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quinta-feira, 9 maio, 2024

Imigração italiana mudou a economia e a cultura do ES

O ano era 1874, quando, a bordo do navio La Sofia, um grupo de quase 400 imigrantes chegou ao porto de Vitória em busca de uma vida nova em terras capixabas

Por Kamila Rangel

Na manhã do dia 17 de fevereiro de 1874, o veleiro La Sofia atracava no porto de Vitória, trazendo para o Espírito Santo o primeiro grande grupo de imigrantes italianos. A Expedição Tabacchi foi um marco para a história capixaba, pois deu início a uma grande transformação na economia e na cultura do Estado.

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Estas poucas palavras resumem bem o que traziam aqueles italianos que, com pertences básicos e cheios de promessas, atravessavam o Oceano Atlântico em busca de uma vida melhor: coragem, sonhos e muita fé. E foi exatamente disso que eles precisaram, quando chegaram aqui e encontraram um destino a ser desbravado.

De acordo com Cilmar Cesconetto, diretor do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees), a bordo do La Sofia vieram 386 camponeses norte-italianos, a maioria da província do Trento, então sob o domínio austríaco, e algumas famílias vênetas, da província de Treviso. Acompanhavam os imigrantes o padre Dom Domenico Martinelli, o médico Pio Limana e o responsável por organizar a viagem, Pietro Casagrande, com a esposa.

A Igreja Matriz de Santa Teresa foi erguida pelos imigrantes italianos inicialmente como uma capela, no local onde oravam para Santa Teresa D’Ávila. A construção atual foi concluída em 1925 e reformada entre 1986 e 1990
A Igreja Matriz de Santa Teresa foi erguida pelos imigrantes italianos inicialmente como uma capela, no local onde oravam para Santa Teresa D’Ávila. A construção atual foi concluída em 1925 e reformada entre 1986 e 1990

“A expedição de 1874 inaugurou a emigração em massa de italianos, um retrato que se configuraria a partir do ano seguinte, tanto no porto de Vitória quanto em outros portos do país. Esse fluxo se estendeu por, praticamente, um século, resultando na vinda de um milhão e meio de imigrantes da Itália para o Brasil.No Estado, entraram 36 mil italianos, em sua maioria camponeses, conforme dados do Projeto Imigrantes Espírito Santo”, contou Cilmar.

A viagem foi batizada como Expedição Tabacchi em homenagem ao seu empreendedor, Pietro Tabacchi, que desde 1850 possuía uma grande propriedade, a Fazenda das Palmas, nos arredores de Santa Cruz, no atual município de Aracruz. Lá, foram demarcados os lotes agrícolas da Colônia Nova Trento, com a qual sonhavam os imigrantes, antes mesmo de partirem da Itália.

As dificuldades que encontraram na região, entretanto, como o difícil acesso, a total ausência de infraestrutura e até uma epidemia que provocou a morte de uma dezena deles, fizeram com que os camponeses exigissem a saída de lá. Aos poucos, as famílias foram tomando novos rumos, indo, inclusive, para outros estados.

Um grupo formado por pelo menos 145 imigrantes que decidiram ficar, seguiu entre os meses de junho e julho, de 1874, para a Colônia de Santa Leopoldina, onde hoje é Santa Teresa, reconhecida, oficialmente, como a primeira cidade do Brasil fundada por italianos.

Talento e garra dos italianos pavimentaram o sucesso do ES

Atualmente, o Espírito Santo tem o maior percentual de descendentes italianos em proporção à população, o que demonstra a dimensão do impacto da imigração na sociedade, na cultura e na economia capixabas.

“Italianos fizeram diferença na economia e na cultura do ES” – Valcemiro Nossa, diretor-presidente da Fucape Business School - Fotos: Divulgação Fucape
“Italianos fizeram diferença na economia e na cultura do ES” – Valcemiro Nossa, diretor-presidente da Fucape Business School – Fotos: Divulgação Fucape

“Desde a agricultura, que foi o setor em que atuaram originalmente, até o desenvolvimento industrial e cultural, são inúmeras as contribuições dos imigrantes italianos para o Espírito Santo. Muitas cidades começaram a se desenvolver graças a eles, a economia se diversificou a partir da vinda e do trabalho deles e importantes empresas capixabas foram fundadas por descendentes de italianos”, destacou Valcemiro Nossa, diretor-presidente da Fucape Business School.

