Saiba como tirar do caminho barreiras que te impedem de estar alegre
Por Luciene Araújo (para Comunhão)
Qualquer coisa pode ser motivo para deixar o ser humano triste, mas há alguns fatores que têm maior potencial para isso. Com a pandemia do novo coronavírus, a sensação de tristeza e ansiedade tomaram conta de boa parte da população. Mesmo os cristãos, que encontram alegria na vivência em religião, podem sofrer com as dificuldades.
A revista Comunhão publicou, em 2012, uma série sobre os “ladrões da alegria”, redigida pela jornalista Lilia Barros. O material foi inspirado nas ministrações e no livro publicado pelo reverendo Hernandes Dias Lopes, da I Igreja Presbiteriana de Vitória.
O ano de 2020 foi muito atípico e levou muitas pessoas à solidão do isolamento, causando tristeza e desilusão. Por isso, a ES Brasil te convida a refletir sobre o assunto.
A alegria é uma marca do chamado “povo de Deus” e sabemos que os inimigos dos cristãos buscam nos atingir sempre naquilo em que somos mais vulneráveis. Então, o primeiro passo é conhecer quem são esses ladrões e como atuam sobre nossas vidas.
As circunstâncias
Situações de desconforto são normais, mas está na Bíblia a garantia de que nada e nem ninguém tem de fato o poder de nos roubar a alegria. “Um acidente, uma enfermidade, um divórcio, a reprovação no vestibular, uma falência ou desemprego, são exemplos de circunstâncias que nos roubam a alegria. Então, vejamos Paulo, que tinha inúmeros motivos para ser infeliz, mas alegrava-se até quando estava acorrentado em prisões”, destaca o pastor Hernandes.
Se permitirmos que tais forças atrapalhem nossa felicidade, estamos indo de encontro ao que a religião cristã nos ensina sobre a alegria. “Parece um paradoxo, mas o cristão, mesmo em circunstâncias infelizes, deve nutrir a felicidade íntima de ser filho e herdeiro de Deus”, explica o pastor.
O que Paulo escreveu aos filipenses serve para nós hoje. Da mesma forma, somos perseguidos por ladrões que lutam contra nossa comunhão com Deus e com os irmãos. E é justamente essa comunhão que devemos preservar, pois nos fortalece e nos protege de prisões emocionais e espirituais que nos tiram o motivo maior da alegria: a salvação em Cristo.
As palavras de Paulo hoje ecoam em meio a uma igreja que precisa experimentar a verdadeira alegria no Espírito Santo como combustível que a move para superar qualquer tipo de situação desfavorável que possa abater a família de Cristo.
Experiências que vivemos podem afetar diretamente nosso bem-estar e, às vezes, até a nossa fé. Muitas pessoas questionam se é possível ser feliz nesse mundo diante de tantas injustiças e sofrimentos.
As pessoas
Não são apenas os problemas financeiros e de saúde ou, ainda, tantas outras circunstâncias ruins que abalam nossa vida. As pessoas podem nos trair, cometer maledicências, críticas, agressões físicas ou psicológicas, desrespeito, inveja e desprezo contra nós.
O pastor e conferencista Ney Yoshimitsu Yoshida afirma que a busca por vitória em alguma área da vida algumas vezes implica na derrota de alguém. Para vencer, alguns estão dispostos a “passar por cima do próximo”, e essa é uma das formas de roubar a alegria dos outros. “Infelizmente, muitas pessoas agem como ladrão de alegria, principalmente nos relacionamentos familiares”, constata.
Para não fazermos isso, é necessário seguir os dois maiores mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. “Quando o Senhor está em primeiro lugar em nossa vida, as prioridades ficam no lugar certo e jamais iremos ferir quem é alvo do amor de Deus. E amar ao próximo como a nós mesmos nos impulsiona a tomar atitudes de preservar uma autoestima equilibrada a nosso respeito e olhar para o outro com amor e consideração, sem ciúmes. Sabemos que o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo seu espírito que nos foi dado”, ensina Yoshida.
“Sejamos como Jesus, não como Satanás. Se alguém nos mostrar algo, e não pudermos elogiar, fiquemos calados, mas não roubemos a alegria dos outros. Deus nos chama para sermos semeadores de alegria”, destaca Hernandes.
Deus sabe dos conflitos que enfrentamos por causa das ações ruins das pessoas. E para esse “ladrão de alegria”, o remédio mais eficaz é o perdão. “Quando não perdoo e guardo mágoa, entrego meu destino na mão de outra pessoa. O perdão é a faxina da mente”, ressalta o pastor Hernandes.
O dinheiro
As pessoas são provocadas pelo dinheiro, um dos mais astutos inimigos da felicidade, e acabam acreditando que o seu valor está no que você tem e não pelo que é. Mas, a realidade é outra.
Pesquisas indicam que o aumento da renda traz satisfação pessoal somente até certo ponto. “Essa pressão constante em superar os outros é uma das razões que propiciam o sentimento de insatisfação e infelicidade. É contraditório, mas aquilo que achamos que nos trará bem-estar acaba por empobrecer ainda mais a nossa vida. Precisamos nos sentir ricos graças às coisas que possuímos, senão nos sentiremos pobres por causa de tudo o que não possuímos”, explica o pastor Paulo Drago, palestrante de temas ligados a dinheiro e bens materiais.
