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sexta-feira, 26 abril, 2024

ESG: revolução no mercado de capitais

Em até 03 anos, o conceito promete impactar os resultados financeiros de grandes corporações

Por Amanda Amaral

Você sabe o que é o conceito Environmental, Social and Governance, o ESG? De acordo com especialistas, a sigla promete uma revolução no mercado de investimentos daqui a cerca de três anos com a criação de uma norma global de sustentabilidade, impactando os resultados financeiros das corporações.

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Na tradução, EGS significa ambiental, social e governança, e representa um modelo de gestão em que os três pilares são considerados. Com a rentabilidade financeira sendo atrelada cada vez mais ao conceito, investidores cobram uma aferição mais precisa de sua aplicação com o intuito de evitar riscos e melhor alocar seus recursos.

“Da Geração Millenium em diante, devido ao choque climático que o mundo está passando, observamos um maior grau de conscientização das pessoas, que começaram a demandar das empresas que elas não degradem o meio ambiente, mas também devolvam valor à sociedade, e que tenham uma estrutura de governança com inclusão e diversidade”, analisou o Doutor em Ciências Contábeis e Administração, o professor da Fucape, Poliano Bastos da Cruz.

Comportamento do consumidor

Para ele, dois comportamentos têm assustado as organizações. O primeiro deles do ponto de vista da mão de obra. “Profissionais mais qualificados já se recusam a atuar em empresas que não são ESG e, buscam mais do que uma carreira, mas um propósito dentro da organização, ou seja, há risco de perda de capital humano”, afirmou.

O segundo aspecto está relacionado ao consumo, já que de acordo com o Poliano da Cruz, até o ano de 2035, essas gerações vão herdar globalmente cerca de US$ 30 a US$ 35 trilhões, e vão alocar esses investimentos em empresas ESG.

“Se a empresa não está em conformidade, não receberá a grana dessa galera. É um movimento de mercado por culpa da ineficiência de ações anteriores, principalmente ambientais. Em 2032, eles serão dois terços da força de trabalho no mundo, herdarão uma fortuna, e querem dar sentido a isso para a continuidade da vida no planeta”, complementou.

Normatização do ESG

Após a realização da COP-26, em Glasgow, a International Financial Reporting Standards (IRFS), responsável pelas normas internacionais de contabilidade, inclusive adotadas pelo Brasil, criou o International Sustainability Standards Board (ISSB), que anunciou, em fevereiro deste ano, que divulgará em breve textos técnicos sobre a normatização do ESG.

“Em outubro, haverá um congresso em Nova York, EUA, exatamente para esta discussão. O que está estabelecido em calendário – não que isso seja imutável, é que esse debate deve ser fechado ainda este ano com uma proposta de indicador pelo ISSB. Eles estão realizando discussões amplas, inclusive com países orientais, ou seja, é de fato uma discussão mundial”, explicou a Mestre em Economia e professora da UVV, Adriana Rigoni.

No Brasil, essa padronização é acompanhada pelo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), criado pelo Conselho Federal de Contabilidade.

“Em termos práticos, após a publicação do ISSB esse ano, o Comitê irá adaptá-la ao contexto brasileiro e a expectativa é que, em 2023, tenhamos uma norma contábil para que empresas com ações na bolsa comecem a declarar as suas iniciativas de sustentabilidade de forma mais estruturada”, acrescentou Poliano da Cruz.

É esperado que nos próximos anos o ESG provoque grandes transformações no mercado financeiro e de consumo. “Acredito que em dois ou três anos, já veremos mudanças mais drásticas por parte dos consumidores”, afirmou.

Inovação e Tecnologia

Neste processo, a tecnologia se apresenta como uma aliada das organizações que necessitam buscar soluções para adequar seus processos produtivos.

“Os consumidores querem produtos mais baratos, com qualidade e toda a agenda ESG incluída gerando valor.

A única forma de uma empresa conseguir isso é avançando em tecnologia. Um grande exemplo é a Tesla, do Elon Musk”, disse o professor da Fucape.

Para a professora da UVV, a normatização não é algo que vá atrapalhar a empresa, mas criar oportunidades.

“Hoje, se fala em inovação aberta, em que a empresa desenvolve um projeto junto com a academia. As maiores inovações estão ligadas à governança, primeiro porque não se desconsidera mais a questão ambiental, em segundo porque sabemos que não dá para escalar sem pensar na sociedade. A maioria dos projetos de inovação hoje já nascem com essa perspectiva”, comentou Adriana Rigoni.

A professora da UVV Adriana Rigoni destaca a inovação aberta. - Foto: Divulgação
A professora da UVV Adriana Rigoni destaca a inovação aberta. – Foto: Divulgação

PARCERIA COM STARTUPS

Por meio de um programa de inovação digital, o INO.VC, a ArcelorMittal apoia startups como a Aratu na busca por soluções em monitoramento de áreas hídricas, segundo o gerente geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da empresa, João Bosco Reis da Silva.

A companhia também foi a primeira planta industrial nas Américas a obter a certificação de sustentabilidade das suas operações pelos padrões da ResponsibleSteel™️.

