ESG: entenda como essas três letras estão mudando o mundo corporativo

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No Espírito Santo, empresas reformulam ações para se adequar aos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) preconizados pela agenda

Por Marcelo Rosa

Até um passado bem recente, talvez ninguém pudesse imaginar que o mercado registrasse uma verdadeira revolução, motivada por três letras: ESG, uma sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance, traduzida para português como ASG (Ambiental, Social e Governança), e que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.

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Especialistas esclarecem que os critérios ESG estão diretamente relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo Pacto Global, iniciativa mundial que envolve a ONU e várias entidades internacionais. Mas, por que será que o tema se tornou tão importante para o mercado? Que benefícios traz para empresas, consumidores, enfim, para a sociedade?

Longe de qualquer nível de exagero, numa analogia, no mínimo, plausível, o ESG exige do mercado o mesmo que o avanço tecnológico impõe sobre a mão de obra, ou seja: quem não segue o fluxo está fora. No caso específico do Espírito Santo, pela condição de estado mais globalizado do Brasil, os conceitos de “ambiental, social e governança” tiveram que entrar, quase que de forma obrigatória, nas agendas dos CEOs, por conta de exigências do mercado internacional – sobretudo, pelas empresas dos países para os quais o Espírito Santo exporta.

Na indústria, inovação

A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) tem plena convicção dessa realidade. No entendimento de Paulo Cezar Silva, consultor especialista da agenda ESG, na entidade, “as diretrizes têm influenciado cada vez mais, não só a indústria, mas toda e qualquer atividade empresarial. Em primeiro lugar, porque os agentes do sistema financeiro têm, cada vez mais, exigido a demonstração da responsabilidade no trato das questões sociais, ambientais e de governança, como forma de mitigar riscos ao capital. Também os consumidores finais estão cada vez mais conscientes e exigindo um padrão mais alto de responsabilidade socioambiental nos produtos e serviços consumidos”.

Ele destaca que, “nos ambientes de trabalho, o que se observa é que esses mesmos cidadãos, especialmente os mais jovens, têm buscado trabalhar em organizações que também estejam alinhadas a esses valores. E, como consequência de todo esse engajamento, as grandes corporações têm implementado uma estratégia de atuação e demonstração de sua reponsabilidade com essa agenda, o que inclui o crescente nível de exigência junto à cadeia de fornecedores, fazendo com que os conceitos e práticas da agenda possam alcançar toda a cadeia de atividades de fornecimento”.

Paulo Cezar Silva orienta que, nas organizações que já iniciaram a jornada de implementação de uma agenda ESG, a principal medida consiste na estruturação de uma governança que permita enxergar a relevância de gerenciar os temas ambientais, sociais e de governança que possam impactar a perenidade do negócio. “Não só para mitigar riscos relacionados ao tema, mas, também, fazer dessa gestão uma forma de geração de valor que possibilite a sustentabilidade da organização, não só no curto, mas também no médio e longo prazos. Uma governança que permita compatibilizar a geração de resultado econômico positivo com equilíbrio ambiental e distribuição justa das riquezas geradas”, analisa o especialista da Findes.

ESG: entenda como essas três letras estão mudando o mundo corporativoEm busca do equilíbrio

Segundo Paulo Cezar Silva, o caminho para que essas mesmas empresas mantenham em harmonia a relação ambiental, social e governança “passa pela busca do equilíbrio, principalmente, na definição da alocação do capital da empresa, internalizando no processo decisório de alocação dos recursos financeiros requisitos da agenda ESG”.

Nesse sentido, o consultor lembra que, para o ambiente de negócios como um todo, “o setor[(industrial] tem buscado ampliar a oferta de conteúdo, informação e formação que possibilite às lideranças empresariais compreender mais profundamente o que é essa agenda, quais são os temas relevantes a ela relacionados, quais os riscos e oportunidades envolvidos e de que forma estratégias ESG podem contribuir para a geração de valor nas organizações, integrando as dimensões ambiental, social e de governança com a dimensão financeira”.

Em termos de expectativa em torno da agenda, Paulo Cezar Silva reforça que “a demonstração de reponsabilidade com a pauta ESG será um requisito incorporado ao conceito da qualidade dos produtos e serviços, passando a ser um elemento cada vez mais relevante a ser considerado na escolha de produtos e serviços, seja pelos cidadãos, seja por outras empresas”.

Saiba mais:

A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, no ano 2000, um desafio às empresas de todo o mundo, denominado Pacto Global. O objetivo era enfrentar problemas sociais em escala mundial, por meio de estratégias e ações empresariais alinhadas aos 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Para a ONU, essa era a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, distribuídos em 69 redes locais, abrangendo 160 países.

O nascimento oficial do ESG se deu no ano de 2004, quando o Pacto Global da ONU com o Banco Mundial, lançou o documento Who Cares Wins (Quem se Importa Vence), feito para provocar as 50 principais instituições financeiras do mundo sobre como integrar as dimensões ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais, servindo de estímulo para as empresas adotarem medidas que gerassem impactos positivos e ampliassem a visão sobre a sustentabilidade.

Em outros termos, ESG é uma forma de se referir às práticas adotadas pelas empresas para minimizarem os seus impactos ambientais, para construir relações sociais mais justas com seus colaboradores e com a sociedade, bem como para melhorar as práticas de governança pautando-as por uma postura ética e responsável.

Convém ressaltar, no entanto, que o G (Governança) não se refere somente à ética nos negócios, que inclui o combate às práticas de corrupção, assédios sexual e moral e racismo, entre outros, mas também da incorporação às demais áreas da abordagem ESG à estratégia das organizações.

No mercado de capitais, a sigla ESG é utilizada por investidores para identificar empresas que orientam a sua estratégia de negócio por critérios de sustentabilidade, que ao serem medidos possam revelar impactos sociais, ambientais e de governança corporativa cada vez mais positivos.

*Matéria publicada originalmente na edição 215 da revista ES Brasil, em agosto de 2023.