A segunda temporada, lançada nesta quarta-feira (22) retrata histórias da cosmologia indígena, além do folclore
Dois anos após o lançamento de Cidade Invisível, a segunda temporada da série de Carlos Saldanha estreia na Netflix nesta quarta-feira, 22. Os novos episódios se passam em Belém e, além de um elenco mais diverso, a narrativa traz a cosmologia indígena para o centro da trama.
Na história, Eric, vivido por Marco Pigossi, surge em um santuário natural, protegido por indígenas e procurado por garimpeiros ilegais, no Pará. Ele descobre que Luna e Cuca, interpretadas por Manu Dieguez e Alessandra Negrini, estavam morando nas proximidades com o objetivo de trazê-lo de volta à vida.
Luna desaparece depois de seu encontro com o pai. Desesperado para reencontrá-la, Eric descobre que pode retirar poderes das entidades e passa a usar isso para tentar proteger a filha, sequestrada por pessoas ligadas ao garimpo ilegal.
A primeira temporada, que se passava no Rio de Janeiro, recebeu algumas críticas de ativistas indígenas que alegavam falta de representatividade no elenco e na história, que se propunha retratar o folclore brasileiro.
“Cidade Invisível vem justamente da ideia de contar essa história em várias cidades. Eu queria começar contando na Amazônia, mas não tive a oportunidade. Recebemos as críticas de coração aberto e essa inclusão é sempre positiva”, explica Carlos Saldanha.
A diretora Graciela Guarani também comenta que, diferentemente da primeira temporada, os novos episódios retratam “histórias vivas”. “Temos histórias reais da cosmologia indígena, que diferem do folclore. A personagem da Mula Sem Cabeça é um folclore, de fato, mas há outros personagens que são inspirados em mais de 300 povos com mais de 200 línguas”, disse.
Assista ao trailer da 2° temporada de “Cidade Invisível”.
Desconstrução
Dentre as novas personagens, três principais entidades se destacam nessa trama: Maria Caninana, feita por Zahy Tentehar; Matinta Perera, interpretada por Letícia Spiller; e a Mula Sem Cabeça, que ganha vida através de Simone Spoladore.
Letícia revela que, para a construção da bruxa que se transforma em pássaro, ela precisou desconstruir sua imagem: “Foi muito rico e emocionante poder trazer a energia da floresta e essa ancestralidade feminina”. E continuou: “Prezo muito a investigação das minhas personagens. Então, foi muito bom poder desconstruir essa Letícia que o público está acostumado a ver nas novelas”.
Simone revela que também passou por um processo de desconstrução, porém foi em relação ao que se conhece da Mula Sem Cabeça. “Na lenda, ser a Mula é uma maldição e eu queria que minha personagem assumisse essa força da natureza e entendesse que ser uma entidade é uma bênção – porque, nessa temporada, as entidades são chamadas para salvar a floresta”, explica.
Já a personagem Maria Caninana, a mulher que se transforma em uma cobra grande, foi construída por Zahy de forma mais pessoal. “Eu estava com muita sede de fazer algo que fugisse do estereótipo do que é interpretar uma pessoa indígena. Isso me ajudou na desconstrução dessa cobra e eu acho que essa sede de vingança me ajudou bastante”, afirma. “Meu desafio era não pensar no indígena sofrido, exterminado. A personagem me deu uma bagagem muito boa para eu me sentir muito poderosa, para eu usar como uma vingança no bom sentido”, explica.
Mesmo os personagens que se mantêm da primeira para a segunda temporada, Eric, Cuca e Luna, passaram por mudanças nesse período de dois anos que também é retratado na série.
“O Eric volta completamente diferente. Como ele retorna ‘antes da hora’, isso traz muitas consequências para a narrativa, mas o fio condutor da história é o amor pela filha e isso se mantém”, explica Marco Pigossi.
Manu comenta que o fato de Luna passar esses dois anos sem o pai também faz com que sua personagem tenha uma nova perspectiva. “Ela quer encontrar o pai dela e, agora, não é que esteja mais rebelde, mas acho que ela está mais determinada”, compara.
Cuca
Já a Cuca chega nos novos episódios de forma mais humanizada. “Ela volta contracenando muito com a Manu, então mostramos esse lado maternal mais aflorado”, diz Alessandra Negrini, que também opina sobre a nova trama. “A série está muito mais profunda, tem mais presença da água e isso quer dizer emoção e profundidade. A gente tá mergulhando mais nas questões, tendo a floresta e a questão indígena como protagonistas”, acrescenta a atriz.
Ainda que essa profundidade das personagens e o protagonismo da floresta sejam novidades na história, Carlos Saldanha enfatiza que a relevância de sua obra continua a mesma: eternizar a cultura brasileira que, por muito tempo, só foi transmitida através da oralidade.
“A ideia é fazer um resgate do que nós temos de importante e que estava perdido. As lendas do folclore são passadas de boca a boca. Se as pessoas não falarem mais, ninguém mais vai saber quem é o Curupira ou a Cuca. Nessa história, houve um resgate das raízes brasileiras, de uma forma moderna, para uma geração que não cresceu com isso.”
Com informações de Agência Estado