“A sustentabilidade é um dos quatro valores norteadores da ArcelorMittal, além de segurança, qualidade e liderança. O ESG, em nosso entendimento, é uma forma de materializar o desempenho e as ações da empresa reportando isso ao mercado e a sociedade, mas a sustentabilidade é um valor da companhia e perpassa por toda a sua organização”, afirma.

Segurança hídrica

No ano passado, a empresa inaugurou no Espírito Santo uma planta de dessalinização de água do mar para fins industriais. Um investimento de R$ 50 milhões, com objetivo de substituir parte do volume consumido do Rio Santa Maria da Vitória, ofertando maior disponibilidade hídrica para a sociedade.

A ArcelorMittal também atua em outra frente com a “produção” de água por meio da proteção das nascentes do manancial. Desde a crise hídrica no Espírito Santo, em 2014, a companhia reduziu o uso do recurso em suas instalações.

“Se não entendêssemos a sustentabilidade de forma holística, seria apenas o racionamento. Mas nós fazemos parte da sociedade, trabalhamos e moramos aqui, então a empresa acreditou que precisava deixar de captar e também aumentar a produção de água”, esclareceu.

Empoderamento feminino

Dentro da agenda Social do ESG, a ArcelorMittal também apoia iniciativas de combate à violência contra as mulheres e possui projetos em escolas da rede pública visando garantir a educação e formação profissional, segundo João Bosco.

Foto: Joao Bosco
Foto: Divulgação/ Joao Bosco Gerente da ArcelorMittal

Para ele, a companhia também estimula esse tipo de competência ao patrocinar a atleta de bodyboarding, Neymara Carvalho.

“Ela atua sobre a questão ambiental, pois está conectada a preservação dos mares e oceanos. É uma mulher de 46 anos em um esporte de alto desempenho. Através de sua ambição de se tornar heptacampeã mundial, inspira outras mulheres a acreditarem que também podem chegar longe, principalmente entre as vítimas de violência doméstica. Além disso, Neymara inspira as novas gerações”, afirmou.

Redução das emissões

Já a EDP Escelsa foi a primeira em seu setor de atuação, na América Latina, a ter a meta de redução de CO2 aprovada pela Science Based Targets (SBTi), iniciativa alinhada com o que a ciência climática considera necessário para limitar o aquecimento do planeta a 1.5°C acima dos níveis pré-industriais.

“Isso significa que a redução da EDP é proporcional ao peso que temos para o planeta. Demonstra a seriedade com a qual encaramos a missão de reduzir as emissões. Trazer a ciência climática para a formulação de metas e tomadas de decisões reflete também a maturidade da EDP. É preciso perceber que existe um teto ecológico que precisa ser respeitado para manter a sociedade em um espaço justo e seguro”, explica o diretor de ESG da EDP no Brasil, Dominic Schmal.

Dominic Schmal, diretor de ESG da EDP, afirma que a empresa trata com seriedade a redução de emissões. - Foto: Divulgação Assessoria de imprensa
Dominic Schmal, diretor de ESG da EDP, afirma que a empresa trata com seriedade a redução de emissões. – Foto: Divulgação Assessoria de imprensa

O compromisso da empresa é de, até 2032, reduzir em 85% as emissões de CO² face a 2017, deixando de produzir aproximadamente oito milhões de toneladas desses gases em termos absolutos até o final do período, conforme destacou o executivo.

Matriz de energia renovável

“Para isso, estamos investindo em uma matriz de geração de energia 100% renovável e na eletrificação da nossa frota de veículos leves no Brasil, fomentando a compra e venda de energia renovável por meio de nosso portfólio; e reduzindo as perdas técnicas e comerciais na distribuição”, disse.

Remuneração variável

Com relação à agenda de Governança, a Suzano selecionou áreas estratégicas da empresa para liderar o processo de educação interna quanto às práticas de ESG, analisando a preparação de lideranças, instituindo a Diretoria de Sustentabilidade e criando instrumentos que garantissem a disseminação do conceito na empresa.

“Entre os instrumentos que valem ser citados, está a remuneração variável de executivos de todas as áreas vinculadas a metas de sustentabilidade. Outro ponto importante é que estas lideranças também têm metas de diversidade e inclusão de gênero, raça, de pessoas com deficiência e de qualquer outro nível do processo de inclusão. Isso ajuda muito a criar um fluxo de resultados rápidos e de proposição de práticas vinculadas a sustentabilidade”, explicou o coordenador de Desenvolvimento Social da Suzano, Douglas Peixoto.

Comitê externo

A Governança Interna também está alinhada a um Comitê Externo de Sustentabilidade, que acompanha os processos decisórios e avalia as ações da empresa. Há ainda os relatórios e indicadores, em que a Suzano é signatária, e compartilha com as partes interessadas nesse processo de avaliação, segundo o coordenador da companhia.

“Quando surgiu essa nova forma de divulgar as ações a partir do ESG, a Suzano passou a estruturar suas estratégias de comunicação, mas as práticas, o monitoramento, a governança estabelecida para o diálogo interno e com a sociedade, o fomento de práticas internas para que não ficassem somente na Diretoria de Sustentabilidade, as metas compartilhadas, tudo isso já havia sido implantado na empresa há bastante tempo”, concluiu Douglas Peixoto.

Fonte: Pacto Global da ONU no Brasil e pesquisa pela ES Brasil.

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