade da alimentação e manter o condicionamento físico adequado pode ser a chave do sucesso nessa luta de sobrevivência diante do risco de gravidade quando já diagnosticada a Covid-19. E diante dessa condição de isolamento social e confinamento em casa, estamos todos sendo desafiados a desenvolver mais as habilidades de cozinhar e até mesmo nos exercitar em um espaço pequeno.

Vale questionar se o foco das nossas preocupações deve ser mesmo os quilos a mais na balança de algum conhecido ou até de nós mesmos. Fazer tal juízo de valor apenas contribui para criar estereótipos e preconceito num momento que suscita mais reflexão e paciência diante das incertezas trazidas pela pandemia de Covid-19.

Portanto, não temos como fugir do desafio que nos foi imposto: melhorar nossos hábitos alimentares e de atividade física, independente de estarmos ou não numa condição de obesidade.

Patricia Moraes Ferreira Nunez é Doutora em Saúde Coletiva e pesquisadora sobre padrões alimentares e obesidade

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