Na Bíblia temos o exemplo de Salomão, que procurou a alegria na bebida, na riqueza, no sexo e na fama. Mas, ele descobriu que “temer a Deus é o princípio da sabedoria”.
“Aumentamos nossa demanda financeira e, muitas vezes, nos endividamos. Passamos, então, a trabalhar mais, a nos preocupar cada vez mais para dar conta de tantas obrigações, e isso nos faz perder qualidade de vida, tira nossa paz, quebra nossos relacionamentos e rouba nossa alegria. Então temos vontade de comprar ainda mais. É um círculo vicioso no qual muitos caem e não conseguem sair”, enfatiza o pastor Drago.
Assim, o segredo para uma vida melhor será um estilo de vida mais simples. A coragem para ser diferente e resistir à pressão do consumo nos traz liberdade e paz.
A ansiedade
Coração acelerado, mãos transpirando, dor de estômago, grave ausência de sono. Todos esses são sintomas do excesso de ansiedade. Uma tensão constante que provoca um forte desejo de sumir.
No grego, o significado original da palavra ansiedade é “rasgar ao meio; puxar em direções opostas; estrangulamento”. O termo tem outras definições: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo.
“Existe a ansiedade natural, que sentimos quando estamos diante de situações ameaçadoras ou estressantes. Contudo, algumas pessoas vivenciam esta reação de forma mais frequente e intensa, que pode ser considerada patológica e comprometer a saúde emocional, como uma antecipação a uma ameaça futura”, explica a psicóloga e psicopedagoga Leila Jane Carvalho Samary. “Por vezes, o paciente sofre com o estado de ansiedade elevada durante algum tempo, com pequenos períodos de melhora”, relata.
Ela destaca que nossa morada é o céu e gastar tempo e energia com pensamentos pessimistas nos faz sentir dores pelo corpo, mal-estar, desânimo e tristeza. Além disso, deixamos de glorificar a Deus com ações simples, mas muito significativas, como ser gentil e cuidadoso com aqueles que moram conosco, amigos, vizinhos e parentes.
“Precisamos aprender a cuidar do outro, a desarmar nossas defesas emocionais. Se tudo é uma ilusão, a ansiedade também é, porque queremos cuidar daquilo que Deus já fez por nós: carregou nossas mazelas, nossos pecados, tudo o que nos afligia. Por isso, nossa alegria jamais deve estar nas coisas terrenas e passageiras, mas no regozijo de que Paulo fala em Tessalonicenses 5:16-18. É a oração constante, com gratidão, fé e humildade”, aponta.
Segundo Leila, em nenhum dos 48 versículos que encontrou na Bíblia sobre alegria mencionava que a fonte da alegria está nas coisas terrenas. Como exemplo, cita Romanos 12:16: “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”. E João finaliza: “Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós e a vossa alegria seja completa. Portanto, devemos manter nossa alegria, paz e contentamento em Cristo. E que nada nos roube esta alegria. Independente de toda e qualquer situação”.
“Cerca de 70% dos assuntos que nos deixam ansiosos nunca irão, de fato, acontecer. Então, ficar ansioso é sofrer duas vezes e desnecessariamente”, completa o pastor Hernandes. A inquietação gera um desassossego que culmina em medo, como se o mundo fosse acabar. Um estado de espírito que altera negativamente a vida das pessoas, afastando-as da realidade e prejudicando os seus relacionamentos.
Atitudes normais, e até desejáveis por alguns, podem transformar a vida do ansioso em um pesadelo. Mudança de emprego, de casa – imagine de casamento, então! – ou qualquer situação que implique alteração da condição atual podem criar um estado de grande ansiedade e agitação. Esse sentimento desagradável pode representar também um perigo à saúde.
A ansiedade trabalha contra nós, e não a nosso favor. Por isso, é pecado de incredulidade, ou seja, de não descansar na presença de Deus.
Qualquer cristão pode ficar ansioso devido às pressões diárias que recebe, como a expectativa de adquirir coisas que não possui ou por decisões que precisa tomar. Mas ninguém precisa permitir que a ansiedade roube o bem-estar constante, tão característico do crente que vive na presença de Jesus, motivo real de sua alegria; porque este comportamento contraria os ensinamentos bíblicos que nos orientam a não nos inquietarmos por coisa alguma (Fil 4:6), destaca Leila.
O que fazer?
Então, você pode perguntar: como combater os ladrões? Vemos uma imensidão de pessoas com os nervos à flor da pele, com a alegria consumida pela expectativa da derrota; outras por sofrimentos do passado, tempestades reais ou imaginárias.
É possível encontrar a cura para este mal numa citação bíblica, em Filipenses 4:6-7. “Não estejais inquietos por coisa alguma, antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus”.
Não existe forma melhor de matar esse e todos os outros ladrões do nosso bem-estar do que estar na presença de Deus, sabendo que “este tempo presente não se compara com a glória que em nós há de ser revelada” e – como Jesus nos ensinou – “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.