Dentre as organizações que se destacam na economia capixaba e que foram criadas pelas gerações seguintes dos imigrantes destaca-se o Grupo Águia Branca, cujas primeiras sementes foram plantadas por Carlos Chieppe, filho de italianos. Foi ele quem comprou o primeiro ônibus que deu início ao que é hoje um conglomerado de empresas e o maior grupo empresarial familiar do Espírito Santo.

O mesmo sobrenome está na certidão de nascimento dos fundadores da Autoglass, que tem na origem o comércio de vidros e peças automotivas. Criada na década de1960, a empresa tem hoje mais de 75 lojas próprias no Brasil e na Colômbia. No setor supermercadista, vale destacar a presença italiana através da família Devens, em Aracruz, e Calvi, em Cariacica.

A presença dos italianos e seus descendentes na economia capixaba é tão forte, diversificada e extensa que a lista desses nomes não caberia nas páginas desta revista.

A influência da imigração sobre a cultura e sobre o turismo no Espírito Santo também merece destaque. Diversas cidades atraem visitantes, por serem, aqui, um pedacinho da Itália. Em vários municípios do Estado, festividades são realizadas para celebrar e preservar os costumes. Isso sem falar na culinária, uma herança que deixa essa história ainda mais gostosa de contar, literalmente.

Festa da Polenta é tradição em Venda Nova do Imigrante, cidade colonizada por italianos - Foto: Prefeitura Municipal de Santa Tereza
Festa da Polenta é tradição em Venda Nova do Imigrante, cidade colonizada por italianos – Foto: Prefeitura Municipal de Santa Tereza

Santa Teresa, a cidade mais italiana do Estado, é conhecida pela gastronomia de primeira, pelos ótimos vinhos e pelos biscoitos artesanais, além de manter enraizadas as tradições italianas, com destaque para a realização da Carretela del Vin, em que as famílias de imigrantes desfilam pela cidade em carros decorados e vestidos em trajes típicos, celebrando suas origens e relembrando suas histórias familiares.

Venda Nova do Imigrante, colonizada basicamente por italianos, é reconhecida por lei como a Capital Nacional do Agroturismo e promove uma das festas mais conhecidas do Espírito Santo, a Festa da Polenta, que faz referência, inclusive, a um dos pratos mais típicos da culinária italiana e que hoje já é tradicional na mesa dos capixabas.

Assim, o ano de 1874 é um importante marco da história local, pois deu início a uma transformação que mudou a trajetória do Espírito Santo e impactou o desenvolvimento do Estado de forma positiva, reverberando até hoje. A vinda dos italianos para cá merece ser lembrada, celebrada e comemorada!

Família de Zandonadi Pio e Venturin Matilde. Umas das famílias que colonizaram Venda Nova do imigrante - Foto: Acervo famíliar
Família de Zandonadi Pio e Venturin Matilde. Umas das famílias que colonizaram Venda Nova do imigrante – Foto: Acervo famíliar

Curiosidades

O início do desembarque das famílias da Expedição Tabacchi em solo capixaba se deu em 21 de fevereiro, quatro dias após a chegada do La Sofia ao porto de Vitória.

É por isso que essa foi a data escolhida para celebrar o Dia Nacional do Imigrante Italiano, conforme a Lei Federal nº 11.687, de 2 de junho de 2008, criada pelo então senador Gerson Camata, já falecido.

Curiosidades II

O site ateneoidiomas.com.br listou as 14 palavras de origem italiana mais usadas em Português. A primeira da lista, como não podia deixar de ser, é pizza. Depois vêm, na sequência: Carnaval (quem diria?), cappuccino, mortadela (a palavra, assim como o alimento, também são ‘imigrantes italianos’), macarrão, maestro, trêmulo, sonata, alarme, artesão, poltrona, risoto, palhaço e pastel. ES Brasil acrescentou à lista a palavra fascismo, que anda muito em voga nos últimos tempos.

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