Você não precisa viver com dor de cabeça. Procure um profissional, identifique o seu tipo de dor e ganhe em qualidade de vida
Todas as pessoas sentirão, pelo menos uma vez em algum momento da vida, a dor de cabeça, ou cefaléia. Existem, de acordo com a classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia, quase 200 diferentes tipos de dor de cabeça, que está dividida em dois grupos: primárias e secundárias. Enquanto a cefaleia tensional e a enxaqueca são as mais freqüentes e estão no primeiro grupo, as secundárias são causadas por alguma doença que gera o sintoma.
De acordo com o clínico Geraldo Andrade, as dores de cabeça estão entre os problemas de saúde mais comuns. “Segundo dados médicos em todo o mundo, 40% das pessoas sofrem pelo menos de uma dor aguda na região por ano. As causas podem estar na ingestão de álcool e alimentos, outros problemas de saúde e principalmente em momentos de tensão, já que 90% dos casos esporádicos resultam de estresse. A dor não está no cérebro. O desconforto pode atingir qualquer parte da cabeça, desde a pele, músculos, veias, dentes e terminações nervosas. Por isso que muitas vezes não são necessários exames de imagem como (RX, tomografias ou ressonância nuclear magnética)”, falou.
O neurologista Marcos Roberto Reis dos Santos, explica a diferença entre as dores primárias mais comuns. “Existem vários dores de cabeça, mas em 90% dos casos podemos classificar como dor tensional e enxaqueca. A dor de cabeça tensional normalmente envolve a cabeça toda, é contínua, envolve mais a parte dos músculos temporais. Já a enxaqueca é unilateral, latejante – ou seja, a pessoa sente a cabeça pulsar – e é acompanhada de náuseas, fono e fotofobia. Então o paciente, durante uma crise de enxaqueca, normalmente procura lugares calmos, sem luz ou barulho. Enquanto a tensional melhora rápido, a enxaqueca pode durar horas ou até dias”, falou.
Ao sentir uma dor de cabeça constantemente, a primeira coisa que o paciente precisa fazer é procurar um médico especializado e diagnosticar o tipo e as causas. “Em 99% dos casos, as dores de cabeça são benignas, mas existem aquelas que são causadas, por exemplo, por um tumor, um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Logo, se a pessoa sente uma dor de cabeça persistente ou diferente, deve procurar um profissional, no caso um neurologista. Apenas ele identificará o tipo de dor de cabeça e poderá iniciar o tratamento”, disse o neurologista.
As crises de enxaqueca podem ser desencadeadas em algumas pessoas por fatores como emoções, determinados alimentos, mudanças no horário de alimentação ou sono, exposição a calor excessivo, entre outras.
A hora da entrevista
Para apontar o tipo de dor e fazer o acompanhamento, o médico realiza uma entrevista com o seu paciente. É a chamada anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória). “O médico irá buscar os detalhes para entender a origem, gravidade e classificação da dor de cabeça. Por isso, é de fundamental importância informar os medicamentos já tomados, o tempo que iniciou as crises, de quanto em quanto tempo vem a doença e relação das dores com algum tipo de alimentos ou período hormonal.”, destacou o dr. Geraldo Andrade.
Para o neurologista Marcos Roberto, a anamnese é importante também para identificar se o que o paciente está sentindo é uma dor do tipo primária, ou algo mais sério. “Normalmente, o primeiro sintoma de um tumor é a dor de cabeça. O especialista, através das perguntas e do aspecto da dor, poderá pedir um exame, uma tomografia, uma ressonância, para descartar, ou não, essa possibilidade”, falou.
A dor de cabeça não tem cura, mas procurando tratamento especializado, o paciente ganha em qualidade de vida. “O tratamento se baseia na observação de quantas vezes a pessoa tem dor de cabeça em um mês. Se a dor aparece duas ou três vezes nesse período é um tratamento. No entanto, se a dor aparece mais de três vezes em um mês, o tratamento é diferenciado e prolongado. Se a pessoa não tratar, a tendência é só piorar. Fazendo o tratamento, o paciente terá uma vida relativamente normal. Com medicamentos e acompanhamento, conseguimos reduzir em 70% ou 80% da dor”, frisou dr. Marcos, que alertou apenas para o cuidado que se deve ter para não fazer uso da auto-medicação. “Tem remédios específicos para dor de cabeça, o problema é que muita gente tem dor de cabeça crônica por uso incorreto do remédio. A pessoa está habituada a pegar com o balconista da farmácia e tomar por conta própria. Isso não é bom, a dor vai piorar”, disse.
No caso dos agentes farmacológicos usados para o tratamento da enxaqueca, podem ser classificados como abortivo (por exemplo, para aliviar a fase aguda) ou profilático (por exemplo, para evitar as crises). “Várias novidades e avanços foram descobertos nos últimos anos. Mas o acompanhamento adequado (consultas regulares, seguir as orientações médicas, mudanças do hábito de vida e da má alimentação) é de fundamental importância no tratamento”, completou o Dr. Geraldo.
Uma vida mais saudável
Para quem resolveu seguir a recomendação de não negligenciar a dor de cabeça, a sensação é mesmo de reconquistar a qualidade de vida. É o que pensa o técnico em segurança, Filipe Falcão. “As minhas dores de cabeça foram diagnosticadas por ter familiares com o mesmo. Já perdi provas e muitos dias de trabalho por ‘ajuda’ da enxaqueca. Muitas pessoas não acreditavam quando eu dizia, por não saberem o que nós passamos quando temos. Geralmente a enxaqueca está associada ao estresse no trabalho, aos intensos estudos. Eu dou muito valor a dieta diária que faço, procuro não comer alimentos gordurosos e de procedência desconhecida, em casa tento beber bastante água e comer frutas e verduras, procuro também dormir pelo menos 8 horas por dia e fazer exercícios diariamente”, disse.
O auxiliar jurídico Tiago Honorato de Castro Ramos começou a sentir os efeitos da enxaqueca por conta de fatores como excesso de peso e má alimentação, unidos ao estresse do dia a dia. Hoje ao tratar da pressão e da alimentação, teve melhora também nas dores de cabeça. “A dor constante afeta no humor e começou a me prejudicar no trabalho, e a partir dai que procurei tratamento. Primeiro, estou cuidando da minha alimentação e procurando ter uma condição de vida mais saudável. No meu caso a busca de profissional foi deixada por último por pensar se tratar ‘apenas’ de uma dor de cabeça constante. Porém, tal comportamento foi errado, pois a enxaqueca pode ser sintoma de outras enfermidades mais sérias. A ajuda profissional deve ser buscada logo de início, o que ajuda muito no tratamento”, alertou.
A batalha contra a dor de cabeça e a enxaqueca precisa mesclar a química dos medicamentos com uma atitude do paciente quanto a hábitos saudáveis. Dessa forma, essa temível dor é encarada como um incêndio: quanto mais cedo acontecer o combate, melhor.
“Fazendo o tratamento, o paciente terá uma vida relativamente normal. Com medicamentos e acompanhamento, conseguimos reduzir em 70% ou 80% da dor”. Marcos Roberto Reis dos Santos, neurologista.
“A anamnese é super importante. Os pacientes diagnosticados com enxaqueca têm várias ‘regrinhas’ para seguir”. Filipe Falcão, técnico em segurança.